Como é do conhecimento público, tem sido uma das preocupações da IACA, desde a presidência portuguesa da União Europeia, chamar a atenção do Governo e do Conselho Agrícola para a escalada dos preços das principais matérias-primas para a alimentação animal e o impacto nas produções pecuárias, confrontadas com os baixos preços no consumidor, consequência do excesso de oferta provocada pela pandemia, pela pressão da China e pelas sucessivas promoções da grande distribuição, sendo particularmente afetados os setores do leite, carne de suíno e carne de aves.
Sabemos, no entanto, que existe na União Europeia uma particular preocupação em relação à carne de porco devido sobretudo à redução das exportações por parte da China, com um efeito de arrastamento e degradação do mercado nacional que pode vir a agravar-se com eventuais problemas em Espanha.
Por outro lado, os mercados das matérias-primas, a que acrescem os custos dos fretes, da energia, combustíveis, irão continuar extremamente voláteis e tensos nos próximos meses, pelo menos durante o primeiro trimestre de 2022 e em alguns casos, ao nível de microingredientes, podemos até ser confrontados com problemas, já não de preços, mas tão somente, de disponibilidade.
Nesta perspetiva, de custos em alta e preços tendencialmente em quebra, com margens cada vez mais reduzidas, temos vindo a reunir, quer no quadro da FEFAC e com a Presidência da Eslovénia, ao mesmo tempo que temos estabelecido contactos com o GPP, e estando em causa a manutenção de muitas explorações e empresas do Setor, e uma vez que a Bélgica pediu o agendamento deste tema no Conselho Agrícola de 11 e 12 de outubro, em AOB (assuntos diversos), foi preparada uma carta, enviada a diferentes Comissários e ao Presidente do Conselho Agrícola, tendo como objetivo contribuir para um debate que pretende viabilizar a produção ao nível da União Europeia e naturalmente em Portugal.
As informações disponíveis permitem-nos pensar que a Bélgica terá o apoio de 17 Estados-membros, incluindo Portugal, o que não significa que sejam tomadas medidas com efeito imediato. No entanto, demos conhecimento do teor da carta à Ministra da Agricultura, GPP e aos parceiros da Fileira, chamando a atenção para os seguintes pontos:
- Analisar todas as medidas de mercado para estabilizar os preços da carne de porco, nomeadamente apoios à exportação ou ajudas à armazenagem privada;
- Apoiar o pedido da Bélgica, que ao que sabemos, terá o apoio de um número significativo de Estados-membros, discutindo igualmente o mercado da alimentação animal;
- Acelerar o diálogo entre a Comissão Europeia e a Administração dos EUA para resolver a disputa no quadro do dossier aço e alumínio, no sentido de remover a tarifa à importação de milho proveniente dos EUA;
- Encorajar o diálogo permanente entre a UE e os EUA nas questões da alimentação animal, no âmbito do Trade and Techonolgy Council (TTC)
- Considerar a possibilidade de definir medidas de contingência dando prioridade à utilização de cereais na alimentação animal
Sabemos que por exemplo não é pacífica a medida relativa à armazenagem privada, pelo que pode não existir acordo nesta matéria mas é essencial que existam apoios à exportação para aliviar a pressão da oferta e encontrar novos mercados. As medidas ao nível das matérias-primas serão essenciais para conter eventuais subidas.
Se nada for feito, porque não é de esperar subida de preços no consumidor, a única forma de viabilizar o setor será o abate de efetivos no sentido de conter a produção, o que teria consequências muito negativas para a indústria da alimentação animal.
Das conclusões do Conselho Agrícola daremos notícias na próxima semana, com a esperança de que a Comissão e os Estados-membros tomem decisões com a urgência que situação merece e que todos saibamos estar à altura das nossas responsabilidades.
O artigo foi publicado originalmente em IACA.