
A construção da ponte sobre o rio Sever, anunciada como futura ligação rodoviária entre Nisa, em Portugal, e Cedillo, em Espanha, deixou de constar dos trabalhos em curso e foi dada como embargada. De acordo com o jornal Nascer do SOL, a empreitada perdeu o seu principal construtor e enfrenta constrangimentos que tornam inviável o cumprimento dos prazos associados às verbas do Programa de Recuperação e Resiliência.
O anúncio de arranque da obra tinha sido feito em setembro, poucas semanas antes das eleições autárquicas, integrando o projeto na estratégia local e nacional para reforçar as ligações ao interior.
Segundo a mesma fonte, a intervenção era vista como resposta a uma reivindicação antiga e como oportunidade de articulação transfronteiriça entre o Alto Alentejo e a Estremadura espanhola.
Empresa retirada e prazo ultrapassado
Escreve o jornal que a ABB, responsável pela construção, desmontou o estaleiro e retirou equipamentos, confirmando que já não mantém presença no local. A publicação acrescenta que a obra foi adjudicada em outubro e exigiria um ritmo acelerado para cumprir a data limite de agosto de 2026, condição essencial para assegurar o financiamento europeu.
Após as eleições, tornou-se evidente a dificuldade em avançar com o cronograma definido para a intervenção. Uma reunião em Madrid da Comissão Técnica Mista Luso-Espanhola de Pontes, realizada a 2 de dezembro, sinalizou o afastamento do projeto, ao incluir apenas quatro ligações transfronteiriças na agenda e excluir a ponte do Sever.
Câmara sem previsões e silêncio das partes envolvidas
O presidente da Câmara de Nisa admitiu, numa sessão da Assembleia Municipal, que a construção está suspensa e que não há calendário previsível para uma eventual retoma. Conforme a mesma fonte, os repetidos pedidos de esclarecimento dirigidos à autarquia e à ABB não tiveram resposta.
A ABB esteve anteriormente ligada à ponte pedonal do Trancão, em Lisboa, e tem estado envolvida em outras obras públicas.
Espanhóis desconhecem cancelamento
De acordo com o Nascer do SOL, o alcaide de Cedillo afirmou não ter sido informado da paragem definitiva da obra quando contactado pelo jornal. O responsável local reconheceu atrasos do lado espanhol, que descreveu como questões administrativas ainda em avaliação por juristas do Governo em Madrid.
Segundo a mesma fonte, o autarca acreditava que a assinatura ministerial poderia ser concluída até ao final do ano, permitindo avançar com o processo. Porém, os elementos disponíveis em Portugal contradizem essa expectativa.
Uma ligação esperada há décadas
De salientar que a ponte pretendia unir Montalvão e Cedillo, aldeias separadas desde a construção de uma barragem hidroelétrica em 1970. O projeto previa 160 metros de comprimento e um tabuleiro com duas faixas de rodagem.
A separação entre as localidades tem impacto direto nas ligações quotidianas. Atravessar os cerca de 15 quilómetros que as separam implica hoje um percurso superior a 100 quilómetros, condicionando relações familiares, mobilidade e atividade económica transfronteiriça.
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