A edição de 2024 das Estatísticas Agrícolas, publicada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), revela que a agricultura portuguesa demonstrou resiliência e crescimento em diversos setores durante o ano agrícola 2023/2024, mesmo num contexto de forte instabilidade climática e desafios nos mercados internacionais.
O ciclo agrícola ficou marcado por condições meteorológicas excecionais: foi o sexto ano mais quente desde 1931/32, com uma temperatura média anual de 16,3°C, e também um dos mais chuvosos, com uma precipitação total de 897,4 mm, acima da média 1991–2020. Esta conjugação de calor e precipitação impulsionou de forma significativa a produtividade de várias culturas e permitiu uma recuperação importante em sectores anteriormente penalizados por secas.
Entre os destaques positivos, salienta-se o aumento da produção de carne, que atingiu as 947 mil toneladas, um crescimento de 4,8% face ao ano anterior, refletindo-se não só no aumento das carnes de bovino, suíno e ovino, mas também na produção de aves. A produção de ovos também cresceu, atingindo as 155 mil toneladas (+1,4%).
Na produção vegetal, as condições favoráveis traduziram-se em crescimentos relevantes: a produção de batata aumentou 10% e os hortícolas registaram um acréscimo de 3,1%. A fruticultura revelou igualmente sinais de vitalidade, com a produção de maçã a subir 7,2% e de laranja 26,9%. Destaca-se ainda o caso da amêndoa, que atingiu um novo recorde de 91 mil toneladas, graças à expansão dos pomares no Alentejo, posicionando Portugal como o segundo maior produtor europeu. O azeite foi outro sector em franco crescimento, atingindo 180 mil toneladas, a segunda maior campanha de sempre.
No plano económico, o rendimento real da atividade agrícola por unidade de trabalho aumentou 14,5%, beneficiando de um reforço substancial dos subsídios à produção (+143,4%). O volume da produção agrícola cresceu 4,2% em termos reais, superando o aumento dos custos de produção.
Também ao nível do comércio internacional se verificaram melhorias: o défice da balança comercial dos produtos agrícolas e agroalimentares recuou 421,4 milhões de euros, e a balança dos produtos do setor florestal alcançou um excedente de mais de 3 mil milhões de euros, com a cortiça e o papel a manterem-se como setores altamente competitivos.
Apesar de alguns recuos em culturas específicas — como o milho, cuja produção atingiu mínimos da última década devido à redução de área e produtividade — e de alguns impactos negativos nas vindimas e no leite, o panorama geral é de crescimento e adaptação. O setor revelou capacidade para responder a desafios como a volatilidade de preços, alterações climáticas e novas exigências do mercado.
O relatório do INE destaca assim uma agricultura nacional mais diversificada, tecnológica e resiliente, em que o crescimento de várias fileiras convive com a necessidade de reforçar a competitividade e a sustentabilidade a longo prazo.
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(Fonte: Estatísticas Agrícolas 2024, Instituto Nacional de Estatística)
O artigo foi publicado originalmente em Rede Rural Nacional.