A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) diz que a agricultura “tem de ser um dos temas centrais” do debate das legislativas e fez saber que está “preocupada com a ausência de referências ao setor agrícola em período de pré-campanha eleitoral”. Para mitigar isso, convocou ontem o PS, o PSD e o CDS para debater as medidas prioritárias que cada um apresenta para o próximo ciclo governativo.
Estranhamente, apenas dirigiu o convite a estes três partidos (informação confirmada pela “Vida Económica” junto da CAP), quando há sete grupos parlamentares na Assembleia da República e são 21 as forças políticas representadas no boletim de voto a 6 de outubro. Mas isso, como diz o nosso povo, já são outros quinhentos.
No último sábado, a CONFAGRI – Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal desafiou a Agros para, durante a feira AgroSemana, debater as “Perspetivas e Desafios da Agricultura Portuguesa”. Convidados todos os partidos com representação parlamentar, apenas compareceram PS, PSD, PCP e CDS. Curiosamente, todos convergiram na “importância estratégica” deste setor. Na sociedade e na economia. Divergiram, foi nos caminhos e, sobretudo, nas soluções.
À parte a pluralidade – ou da falta dela – quanto às opiniões sobre a agricultura e o agroalimentar por parte das várias forças políticas, há algo paradoxal e que nos intriga.
Vejamos. Joaquim Barbosa (PS) garantiu na AgroSemana que a agricultura está “mais mecanizada”, nela trabalham “pessoas muito qualificadas” e agora até “está na moda”. Carlos Duarte (PSD) frisou no mesmo debate que ela “representa 6% do PIB, tem 6% do emprego e 14% das exportações”, mas que a sua produção, de 2000 a 2016, apenas “cresceu em média 0,6% ao ano”. Patrícia Fonseca (CDS) advertiu no mesmo encontro que é preciso “captar mais jovens” e apostar no “empreendedorismo” e que há “pressão no sentido de combater setores estratégicos como a proteína animal”. O PCP lembrou num debate recente que “o trigo que produzimos dá apenas para os primeiros 15 dias do ano e o milho para quatro meses” e que “Portugal tem a maior zona económica exclusiva da UE, mas o saldo na balança comercial de pescado é negativo em mais de mil milhões de euros”.
Ora, se todos os partidos representados no Parlamento elogiam a atividade agrícola, lhe reconhecem valor e prometem apoiá-la – exceção para o PAN que quer acabar com os apoios do Estado à produção de carne e leite –, por que é que não falam dela na campanha eleitoral?
É caso para perguntar: os agricultores votam?