Alguns dos países menos desenvolvidos têm metade da população com subnutrição crónica

Os países menos desenvolvidos (PMD) do mundo continuam a ser focos de insegurança alimentar aguda, com uma prevalência média de subnutrição crónica que, em alguns estados, atinge metade da população, denunciaram hoje líderes e peritos internacionais.

Presentes na quinta Conferência das Nações Unidas sobre Países Menos Desenvolvidos (PMD5), que decorre em Doha, no Qatar, estes dirigentes apelaram ao apoio dos PMD, nomeadamente através da promoção do investimento agrícola e da utilização de tecnologias modernas para alcançar a segurança alimentar.

Os PMD continuam a ser focos de insegurança alimentar crónica e aguda, com uma prevalência média de subnutrição crónica de 22,1% e que, em alguns países, atinge mais de 50%.

“Apesar de alguns progressos desde 2020, a situação global agravou-se durante a última década devido a conflitos e choques climáticos, bem como a pressões económicas e demográficas”, indicam as Nações Unidas, em comunicado.

O Presidente da Polónia, Andrzej Duda, apelou ao apoio aos PMD no desenvolvimento agrícola e rural.

“É tão importante apoiar os países menos desenvolvidos no desenvolvimento agrícola e rural para que possam garantir a sua própria segurança alimentar”, disse.

A Polónia, que segundo o chefe de Estado foi o quinto maior produtor alimentar da União Europeia, com uma quota de 10,5% na produção da UE, “constitui um exemplo de sucesso que pode ser alcançado investindo na agricultura e na modernização do setor agroalimentar”.

Duda argumentou que os PMD deveriam ser ajudados na implementação de várias soluções para modernizar os seus setores agroalimentares domésticos, incluindo ferramentas de inteligência artificial, sistemas de navegação, imagens de satélite e plataformas digitais para os agricultores.

“Comprometo-me, uma vez mais, a apoiar-vos através das nossas empresas, que têm experiência adequada na modernização do setor e na expansão da sua presença no mercado estrangeiro. Juntos podemos conseguir mais”, declarou.

As Nações Unidas apontaram o exemplo da Gâmbia, um país maioritariamente agrário, com uma grande proporção da população a depender da agricultura de subsistência. Os efeitos das alterações climáticas, tais como temperaturas mais elevadas e padrões pluviométricos variáveis, estão a afetar a produtividade das culturas do país, levando a rendimentos mais baixos e a rendimentos reduzidos para os agricultores.

“A agricultura é a espinha dorsal da Gâmbia, mas precisamos também de desviar isto para uma fórmula inteligente do clima”, disse Rohey John Manjang, ministro do Ambiente, Alterações Climáticas e Recursos Naturais da Gâmbia.

“Precisamos de construir resiliência nos nossos sistemas agroalimentares”, instou Máximo Torero, o economista chefe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Torero explicou que os PMD são as nações mais vulneráveis aos riscos e incertezas dos sistemas agroalimentares provocados pelas alterações climáticas, stresse hídrico, pragas e doenças, políticas comerciais e macroeconómicas e acontecimentos inesperados.

“Os nossos sistemas agroalimentares funcionam e continuarão a funcionar sob risco e incerteza, e os PMD serão os países mais vulneráveis a isto”, sublinhou.

Para construir resistência nos sistemas agroalimentares, o economista chefe da FAO disse que são necessários investimentos em sistemas de alerta precoce para identificar áreas de insegurança alimentar.

“Precisamos de ligar energia, água, tecnologia e capacidade humana para transformar sistemas agroalimentares”, sublinhou o perito da FAO, acrescentando que é necessário um novo contrato social para orientar a nossa vida comum e o nosso planeta partilhado.

Na reunião de Doha participam os presidentes guineense, Umaro Sissoco Embaló, e timorense, José Ramos-Horta, e o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada.


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