A Comissão Europeia (CE) falhou esta quarta-feira, 6 de maio, a apresentação de uma proposta de fundo de recuperação económica para os Estados-membros acordado pelo Conselho Europeu a 23 de abril. Este fundo virá atrelado ao próximo Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 (PAC incluída), que leva já vários meses de atraso e duas versões polémicas fracassadas.
Quando já em novembro de 2019 os eurodeputados portugueses asseveravam que o Parlamento Europeu não aceitaria cortes nos fundos europeus por os considerarem essenciais à competitividade da UE, estavam longe de imaginar a crise sanitária e, por consequência, económica, que se abateria sobre a Europa (e o mundo) no arranque de 2020.
O novo coronavírus trouxe sofreguidão respiratória, febre, tosse, cansaço, vómitos, diarreias, dores de barriga, perdas do olfato, enfim, uma doença inesperada e complexa e ainda sem respostas seguras, Covid de seu nome. Que mais não é, na verdade, do que uma guerra global travada sem armamento bélico, mas que cava trincheiras entre urgências, cuidados intensivos e enfermarias e gera a devastação do quotidiano individual, social e económico à escala global.
Governos, empresas e cidadãos foram empurrados de supetão para o quase abismo. E a Comissão Europeia, dividida, atordoada e inábil para fechar uma proposta de QCA para 2021-2027, antevê agora, ao menos, que o momento é de inultrapassável exceção.
Sem orçamento fechado, as projeções de crescimento para a UE e a zona euro foram revistas em baixa, esta quarta-feira, em cerca de nove pontos percentuais face às do Outono. A economia da área do euro registará “uma contração sem precedentes”, equivalente a 7,¾ % em 2020, que deverá ser seguida de um crescimento de 6,¼ % em 2021. A economia da UE deverá contrair 7,½ % em 2020 e crescer 6% em 2021.
Tem razão Valdis Dombrovskis,vice-presidente da CE para a Economia, quando diz que, “na fase atual, só é possível identificar, a título indicativo, a dimensão e a gravidade do choque que a crise do coronavírus irá representar para as nossas economias”.
Mas, dizer só isso é parco. A recessão histórica que consome a Europa por estes dias grita, mais do que nunca, por um orçamento histórico, que devolva esperança aos cidadãos e alguma certeza de sobrevivência e recuperação à economia e às empresas. Pode chegar com atraso, mas, quando vier, não há margem para a desilusão. A existir desilusão, ela pode ser letal para o futuro da UE.