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Alterações climáticas: “Temos de produzir mais com menos”

“Temos de produzir mais com menos. É esse o nosso desígnio para o futuro e para este novo ciclo de investimentos”, defendeu a Ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, no âmbito do Dia Internacional contra as Alterações Climáticas (celebrado a 24 de outubro).

Face à data, o Centro Nacional de Competências para as Alterações Climáticas do Sector Agroflorestal (CNCACSA) convidou oito personalidades para escreverem um pequeno depoimento sobre a importância e os desafios que as Alterações Climáticas têm no panorama agrícola e florestal nacional e internacional, entre eles, Maria do Céu Antunes.

A responsável explica que “com o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), que entrará em vigor em janeiro de 2023, vamos reforçar a gestão ativa de todo o território, baseada numa agricultura para todos, mais produtiva, sustentável e democrática. Teremos mais apoio ao rendimento dos agricultores, para a sua capacidade produtiva e de modos de produção mais sustentáveis”.

Por sua vez, a diretora-geral adjunta da FAO, Maria Helena Semedo, defendeu que para enfrentar os desafios da crise climática, “nós devemos dar poder total aos agricultores, agropecuários, pescadores, responsáveis pela aquicultura e silvicultores, especialmente produtores de pequena escala, populações indígenas, mulheres, jovens, comunidades locais e marginalizadas e colocá-las na linha da frente das soluções climáticas”. “Colocar as pessoas no centro através de uma ação direcionada a nível local, e envolver os que estão em maior risco está no centro do trabalho climático da FAO”, declara.

Como se pode a agricultura adaptar às alterações climáticas?

O presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), Filipe Duarte Santos, foi outro dos responsáveis a contribuir para a iniciativa do CNCACSA. O responsável aponta que existem “essencialmente dois caminhos para responder ao desafio das alterações climáticas atuais e futuras designados por mitigação e adaptação”.“No setor da agricultura e da silvicultura, as medidas de adaptação devem centrar-se nos seguintes aspetos:

a) o tipo de culturas e florestas (a adaptação pode consistir em mudar ou melhorar a cultura/espécie/variedade tendo em conta os indicadores climáticos, especialmente a temperatura, a precipitação e a disponibilidade de água);

b) os sistemas de cultivo (incluindo as práticas e técnicas de gestão, bem como a rotação de culturas e os tempos associados);

c) o sistema de agricultura ou o sistema agroflorestal (inclui o agricultor e, portanto, a capacidade de adaptação, a capacitação técnica, o mercado, a regulamentação, os incentivos económicos, os mecanismos de proteção e informação, a diminuição das perdas no uso da água, a medição com precisão da quantidade de água que se usa, para gerir melhor um bem essencial que se está a tornar escasso).”

Já o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, defende que é “essencial gerir a água da melhor forma, para assegurar o seu uso eficiente e na medida do possível aumentar a sua disponibilidade nas épocas e nos locais onde escasseia”.

“O conhecimento e a tecnologia na área do regadio entraram numa espiral evolutiva exponencial desde já há algumas décadas, permitindo produzir eficazmente com menores dotações de água. Hoje regamos de forma mais eficiente, monitorizando com grande rigor as disponibilidades e as necessidades hídricas em cada momento, captando e armazenando água com o menor impacto possível, conferindo ao território e a todos os que nele vivem e trabalham uma maior capacidade de resiliência e de adaptação às alterações climáticas”, conclui.

Finalmente, o presidente da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri), Idalino Leão, identifica como “principais fatores críticos:

  • Sobrepor o conhecimento científico às questões ideológicas e levar a inovação e o conhecimento sobre as melhores tecnologias e as melhores práticas aos agricultores;
  • As ajudas públicas devem ser dirigidas aos agricultores que tenham uma gestão ativa e produtiva do território;
  • Garantir que os apoios existentes para a promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis são acessíveis a todas as regiões;
  • Assegurar um apoio técnico permanente e de proximidade aos agricultores, através das organizações agrícolas;
  • Reforçar os investimentos no regadio e a sua aplicação territorial equilibrada;
  • Evitar os riscos de transferência da produção nacional para países com menor redução de emissões ou a substituição de produtos portugueses por outros importados com maior pegada ambiental.”

Artigo publicado originalmente em Vida Rural.


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