Agricultores ofendidos e revoltados querem políticas diferentes – Roberto Mileu

O governo ( e particularmente o ministro da Agricultura ) tem feito, nos últimos tempos, fortes ataques à Agricultura e aos Agricultores Portugueses .

Misturando ” alhos com bugalhos ” e fugindo à verdade como o diabo foge da cruz, há duas afirmações recentes que nos põem os cabelos em pé e vão pondo a opinião pública ( sobretudo a urbana ) contra os Agricultores .

1º – Nunca houve tanto dinheiro para a agricultura como no ano de 2008 !

Escamoteia o ministro que em 2008 foram pagos aos Agricultores e às Organizações dívidas de 2004 – 2005 – 2006.

Não esclarece o ministro que em 2008 foram pagas aos Agricultores Ajudas de 2 campanhas, o que até penalizou alguns em termos de IRS

Não justifica o ministro os enormes atrasos e prejuízos causados pela não implementação do ProDeR ( Programa de Desenvolvimento Rural 2007 – 2013 ) de que uma série de Medidas e acções ainda nem sequer estão disponíveis, apesar de o Programa, oficialmente, estar em vigor desde 1 de Janeiro de 2007.

Omite o ministro, que desses rios de dinheiro que apregoa, parte significativa nunca chegou, nem chegará, aos Agricultores …

e é preciso que se saiba :

– Em nome dos Agricultores, foram pagos 104 milhões de euros a Serviços ligados ao Ministério ( IDRA – IFAP – Gabinete de Planeamento – Direcções Gerais – Institutos – Direcções Regionais, etc., etc. )

– Em nome dos Agricultores foram pagos 4 milhões de euros a Companhias, entre as quais a Companhia das Lezírias e outras

– Em nome dos Agricultores foram pagos 17 milhões de euros a Indústrias Lácteas ( curiosamente até 10 milhões de euros a uma Indústria Láctea Asturiana, que se saiba nem Portuguesa é … ), quando os Produtores de Leite sentem cada vez mais na pele e na carteira a tremenda baixa do preço do leite ao Produtor

– Em nome dos Agricultores foram pagos 13 milhões de euros a organismos de importação/exportação da Ilha da Madeira

– Em nome dos Agricultores foram pagos um milhão e meio de euros a Universidades

– Em nome dos Agricultores foram pagos mais de 2 milhões de euros a Direcções Regionais de Educação

– Em nome dos Agricultores foram pagos 4 milhões e meio de euros ao Ministério da Defesa Nacional, da Administração Interna, ao Estado Maior do Exército e à Guarda Nacional Republicana

– Em nome dos Agricultores foram pagos um milhão e seiscentos mil euros à EDP, dois milhões à Direcção Geral das Autarquias Locais, mais de 2 milhões à Refinaria de Açúcar e mais de 8 milhões a Câmaras Municipais

– Em nome dos Agricultores foi até dado um subsídio de 230 000 euros a um Grupo dos Sete, no Porto, que não sabemos o que faz nem o que é …

Isto, tudo isto e muito mais, não é explicado aos Agricultores nem aos Contribuintes …

E , mais ainda, dentro daquilo que cabe de facto aos Agricultores, existem enormes injustiças e assimetrias :

– 91 Sociedades Agrícolas ( nova moda para a grande propriedade ) abotoaram-se com 33 milhões de euros, à média de 30 000 euros – 6 000 contos por mês para cada uma delas

– Nos 47 Concelhos do Alentejo, de um total de 24 410 beneficiários das Ajudas, a 643 deles ( que representam apenas 2,6 % do total ) foram pagos 121 milhões de euros que lhes garantem 16 000 euros – 3 200 contos por mês a cada

– No tristemente famoso RPU ( Regime de Pagamento Único – com direito a receber sem obrigação de produzir ) 181 beneficiários embolsam 76 milhões de euros, o que lhes garante a cada um, em média, 35 000 euros ( 7 000 contos ) por mês

Isto, tudo isto, em nome da Agricultura Nacional e dos Agricultores Portugueses !!!

2ª Afirmação do ministro
( A Agricultura é o único Sector que não está em crise em Portugal ! )

É demais ! É gozar com a agricultura e os agricultores !

Então numa altura em que :

– O preço dos factores de produção ( adubos, sementes, rações, fitófármacos, gasóleo, oficinas, etc. ) custam os olhos da cara, atingem valores incomportáveis, a Agricultura não está em crise ?

– O preço do leite baixa frequentemente, o da venda de animais está pelas ruas da amargura, o da uva ao Produtor é baixíssimo, o do azeite está uma tragédia, até a madeira e a cortiça descem, a Agricultura não está em crise ?

– Há menos 400 000 pessoas na População Agrícola, há menos 140 000 explorações e a Agricultura não está em crise ?

– As importações agro – alimentares aumentaram 172 % , produzimos apenas 4 % do trigo que precisamos e a Agricultura não está em crise ?

– Há um endividamento crescente, os Agricultores qualquer dia já só trabalham para pagar à Banca e a Agricultura não está em crise ?

– Centenas de Agricultores do Alentejo e de todo o País têm milhares de toneladas de trigo e milho armazenado, só lhes oferecem 15 cêntimos por quilo, e a Agricultura não está em crise ?

– Milhares de Famílias Agricultoras deixam de poder pagar a Segurança Social ficando completamente desprotegidas e a Agricultura não está em crise ?

Se isto não é a crise, onde é que está a crise ???
Chega de insinuações e de ironias !
Basta de ofensas aos agricultores portugueses !
Sabemos muito bem o que queremos :
Queremos produzir
Queremos preços justos à produção e ao consumidor
Queremos controlo das importações
Queremos políticas adaptadas ao nosso país, à nossa agricultura e aos nossos agricultores
Queremos um mundo rural vivo – útil – produtivo

Roberto Mileu
Dirigente Associativo Agrícola Regional ( Alentejo ) e Nacional ( CNA )

Este ministro não é uma nulidade ! – Roberto Mileu


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