agrovida agosto 2019

AgroVida agosto – Vinho com bom senso – Editorial de Teresa Silveira

Receio que estejamos paulatinamente a construir um estado policial em Portugal, ao invés de trabalharmos com afinco desde o berço numa cultura de educação e de civismo.

Vejamos.

  1. A lei que penaliza com elevadas coimas (de 200 a 4000 euros) quem deite beatas para o chão – estranhamente não multando quem deita os maços vazios, garrafas ou palhinhas de plástico, pacotes de sumos ou leite com chocolate, chicletes mascados ou quem repugnantemente escarra na via pública ou não puxa o autoclismo quando se serve de um sanitário público -, foi aprovado no Parlamento em julho. Votaram a favor PS, PAN, BE e PEV; contra o CDS; abstiveram-se o PSD, PCP e cinco deputados do CDS, incluindo Assunção Cristas.
  2. Quem não depositar o lixo nos contentores em boas condições de higiene e estanquicidade, regar plantas ou lavar pátios, varandas e janelas deixando cair água no espaço público ou quem der alimentos a animais na rua gerando focos de insalubridade, é punido. Há multas até 5000 euros.
  3. Dois terços dos alimentos das máquinas de venda automática nas escolas vão ser proibidos.
  4. É proibida a publicidade a bebidas e alimentos com elevados níveis de sal, açúcar e gorduras em escolas, parques infantis, cinemas e outros locais frequentados por menores de 16 anos.

Como se não bastasse, agora está em cima da mesa a retirada do vinho, em consumo moderado, da Roda dos Alimentos, no âmbito da revisão do Programa Nacional Para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS). Como se o vinho fosse um mau alimento. Maria João Gregório, Diretora do PNPAS, invoca o que diz ser “a evidência mais recente”, a de que “hoje não há qualquer nível de ingestão de álcool que possa ser considerado seguro e sem riscos para a saúde”. É certo que cada português consome, em média, 54 litros de vinho por ano, o que faz do país (englobando os turistas que nos visitam) o maior consumidor mundial de vinho ‘per capita’.

Mas, sejamos razoáveis: 54 litros em 365 dias/ano dá, em média, 0,15 litros/dia. Pioraremos gravemente a saúde se bebermos 0,15 litros por dia? Ao ponto de o vinho ser responsável pelos riscos para a saúde, nomeadamente das novas gerações, desaconselhando-o? Ou esqueceram-se da vodca, do whisky, do gin e outras bebidas espirituosas consumidas nos bares e discotecas e que ninguém controla? Não estaremos a fazer do vinho um bode expiatório para outros males e a descurar a frente de combate, a começar na família, por uma melhor educação para o consumo, a cidadania, a saúde e o civismo?

Comungo em absoluto do sentimento do Presidente da ViniPortugal: acima de tudo, “discernimento e bom senso”.

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