
Um estudo europeu coordenado pela PAN Europe detetou níveis elevados de ácido trifluoroacético (TFA), um “químico eterno”, em produtos à base de cereais consumidos na Europa, com os cereais de pequeno-almoço a surgirem como os mais contaminados. A análise abrangeu produtos comprados em 16 países e reacende o debate sobre pesticidas PFAS e a necessidade de monitorização de resíduos no prato.
De acordo com o Jornal de Notícias, a investigação foi apresentada no início de dezembro e é descrita pela própria PAN Europe como a primeira avaliação “à escala UE” deste contaminante em alimentos de cereais, num contexto em que a substância, segundo a organização, continua fora do radar rotineiro das autoridades alimentares.
Nos resultados divulgados, o TFA foi encontrado na grande maioria das amostras, com picos particularmente elevados em produtos de trigo e em cereais de pequeno-almoço, o que levou a PAN Europe a pedir medidas rápidas para limitar fontes de contaminação e reforçar regras europeias.
O que é o TFA e porque entra na lista dos “químicos eternos”
O TFA é descrito no relatório como um produto de degradação muito estável de várias substâncias fluoradas, incluindo pesticidas PFAS e gases fluorados usados, por exemplo, em refrigeração. Por resistir à degradação natural e acumular-se no ambiente, é classificado como “forever chemical” (“químico eterno”).
Segundo a mesma fonte, os PFAS (substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas) formam uma família vasta de químicos sintéticos, conhecidos precisamente pela persistência e pela dificuldade em serem eliminados do ambiente. É essa persistência que, segundo várias investigações, ajuda a explicar a presença crescente de compostos relacionados em água, solos e cadeia alimentar.
No caso concreto do TFA, a PAN Europe defende que a dieta é uma via relevante de exposição humana e sublinha que, neste conjunto de amostras, as concentrações médias medidas em alimentos ficaram muito acima das médias encontradas previamente em água da torneira.
Porque aparecem níveis mais altos em trigo, e em cereais de pequeno-almoço
Segundo o relatório e a nota de imprensa, os produtos à base de trigo apresentaram níveis mais elevados do que os feitos com outros cereais, e os cereais de pequeno-almoço destacaram-se como o grupo mais contaminado.
A PAN Europe aponta ainda exemplos de picos detetados em produtos comprados em diferentes países, incluindo um cereal de pequeno-almoço adquirido na Irlanda (com o valor máximo reportado), além de pão integral na Bélgica e outros itens de trigo noutros mercados.
Um ponto sublinhado no próprio relatório é que o TFA, por ser hidrossolúvel e persistente, tende a acumular-se na água e no solo e pode ser absorvido pelas plantas, o que ajuda a explicar a presença em alimentos de base agrícola como pão, massas e farinhas.
O que a PAN Europe pede, e o que pode mudar a seguir
A organização defende que, como não existem limites específicos da UE para TFA em alimentos, devem aplicar-se critérios de precaução e avançar com uma resposta regulatória mais dura, incluindo a proibição de pesticidas PFAS e a monitorização regular do TFA na alimentação.
No documento, a PAN Europe afirma também que, nas amostras onde o TFA foi detetado, houve excedência do valor “default” de 0,01 mg/kg (10 µg/kg) usado como referência de precaução em substâncias classificadas como reprodutivamente tóxicas (a organização aplica este critério ao TFA por analogia regulatória).
De acordo com o Jornal de Notícias, para quem consome, a mensagem prática é separar “deteção” de “risco imediato”: o estudo mostra contaminação ampla e pede ação política, mas não significa automaticamente que um alimento isolado seja perigoso por si só. O debate deverá continuar nos próximos meses, sobretudo à medida que reguladores e Estados-membros forem pressionados a definir limites, reforçar fiscalização e clarificar recomendações públicas.