O Governo dos Açores vai reforçar em dois milhões de euros os apoios a produtores que apostem no gado de engorda, estando em curso as candidaturas aos que queiram reduzir até 20% a produção leiteira, foi hoje anunciado.
A informação foi avançada após uma reunião entre o Secretário Regional da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, António Ventura, e a direção da Federação Agrícola dos Açores, em Santana, concelho da Ribeira Grande.
“Concertamos uma posição. A Secretaria Regional da Agricultura irá dar uma ajuda a todos os criadores de animais de engorda, tal como já foi feito ao nível da vaca aleitante. Estamos a falar num complemento de ajuda na ordem dos dois milhões de apoios aos produtores de carne de engorda”, adiantou o presidente da Federação Agrícola dos Açores aos jornalistas.
Jorge Rita destacou a importância deste apoio tendo em conta “o brutal aumento dos custos de produção”, salientando que a fileira da carne “é também” de “grande importância na Região” e “um produto de excelência” no arquipélago.
O dirigente da Federação Agrícola dos Açores disse ser “impensável, neste momento, estar a fazer engorda na Região se não houver um auxílio devido à brutalidade do aumento dos custos de produção”.
“Obviamente que temos de dar sustentabilidade ao setor, atendendo a que os custos de produção aumentaram substancialmente e a carne ainda não evolui para os preços que todos desejávamos”, observou.
De acordo com Jorge Rita, “a Secretaria e o Governo servem também para fazer essas devidas compensações como já foi feito no leite ou na vaca aleitante”.
“Será feito também no gado de engorda que exportamos”, acrescentou.
Por outro lado, decorre desde terça-feira e até 15 de maio, o período de candidaturas aos produtores que queiram reduzir até 20% a produção leiteira.
“É a primeira vez que, com coragem e afirmação, a produção está de fato a valorizar o que produz”, vincou o Secretário Regional da Agricultura e do Desenvolvimento Rural.
O governante frisou que, se as empresas leiteiras quiserem mais leite, “terão de valorizar” o produto.
“É a primeira vez que a produção de fato se impõe no preço do litro de leite. Ou seja, se impõe naquilo que é o rendimento dos produtores. Se impõe na necessidade de ter um preço justo. Se impõe na necessidade de valorizar um produto que é o leite produzido aqui no meio do Atlântico com os nossos solos vulcânicos com a influência climática”, sustentou António Ventura.
O presidente da Federação Agrícola dos Açores realçou que os produtores têm, “pela primeira vez”, uma “arma na sua posse” ao nível das negociações do preço do leite.
“Durante muitos anos, fomos sempre o parente pobre em todas as negociações com o argumento das indústrias de que tinha excedentes”, disse Jorge Rita, justificando que “ao preço que o leite é pago” os produtores estão “a perder dinheiro”.
O dirigente observou que a produção “está totalmente descapitalizada”, devido à “estratégica das indústrias”.
“Não queremos que haja abandono da produção. Queremos que os agricultores tenham rendimento e vivam com dignidade”, reforçou.
O Secretário Regional indicou que existem atualmente “352 projetos de investimento aprovados a ser comunicados aos beneficiários, num valor total de investimento, entre fundos comunitários e fundos regionais, de cerca de 14 milhões de euros”.
“Existem ainda 111 reformas antecipadas, de cessação da atividade agrícola, aprovadas no valor de cerca de cinco milhões de euros”, afirmou.
António Ventura avançou que foi também acordado com a Federação Agrícola realizar, no início de março, um encontro na ilha Terceira entre a produção, Secretaria Regional da Agricultura, Secretaria da Ciência e as empresas mais representativas de transformação de leite nos Açores.
O objetivo é “perceber que linhas novas de investigação são necessárias” para que “também o setor leiteiro da transformação e da comercialização possa ter novas investigações e novos produtos”, disse.
“O custo da experimentação e da investigação deve ser um custo suportado pela Administração Regional”, afirmou.