[Fonte: Vida Económica] Com exceção do PAN – Pessoas, Animais e Natureza, que em nenhum recanto do seu programa eleitoral ou nos momentos de debate ou da campanha é capaz de reconhecer – muito menos elogiar – o relevantíssimo papel da agricultura e do agroalimentar para a economia, as finanças, o emprego, a coesão social e do território e a soberania alimentar de Portugal, todos os partidos com assento parlamentar praticam exatamente o oposto.
Clarifiquemos. Praticam exatamente o oposto, na medida em que reforçam o peso económico e o caráter estratégico deste setor e pugnam, através de propostas escritas, pelo seu crescimento e crescente importância económica, social e territorial no futuro.
Isto, pese embora o caminho que – todos aceitam – é obrigatório trilhar em direção a uma visão holística da produção agrícola e da sua gestão e a uma mudança progressiva de paradigma, desde o campo ao armazém ou à fábrica e dos lineares do supermercado ao prato. Tudo, em nome da descarbonização do planeta, da sustentabilidade dos recursos e do combate urgente às causas das alterações climáticas, cujos efeitos são visíveis e não há como negá-los.
Mas há inquietações e paradoxos em tudo isto. E há, sobretudo, um hiato gigante entre o que aparece escrito nos programas dos partidos e o que tem sido discutido em público, nos debates ou no confronto presencial com os cidadãos na rua.
Está à vista: mesmo que tenha havido vacas engalanadas a aparecer em comícios e os candidatos tenham entrado em feiras e mercados, as questões estruturantes que implicam com o presente e o futuro da agricultura, do agroalimentar, das florestas e da economia do mar – incluindo a Política Agrícola Comum (PAC) e de Pescas (PCP) cuja dotação para 2021-2027 é uma incógnita – estiveram ausentes destas Legislativas.
E é grave. Por duas ordens de razões.
A primeira, porque as visões dos partidos sobre as práticas agrícolas e industriais, a posse da terra, a (re)utilização dos recursos naturais ou os (des)apoios nacionais e comunitários são, à direita e à esquerda – contando com o PAN, que diz não estar nem de um lado nem de outro –, nalguns casos, diametralmente opostas. E deviam ter sido exibidas e escalpelizadas, a bem do esclarecimento dos eleitores.
A segunda, pelo peso económico, social e territorial que a agricultura e o agroalimentar assumem no contexto nacional e comunitário e na soberania dos Estados, o que, só por si, deveria suscitar redobrado interesse e, mais ainda, intenso debate.
Não foi assim. Foi triste, e não deveria ser fado.