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Algarve defende dieta mediterrânica como padrão de alimentação saudável e aliada da sustentabilidade ambiental

Quando, em 2013, a UNESCO declarou a Dieta Mediterrânica como Património Cultural Imaterial da Humanidade, a Região do Algarve, com o Município de Tavira copromotora da candidatura – investiu num conjunto de projetos que deram especial enfoque à sua vertente cultural, de estilo de vida e convivialidade, uma nova alavanca para a diferenciação e qualificação do Turismo da Região. Uma aposta com resultados positivos e que pretendemos consolidar no âmbito do próximo quadro comunitário de apoio, Portugal 2030.

No âmbito da aposta do Algarve da preservação e promoção da Dieta Mediterrânica (DM), alguns dos mais desatacados especialistas nacionais em saúde e nutrição, a convite da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), da Direção Regional de Agricultura e Pescas e do Município de Tavira, debateram, por ocasião da VIII Feira da Dieta Mediterrânica, em Tavira, as vantagens da adoção do Padrão alimentar e de estilo e vida da Dieta Mediterrânica.

José Coucello, médico cardiologista e membro da Fundação Portuguesa de Cardiologia, foi um dos presentes, tendo começado por relatar estudos, cientificamente validados, que asseguram que as populações que seguem a dieta mediterrânica revelam 50% menos mortalidade cardiovascular e apresentam maior longevidade. Contudo, José Coucello afirma que para manter esta expectativa de aumento da longevidade, com qualidade, é necessário operar na saúde do meio ambiente e promover alterações do estilo de vida “O aquecimento global e a poluição estão a modificar rapidamente a saúde da população com aumento expressivo da mortalidade cardiovascular. A diminuição do exercício e o aumento do sedentarismo, a mudança de hábitos alimentares com tendência para alimentos processados e regimes alimentares com desequilíbrio calórico têm aumentado a prevalência da obesidade, da diabetes mellitus tipo 2, e das doenças cérebro cardiovasculares, alerta.

A adoção do conceito base da dieta mediterrânica é, em seu entender, um excelente caminho a fazer neste combate, porque, na verdade, “a DM não compreende apenas a alimentação, é também um elemento cultural que propicia a interação social, implica uma atitude de respeito pela terra e pela biodiversidade e garante a conservação e o desenvolvimento de atividades tradicionais e artesanais ligadas à agricultura e às pescas”, defende o cardiologista.

Os cinco desafios lançados pelo especialista em DM – Professor Pedro Graça

Já Pedro Graça, entre outros, Presidente da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e ex-diretor do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável da Direção Geral da Saúde, continua a não ter dúvidas de que a DM é altamente promotora da saúde, não só pelos alimentos que incorpora (azeite, cereais, leguminosas, fruta…), pela forma como os prepara, “mas principalmente pela frugalidade. Frugalidade significa comer em função das necessidades energéticas e comer em qualidade e não em quantidade. Só assim se evitam doenças como a obesidade ou a diabetes. A preservação da DM passa por valorizar a comida de qualidade”.

Ainda assim, e para que os investimentos futuros que a Região do Algarve se propõe continuar a fazer sejam efetivamente proveitosos, chama a atenção para cinco desafios.

O primeiro deles, de ordem demográfica, é o de tentar preservar um modelo alimentar ancestral numa população nova e em crescimento que o desconhece ou que não o recorda como da sua tradição cultural. A este respeito, Pedro Graça recorre aos números dos censos 2021, que dizem que a Região do Algarve foi a NUTS II com maior crescimento populacional a nível nacional, sendo que na atual configuração demográfica, 18% dos residentes são estrangeiros. “Preservar um modelo alimentar que já não tem por base o que se produz na região e onde as práticas alimentares de origem de um quarto da sua população e de um quarto dos encarregados de educação dos seus mais jovens são diferentes das preconizadas na DM é um desafio enorme”, afirma.

A segunda questão que levanta prende-se com a evolução social, que coloca a mulher – figura central na preservação da DM – no mercado de trabalho e em contexto urbano: “Se a maioria das mulheres já não quer regressar ao trabalho no campo, já não quer passar a sua vida na cozinha e já perdeu a sua ligação às fontes ancestrais de conhecimento culinário e alimentar como as mandatar para defender este modelo tradicional?”, questiona Pedro Graça.

Por outro lado, há desafios de ordem económica que são preponderantes, já que, hoje, temos uma agricultura baseada na tecnologia e na mecanização e onde o processamento e o frio passaram a ser centrais para o transporte e manutenção dos produtos alimentares com maior durabilidade. Os alimentos ultraprocessados (muitas vezes adicionados de sal, açúcar e outros conservantes) são mais baratos do que os frescos. “Enquanto o impacto ambiental não for devidamente considerado no preço final dos alimentos, o desafio económico é fazer com que o padrão alimentar mediterrânico continue a ser verdadeiramente popular e acessível a todos. E que não passe a ser maioritariamente gourmet e diferenciado para um determinado nicho da população ou visto essencialmente como um produto turístico que apenas acrescenta valor à oferta alimentar na região” defende Pedro Graça.

Mesmo ao nível da saúde, é necessário, segundo Pedro Graça, romper com alguns dos antigos paradigmas da DM. “sabemos hoje que muito do que é tradicional não é necessariamente adequado às expetativas de saúde nos tempos em que vivemos”, e é com base nesta constatação que Pedro Graça insiste que é importante distinguir o que “na tradição mediterrânica nos protege, do que nos mata precocemente. Um desafio importante, que é necessário assumir com coragem política face a alguns interesses económicos poderosos instalados e antes de dizer que tudo o que é tradicional é bom”.

Por último, Pedro Graça lembra que uma alimentação de base vegetal, como é o caso da DM, é das que causa menor impacto no meio ambiente, menor consumo de água e menores emissões de gases com efeitos de estufa. Lembra ainda que o primeiro princípio da Dieta Mediterrânica é o da frugalidade, ou seja, comer apenas o necessário. “Sabemos hoje, e a evidência científica é robusta nesse domínio, que ingerir calorias não necessárias é o maior detonador da epidemia do excesso de peso e doenças associadas como a doença oncológica, diabetes e doença cardiovascular e, ao mesmo tempo, o maior incentivador da utilização abusiva dos nossos recursos naturais”, reitera o especialista que vê, porém, como enorme desafio o de fazer o discurso da circularidade e em particular da redução do consumo e da frugalidade na sociedade atual: “Quem apoiaria a DM se a sua tónica fosse a redução do consumo, mesmo que por razões ambientais. Já não tem a DM inimigos suficientes? E como apoiaria a população do Mediterrâneo que sempre lutou contra a escassez, este discurso? Em particular se vier dos poderes públicos considerados privilegiados? Este é talvez um dos mais difíceis desafios destes cinco”, conclui Pedro Graça.

CCDR ALGARVE determinada em prosseguir o trabalho em rede com todas as entidades para preservar a afirmação da Dieta mediterrânica

Se já antes do seminário dedicado à SAÚDE, ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E DIETA MEDITERRÂNICA (que decorreu no dia 8 de setembro, em Tavira) José Apolinário, Presidente da CCDR Algarve, afirmava que a Região, no âmbito do próximo período de financiamento dos fundos europeus, continuaria a apostar na preservação e promoção da Dieta Mediterrânica, depois de ouvir os maiores especialistas de saúde e nutrição que intervieram na sessão, é, sem margem para dúvidas, que reitera esta estratégia: “urge somar à vertente cultural, que é parte integrante deste projeto, as inúmeras investigações e projetos de inovação, desenvolvidos desde então e com parceiros vários, que são unânimes na demonstração da mais valia deste padrão alimentar em matéria de saúde e qualidade de vida”, afirma o Presidente da CCDR Algarve, que, ainda que consciente das dificuldades, acredita que “a DM, enquanto fonte de saúde e de sustentabilidade ambiental, vai funcionar como âncora em muitos dos projetos a apoiar no Portugal 2030, que passarão também pelo apoio ao desenvolvimento de produtos endógenos que vão diferenciar a Região”, defende.

A este respeito, José Apolinário realça o projeto da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) de passar a incluir, de forma sistemática, nas refeições escolares produtos locais que integram a DM, “um projeto magnífico, que serve não só a causa da alimentação saudável, continuando a valorizar a dimensão cultural, que é, também ela, promotora da diferenciação e da qualificação do turismo da Região”, mas também o trabalho concreto e de terreno desenvolvido pela Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, pela Associação In Loco e, sobretudo, o empenho do Município de Tavira na realização anual da Feira da Dieta Mediterrânica.

Fonte: CCDR Algarve


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