A relevância natural e cultural do Parque Nacional da Peneda-Gerês

Não se entende como os socalcos do vale do Douro são Património da Humanidade e os socalcos da paisagem de bocage não o são, quando são de elevada biodiversidade e testemunho da vida rural, anterior à agricultura mecanizada. O Parque Nacional Peneda-Gerês celebra este domingo 51 anos de área protegida, a primeira no país.

O Parque Nacional da Peneda-Gerês engloba extensas manchas de granito, com pequenas faixas xistosas, de grande parte das serras da Peneda, do Soajo, da Amarela e do Gerês, com alguns dos pontos mais altos do continente português: Giestoso (1337 m), Outeiro Alvo (1314 m), Pedrada (1416 m), Louriça (1355 m), Borrageiro(1433 m), Nevosa (1545 m), Cornos da Fonte Fria (1456 m).

Os aspectos dominantes que caracterizam a morfologia da área são essencialmente condicionados pelas estruturas geológicas, pelas consequências da sua meteorização e pelos efeitos da glaciação do Würm. Os efeitos desta glaciação (circos glaciares, moreias, rochas aborregadas, etc.) podem observar-se nos pontos elevados das serras da Peneda, do Soajo e do Gerês, nos quais existiram glaciares nas cabeceiras de alguns rios (Vez, Homem, Couce-Coucelinho).

A constituição geológica do solo, a variedade de microclimas e a humanização da região conferiram-lhe características muito particulares. O Parque Nacional é ainda uma das raras regiões do Norte de Portugal onde se podem encontrar grandes extensões de carvalhais [Quercus robur (carvalho-alvarinho) e Quercus pyrenaica (carvalho-negral)], embora muito alterados por acção antrópica.

Na verdade, as condições edafo-climáticas e altimétricas existentes permitem que aqui se encontrem espécies que variam desde as das regiões mediterrânicas [ex.: o sobreiro (Quercus suber) e o medronheiro (Arbutus unedo)] e subtropicais [ex.: o loureiro (Laurus nobilis) e o azereiro (Prunus lusitanica)] até às das euro-siberianas e alpinas [ex.: o pinheiro-de-casquinha (Pinus sylvestris) e o teixo (Taxus baccata).

Dos bosques climácicos destacam-se a Mata do Ramiscalna serra da Peneda, com azevinhos (Ilex aquifolium) de grande porte; a Mata do Cabril na serra Amarela; a Mata de Albergaria e o Beredo na serra do Gerês e o rio Mau na região da Mourela. Entre as espécies lenhosas mais importantes associadas aos carvalhais, estão o azevinho (Ilex aquifolium), a torga-arbórea (Erica arborea), o medronheiro (Arbutus unedo) e o ameiro-negro (Frangulaalnus).

Acima dos 900 metros ocorre também o vidoeiro, Betulapubescens, espécie já característica da zona euro-siberiana, tal como o pinheiro-de-casquinha, Pinus sylvestris, e o teixo, Taxusbaccata, localizados em altitude, nos vales mais húmidos e abrigados. De entre as espécies alpinas destacam-se o zimbro, Juniperus communis subsp. alpina, Minuartia recurva e Armeriahumilis subsp. humilis.

Cabras selvagens no Parque Nacional da Peneda Gerês.

O carácter fitogeográfíco do Parque Nacional da Peneda-Gerês é-lhe conferido por elementos euro-siberiano-boreo-americanos (subelementos centro-europeus 40%; subelementos atlânticos 23%; espécies mediterrânico-atlânticas 11%); elementos mediterrânicos (espécies submediterrânicas 6%); endemismos (locais e hispano-lusitanicos 20%).

O número de endemismos é notável; ele envolve, além de orófitos locais, outras espécies, uma grande parte das quais apresenta na Península Ibérica, sobretudo na sua parte setentrional, carácter também montano. Das plantas do Parque, 19 espécies são raras, 2 são vulneráveis [o teixo (Taxus baccata L.) e o lírio-do-Gerês (Iris boissieri)], duas estão em perigo de extinção [o pinheiro-de-casquinha, (Pinus sylvestris)] e o Narcissus asturiensis]. A zona média, entre os 1200 e 1400 m, é caracterizada pelo predomínio dos arbustos e de algumas árvores como o teixo (Taxus baccata).

Uma das particularidades do Gerês é podermos encontrar, em zona relativamente pouco extensa, bosques mediterrânicos, como o Sobreiral da Malhadoura, bosques caracteristicamente atlânticos como a Mata de Bouça da Mó e a Mata de Albergaria, e vestígios de flora alpina, como a Thymelaea broteriana e Armeria humilis, em Carris.

Para além de todas as espécies citadas muitas outras existem. Uma dentre elas merece referência especial, pela sua raridade, pois é um endemismo geresiano: o lírio-do-Gerês, íris boissieri Henriq.

O Parque Nacional da Peneda-Gerês não é apenas floristicamente importante; é-o também sob o ponto de vista zoológico. Tanto assim que possui áreas classificadas como Reservas Biogenéticas do Conselho da Europa, como 1650 ha. da Mata de Albergaria.

Infelizmente alguns animais estão já extintos, como o urso-pardo (Ursus arctos) desaparecido há cerca de […]

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