
Atualmente todos reconhecemos que, nas últimas décadas, a Europa Ocidental tem conhecido um declínio em múltiplas áreas, nomeadamente devido à imposição de regras restritivas relativamente à produção, as quais não são adotadas em países terceiros.
A agricultura tem sido particularmente visada, tanto a produção vegetal como a produção animal.
No que à primeira diz respeito, cito apenas duas áreas: i) proibição do uso de inúmeros produtos aplicados em países terceiros, como os EUA, para proteger as culturas contra pragas, doenças e infestantes (por esta razão podemos, por exemplo, vir a perder os nossos pomares de pêra rocha); ii) não autorização de tecnologias emergentes, designadamente o uso da moderna biotecnologia no melhoramento das plantas e a utilização de drones para aplicação de fitofármacos.
É interessante notar que, apesar da oposição de grupos ambientalistas, com relevo para o Greenpeace, desde 1982 que se utilizam medicamentos biotecnológicos, tendo começado com a insulina até à recente vacina contra a Covid-19, o que já permitiu salvar milhões de vidas.
Todavia, quando se trata da aplicação da moderna biotecnologia ao melhoramento das plantas, o referido grupo ambientalista e outros grupos de pressão têm impedido os decisores políticos da UE, e de outros países, de permitirem o seu uso. Este atropelo à ciência levou 109 galardoados com o prémio Nobel a acusarem o Greenpeace de “crime contra a humanidade”, o que não tem impedido que continuasse a angariar fundos para apoiar a sua propaganda.
No caso dos drones reconheço que são particularmente vantajosos, nomeadamente para substituir os tratores na realização de tratamentos fitossanitários efetuados em solos declivosos e encharcados, como acontece, por exemplo, no inverno, nas vinhas e pomares implantados nas encostas da nossa região do Oeste, onde nessas circunstâncias o tráfego de tratores causa a degradação do solo e do enrelvamento das entrelinhas.
No que concerne à produção animal, de salientar a imposição de regras de bem-estar cada vez mais exigentes, não aplicadas em países terceiros, mas responsáveis pelo aumento dos custos de produção na UE.
Note-se que os avicultores europeus (sector que melhor conheço) têm vindo a instalar nos aviários condições de conforto excecionais (incluindo controlo de temperatura, dióxido de carbono, amoníaco e humidade), que proporcionam um excelente bem-estar às aves, conducente a uma maior eficiência produtiva, que se reflete em preços mais baixos para os consumidores. Esta é uma das razões que justifica que a carne de frango seja a proteína animal mais consumida em Portugal.
Enumerei restrições impostas por políticos sensíveis a grupos de pressão que atuam principalmente por razões de índole ideológica, sem sensibilidade para a competitividade da agricultura europeia, sendo mesmo nalguns casos apoiados financeiramente por agentes de países terceiros interessados em exportar para a EU e que, inclusive, não excluem práticas de corrupção.
A realidade, porém, é diferente, conforme mostra claramente um inquérito realizado muito recentemente aos cidadãos europeus por uma entidade oficial (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos – EFSA). Na compra de alimentos, o primeiro critério usado pela maioria (60%) dos consumidores europeus é o preço, o segundo critério é o sabor (51%) e o terceiro é a segurança dos alimentos (46%). Estes são os principais critérios usados pelos cidadãos europeus e a que os agricultores se esforçam por atender, não obstante as dificuldades existentes na UE e a incompreensão manifestada por grupos de pressão muito ativos.
Presentemente, encontramos ainda agricultores europeus que se mantêm no campo por razões de carácter afetivo e gosto pelo ambiente, sendo magros os proveitos financeiros, o que no futuro pode vir a colocar a UE numa situação de dependência alimentar extremamente delicada.