O Governo diz que há preços inexplicáveis em produtos alimentares, com base em dados da ASAE. Mas uns rejeitam essa conclusão e outros declinam culpas. Por que é tão difícil apurar a verdade?
Por que é que o preço da cebola se tornou tema de artigos nos últimos dias?
Porque a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) veio a público dizer que detectou nos supermercados e hipermercados do país preços de alguns produtos alimentares, como as cebolas, em que a margem bruta aplicada pelos vendedores ronda os 45% e os 50%.
E por que é que a ASAE divulgou as margens brutas de certos produtos alimentares?
Estes dados foram comunicados numa conferência de imprensa conjunta da ASAE com o ministro da Economia e do Mar, em que ficou dito que alguns destes valores são inexplicáveis. Aliás, foi o próprio primeiro-ministro António Costa que, no final de Dezembro de 2022, revelou numa entrevista televisiva que não compreendia a evolução de preço de certos bens alimentares, acrescentando que queria que a ASAE investigasse os preços dos alimentos. Os dados do INE confirmam que a inflação nos alimentos é superior à inflação global e que não tem acompanhado o ritmo de descida desta última.
Qual é a relevância das margens brutas?
Resumidamente, a margem bruta é o valor da receita que fica para o vendedor depois de pago o que gastou para ter aquela venda. Um exemplo, para clarificar, antes de responder à questão da relevância: se uma loja compra um quilo de algo a 100 e vende a 200, então a margem é de 100. Mas o indicador da margem bruta é apresentado sob a forma de uma percentagem: é o resultado da divisão do que fica para o vendedor face à receita que teve. O quociente é multiplicado por 100, para obter a percentagem. Voltando ao exemplo: os 100 que ficaram para o vendedor a dividir pela receita de 200 dão um resultado de 0,5, o que multiplicado por 100, dá uma percentagem de 50%.
A margem bruta pode ser relevante, porque ela pode ser usada como uma das estratégias de formação de preço.
E como é que se forma o preço?
Uma economia cada vez mais digital e aberta escancarou a porta ao preço “dinâmico” (varia consoante o momento) e à chamada “arbitragem” (cobrar mais a um do que a outro por uma questão de marketing, seja ela a marca, a geografia ou o perfil do comprador). Ainda assim, pode-se simplificar e resumir o mecanismo de formação do preço a três estratégias basilares: a margem bruta estratégica; […]