Entrevistámos Pedro Martins, Portugal Seeds Sales Manager na Syngenta, que revela a forte aposta da companhia na investigação e desenvolvimento de sementes de milho, girassol e cevada híbrida.
MaxiMaize, uma tecnologia que combina vários híbridos de milho num único saco de semente, e as novas variedades de girassol resistentes às sulfoniluréias são duas das inovações da Syngenta para ajudar os agricultores a obter maior rentabilidade no campo.
Quais são os principais desafios atuais dos produtores de milho?
Um dos desafios atuais dos agricultores em geral prende-se com a subida do preço das matérias-primas e a dificuldade em melhorar a valorização do produto final. Por esta razão, os agricultores têm de ser cada vez mais profissionais na sua atividade, munindo-se de bom aconselhamento técnico e de ferramentais digitais de apoio à decisão, visando a melhoria do rendimento das suas explorações. A atual conjuntura de preços altos dos cereais é positiva para os produtores de milho grão, mas penaliza os produtores de leite pelo custo elevado das rações, que contribui para reduzir ainda mais as margens de rentabilidade do leite. Por outro lado, e infelizmente, o consumo do leite tem vindo a baixar, o que exige uma forte aposta em marketing para reverter esta situação, tanto da parte da indústria como dos produtores de leite. O leite é um alimento bom e barato. No meu agregado familiar somos cinco pessoas e bebemos quase dois litros de leite por dia, por um euro!
«O leite é um alimento bom e barato»
A genética, e em concreto as variedades de milho Syngenta, podem ajudar a melhorar a rentabilidade dos produtores de milho?
Quando eu comecei a trabalhar em milho, há 20 anos, os tetos produtivos não chegavam nem perto das atuais 20 toneladas/hectare. Desde então, a genética e o maneio da cultura melhoraram imenso e há mais partilha de informação. O ADN da Syngenta é a Investigação, na companhia investimos muito dinheiro na I&D de variedades de milho diferenciadoras em termos de produtividade e de sanidade. Este ano, por exemplo, lançámos o MaxiMaize 730, uma solução para milho silagem e, aqui na Agroglobal, recebemos a visita de diversos produtores que nos confirmaram que estão muito satisfeitos com esta solução.
O MaxiMaize 730 é uma mistura de três variedades de milho. Que vantagens traz para os produtores?
Sim o MaxiMaize730 é uma mistura de três variedade de milho de ciclo FAO 600, com genética de topo: SY Hydro, SY Fuerza e SY Bambus. A vantagem das misturas MaxiMaize é que combinam diferentes características das genéticas que defendem melhor o agricultor contra alguns problemas no campo. Para dar um exemplo, este ano um produtor de milho de Vila do Conde semeou uma parcela só com SY Hydro e outra com a mistura MaxiMaize 730 e verificou que este segundo campo de milho tolerou muito melhor aos ataques de helmintosporiose. Isto porque na mistura MaxiMaize duas das variedades – SY Fuerza e SY Bambus – são mais tolerantes a esta doença do que o SY Hydro isoladamente. Quando me perguntam se semear uma única variedade é preferível, eu respondo que sim, caso o ano agrícola seja favorável às características dessa variedade, mas quantos anos desses é que nós temos?. O MaxiMaize 730 funciona como uma espécie de seguro, as três variedades em conjunto “defendem” melhor a cultura dos vários fenómenos de stress biótico e abiótico ao longo da campanha, seja ferrugem, um golpe de calor ou outro problema.
«O MaxiMaize 730 funciona como uma espécie de seguro para o agricultor»
Outra das vantagens do MaxiMaize 730 é que uma das três variedades que o compõem tem um ciclo um pouco mais longo, com floração mais tardia, de até 5 dias. Em anos com algum golpe de calor ou stress hídrico durante a floração, ter uma parcela com uma floração com 12 dias, e não com 7 ou 10 dias, é uma vantagem, porque a probabilidade de uma melhor fecundação aumenta. E isto também se reflete numa janela de colheita mais ampla, uma vez que aumenta o intervalo de colheita. Uma das preocupações que tinhamos, era de como essa diferença se manifestaria na qualidade da silagem, mas a verdade é que no ano passado quando procedemos às colheitas e às análises das amostras a pequena diferença na percentagem de matéria seca não se notou no global da colheita.
Qual é a tendência atual do mercado do milho em termos de ciclos FAO?
Nos últimos anos temos visto que o mercado aponta para uma descida no ciclo FAO, mas parece-me que o importante é que a variedade seja escolhida em função da integral térmica de cada região. Em geral, para obter mais toneladas de milho por hectare deve optar-se por um ciclo FAO maior, porque são plantas mais robustas, com maior capacidade fotossintética e maçarocas maiores. Outra das formas, na teoria, é aumentar o número de plantas por hectare e antecipar a sementeira.
O meu conselho é que os agricultores usem de preferência variedades que demonstrem estabilidade produtiva na sua região e que usem uma pequena parte da exploração para testar nova genética. Por exemplo, na minha zona de origem, o Minho, o SY Hydro tem nove anos de resultados bons e estáveis.
A Syngenta desenvolveu variedades de cevada híbrida – a tecnologia Hyvido. A cevada é uma boa opção para misturas forrageiras de Inverno?
As forragens de Inverno, ou “silagens de erva”, sempre foram vistas pelos produtores de leite como um complemento ao milho. O que se designa de “erva” podem ser gramíneas como cevada, triticale, azevém, centeio ou leguminosas. Este é um mercado onde os agricultores têm muito por onde evoluir. Se no milho falamos de ciclos FAO, nas forragens os produtores semeiam sem grande critério e quando emparelham um azevém com um triticale, cevada ou uma aveia usam ciclos completamente dispares, o resultado é que vemos parcelas com plantas já espigadas e outras bastante atrasadas.
A Syngenta desenvolveu as cevadas híbridas Hyvido, que têm uma sanidade muito maior e uma capacidade produtiva superior em determinados ambientes. Estas cevadas são uma mais-valia pelo seu maior rendimento e precocidade, permitem antecipar a colheita da forragem em uma a duas semanas e, assim, semear o milho mais cedo. No Entre Douro e Minho, comprovámos que a cevada Hyvido semeada no final de outubro, ou mesmo em novembro, está pronta a colher no final de março ou início de abril. Nesta região, a forragem faz-se maioritariamente para obter proteína para as vacas e, nesse sentido, uma solução pode ser a sementeira de cevada em complemento com uma leguminosa. Aconselho os agricultores portugueses a experimentarem as cevadas Hyvido.
Campo de cevada híbrida Hyvido no Entre Douro e Minho. As cevadas híbridas são uma boa opção para misturas forrageiras de Inverno.
O girassol é uma cultura que pode trazer uma rentabilidade interessante aos agricultores?
Em Portugal a produção de girassol tem vindo a diminuir, atualmente ronda os 6.000 hectares e deste total cerca de 1.500 hectares são de multiplicação de semente. No nosso país o girassol tem sido uma opção para sementeira em campos marginais, de sequeiro, onde a cultura nunca poderá atingir produções elevadas.
Estamos a desenvolver trabalho para demonstrar que o girassol é uma solução interessante para entrar em rotação, por exemplo, com o tomate indústria ou outras e que pode ser uma alternativa rentável, se o agricultor conseguir atingir produtividades de quatro a cinco toneladas/hectare. Claro que para lá chegar é preciso investir em semente de qualidade, em técnicas de produção inovadoras, em regadio, etc.
A Syngenta participou este ano nos ensaios de variedades de girassol organizados pela Sovena, que tem realizado um trabalho intenso de experimentação de variedades e transferência de conhecimento para os agricultores.
A Syngenta é líder de mercado em sementes de girassol na Península Ibérica, tem um portfólio de variedades alto oleico, linoleico e ClearField e, em breve, vamos apresentar ao mercado nacional variedades de girassol resistentes às sulfoniluréias (herbicidas).
«A Syngenta é líder de mercado em sementes de girassol na Península Ibérica»