Mal o INE dispara os números do comércio internacional lá para o dia 10 de cada mês, as notícias sucedem-se nos portais institucionais e nos meios de comunicação. Todos relatam o comportamento das vendas de bens para o exterior nos vários setores de atividade. Umas vezes as percentagens sobem e agradam, outras as percentagens descem e desagradam, cada setor tem desempenhos diferentes, mas o tema merece invariavelmente abundantes reflexões de comentadores, políticos e jornalistas.
Entrados em 2020, tomámos conhecimento do volume total das exportações de bens do país em 2019. Portugal atingiu, pela primeira vez, um valor superior a 90 mil milhões de euros. E o complexo agroalimentar (agricultura e indústrias agroalimentares, bebidas e tabaco), cujas exportações subiram de 6,9 mil milhões de euros em 2018 para 7,1 mil milhões de euros em 2019 (+ 2,4%), é um dos grandes responsáveis pelos números nacionais.
A ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, lembrou-o esta quarta-feira de visita ao SISAB, ao dizer que os produtos nacionais “têm a confiança dos consumidores, nomeadamente nos países terceiros, graças à sua qualidade nutricional e à segurança alimentar que apresentam” e que “a plataforma de negócios da fileira agroalimentar representou, nos últimos cinco anos, 10,7% das exportações portuguesas”.
Mas, e como se têm comportado as importações no agroalimentar?
O tema é escasso no espaço público. Quase um tabu na comunicação social e mesmo entre os operadores do setor, de tão focados que estão no esforço de incrementar as vendas para o exterior.
Os dados do Ministério da Agricultura e do INE estão à vista. As importações de bens alimentares voltaram a crescer em 2019. Subiram 2,1%, tendo passado de 10,6 para 10,8 mil milhões de euros.
Se é certo que a subida se ficou pelos 200 milhões de euros face a 2018, o montante total das compras anuais de bens alimentares que fazemos ao estrangeiro – 10,8 mil milhões de euros! – não nos deixa descansados.
Mais do que pôr em causa a meta do equilíbrio da balança comercial agroalimentar em 2020 traçada há cinco anos, e de gerarem concorrência aos produtores nacionais e impactarem negativamente na competitividade das empresas que focam a atividade no mercado nacional, este défice revela algo mais grave. É a soberania alimentar de Portugal que está em causa.