Marisa Costa

Agricultura em Portugal: cooperação precisa-se! – Marisa Costa

Vivemos tempos difíceis. Nunca a importância da cooperação esteve tão saliente como nestes tempos de pandemia. E, se é verdade que a pandemia trouxe vários desafios não é menos verdade que pôs a nu a capacidade de liderança dos vários intervenientes nacionais desde os políticos, aos empresários e aos dirigentes associativos.

Este artigo é nada mais que um convite à reflexão. Cooperantes e dirigentes têm que olhar para o passado e repensarem a forma de agir e pensar. Esta reflexão é de tal forma urgente e cada vez mais oportuna e necessária porque como sabemos o setor agrícola é um setor envelhecido: 65% dos agricultores têm mais de 65 anos e apenas 4% tem menos que 40 anos.

A cooperação tem como objetivo uma sociedade melhor e o movimento cooperativo é nada mais que uma organização orientada para a mudança social “das pessoas e para as pessoas”. O foco é e deverá ser sempre as pessoas! Por esta razão os movimentos cooperativos são, ou deveriam ser, constituídos por pessoas mobilizadas para o alcance dos objetivos comuns, com princípios assentes na democracia e na participação.

Pensar em cooperativismo pressupõe, na minha ótica quatro premissas básicas:

i) A consciência do sentido de missão.

ii) Conhecimento profundo das regras, direitos e obrigações das cooperativas.

iii) Estratégia e definição clara de um plano de ação.

iv) Comunicação clara e constante.

Consciência do sentido de missão

O mais importante de todos aqueles que lideram no setor cooperativo é o SENTIDO DE MISSÃO. As cooperativas são empresas com fins não lucrativos, onde a atividade exercida tem como destinatários os próprios membros da cooperativa. É assim evidente que as cooperativas não foram criadas para gerar riqueza, foram criadas para satisfazer os sócios, crescerem e manterem-se, sendo necessário obviamente, obterem resultados positivos.

Infelizmente, todos conhecemos exemplos em que a grande preocupação dos líderes cooperativos é apresentar lucros, ostentando ano após anos o excelente trabalho com mais lucros, mas sem a humildade de reconhecer as dificuldades dos cooperantes e longe da verdadeira missão do cooperativismo.

Conhecimento profundo das regras, direitos e obrigações das cooperativas

Em Portugal, as cooperativas são regidas pelo Código Cooperativo, atualizado pela Lei n.º 119/2015, de 31 de agosto. Quantos sócios e dirigentes cooperativos conhecem o código cooperativo? Quantos já receberam a “formação cooperativa” a que se costuma destinar uma parte das reservas resultantes dos resultados obtidos?

Estratégia e definição clara de um plano de ação.

Onde estamos? Para onde vamos? A gestão estratégica implica estabelecer uma meta, traçar um plano de ação e trabalhar para o seu alcance, tendo sempre em consideração os fatores humanos envolvidos. Mas, acima de tudo, adotar uma posição de liderança estratégica é trabalhar no presente pensando no futuro. Seguindo esta linha de pensamento quais são as perspetivas das diferentes cooperativas a médio prazo? Qual a visão, missão e objetivo para os próximos dois anos? Qual o papel de cada um dos sócios no alcance desses objetivos?

Comunicação clara e constante

A comunicação teve sempre um papel importante, mas nestes tempos pandémicos adquire outra dimensão – a comunicação torna-se ainda mais crucial.

É fundamental que seja constante, clara e precisa, com toda a estrutura.

É fundamental que seja enquadrada nos valores que a suportam, cumprindo a missão que a orienta, e assente numa estratégia claramente definida.

Nos dias de hoje todos somos desafiados a inovar e ser recetivos à mudança e as cooperativas não são exceção. Precisamos de um cooperativismo mais consciente e melhor compreendido. A descrença no setor cooperativo aumenta dia após dia e os cooperantes sentem-se menos comprometidos com as cooperativas, sentem que os seus interesses não são defendidos e que as decisões são tomadas sem ter em conta as suas necessidades.

Urge que se proceda a uma clara afirmação da identidade cooperativista.

Urge que se olhe para as pessoas e não para os lucros.

Urge que se invista na formação cooperativa.

Urge rejuvenescer a agricultura nacional e as cooperativas têm grande responsabilidade para alcançar esse objetivo.

Urge agir!

Marisa Costa

Vice–Presidente da APROLEP

É preciso semear para colher! – Marisa Costa


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