Alentejo agrícola une-se ao Alentejo tecnológico 

Nona edição do ciclo de conferências do Novo Banco teve lugar em Évora e mostrou como a região está a conseguir aliar a agricultura e a agroindústria às novas tecnologias.

Está a nascer um novo Alentejo, o Alentejo da tecnologia, da inovação e do conhecimento. Acredito que temos muito para oferecer e podemos ser o novo Silicon Valley da Europa.” A afirmação foi feita por Soumodip Sarkar, presidente do PACT – Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia, localizado em Évora, na sessão de abertura de mais uma conferência do ciclo Portugal Que Faz, promovida pelo Novo Banco em parceria com o Global Media Group, que aconteceu ontem nesta cidade alentejana. Este responsável explica que o PACT é a cúpula da transferência de conhecimento da universidade e dos politécnicos da região a todos os stakeholders interessados.

Esta nona edição, destinada a ouvir os problemas sentidos pelos empresários do Alentejo para encontrar soluções conjuntas para enfrentar a crise, contou com a intervenção do presidente deste parque tecnológico, seguindo-se como habitualmente a intervenção de António Ramalho, CEO do Novo Banco, e a análise regional do economista-chefe desta instituição financeira, Carlos Andrade, este último em videoconferência. No painel do debate participaram Rui Espada, presidente do NERE – Núcleo Empresarial da Região de Évora, Filipe Pombeiro, presidente do NERBE – Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral, Jorge Pais, presidente do NERPOR – Núcleo Empresarial da Região de Portalegre, e José Pedro Salema, presidente da EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva.

Unidos para discutir o futuro do Alentejo – região que agrega quatro zonas, com grande diversidade, o Alto Alentejo, o Alentejo Litoral, o Alentejo Central e o Baixo Alentejo – os empresários acreditam que o passado pode unir-se ao futuro, e apostar na inovação dos setores tradicionais. “O Alentejo é hoje muito diferente e o setor agroindustrial tem já uma forte integração tecnológica, o que vai ser decisivo para o futuro da região”, referiu a propósito Filipe Pombeiro, da NERBE, núcleo que investiu recentemente na criação da CIBT NERBE, um projeto para incubação e instalação de empresas de base tecnológica, assumindo-se como uma estrutura de apoio ao tecido empresarial. Segundo este responsável, as incubadoras de base tecnológica que se estão a instalar nesta zona vão permitir a fixação de novas empresas, novas ideias – fundamentais para fazer face ao período da pandemia – e, por outro lado, vão capacitar as empresas para que cresçam com incorporação tecnológica, que é decisiva para o combater a desertificação do Alentejo.

Tal como acontece em várias outras zonas do país, sobretudo no interior, o decréscimo populacional – sobretudo o êxodo das gerações mais novas – é um desafio acrescido para fazer face à crise. Carlos Andrade, do Novo Banco, na análise que traçou da região, referiu exatamente como aspeto menos positivo o facto de ter uma estrutura etária mais envelhecida, o que relacionou com alguns desafios que o pós-pandemia acarreta, como a aceleração da necessidade da economia digital e também o desenvolvimento de competências digitais. Explicou que esta região contribui com 4,3% para o PIB e tem um peso do setor agrícola muito acima da média nacional, tal como um elevado peso do agroindustrial. Em complemento, António Ramalho relembrou, no entanto, que o Alentejo tem ainda um forte potencial turístico, e que registou um crescimento considerável nos últimos cincos anos. “Cerca de 74% das dormidas são referentes ao mercado doméstico, e tem elevado potencial para captar clientes internacionais”, diz.

Empresas têm de se unir

Rui Espada, presidente do NERE, explica que o tecido empresarial é constituído essencialmente por pequenas e microempresas que necessitam de apoio para fazer face aos desafios, nomeadamente para enfrentar as exportações, para as quais, por vezes, só conseguem se unirem esforços conjuntos para atingir, por exemplo, os volumes de encomendas necessários. Entende também que o plano de desconfinamento já deveria ter sido apresentado, pois as empresas já não têm onde ir buscar mais dinheiro e que, com o fim das moratórias, algumas terão mesmo de fechar e ficar com as dívidas a seu cargo.

Jorge Pais, presidente do NERPOR, diz mesmo que o Alto Alentejo precisa de dinamizar o seu tecido empresarial, e para isso há que criar um ambiente favorável para atrair empreendedores, que deveria partir da melhor distribuição dos investimentos públicos, nomeadamente na construção de rede viária principal que passe por Portalegre. “Se não distribuirmos melhor os investimentos públicos, a coesão nunca vai existir”, afirma. Já José Pedro Salema, presidente da EDIA diz que o Alqueva foi uma boa forma de investir o dinheiro público, apesar da desconfiança que gerou. “O Alqueva ainda foi visto como um elefante branco e dizia-se que não havia agricultores interessados no regadio. Hoje temos 10% a 15% da área total agrícola em regadio, mas esta é responsável por criar tanta ou mais riqueza do que os restantes 85%.” José Pedro Salema diz que o setor agrícola foi muito resiliente à pandemia e que os investimentos não pararam: a área inscrita para regadio cresceu cerca de 7000 hectares nesta fase.

Helena C. Peralta

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