Miguel Reis

ANIPLA Entrevista Miguel Reis Presidente Direção Groquifar

Como avaliaria o papel e sucesso da ANIPLA enquanto organização que defende os interesses do sector e da população, desde o seu nascimento até hoje? Qual a grande mudança que destacaria no espectro da atividade agrícola, nestes 30 anos que passaram?

Gostaria de começar por congratular a ANIPLA por estes 30 anos de atividade em prol do setor agrícola e do país.

A ANIPLA e a GROQUIFAR, como elos da mesma cadeia, vem conjugando interesses apesar de nem sempre terem visões coincidentes. Contudo, saliento o papel que a ANIPLA tem tido na otimização da gestão da opinião publica o que habitualmente, além de não se apresentar como uma tarefa fácil, também nem sempre é visto como politicamente correto e interessante.

Nos últimos anos foi efetivado um processo de iberização de muitas empresas a operarem no mercado europeu, o que gerou, de alguma maneira e num primeiro momento, a diminuição do poder decisivo em Portugal, com consequente redução do impacto do nosso país. Felizmente, uma longa travessia do deserto foi feita e a direção da ANIPLA voltou a ter o papel de realce que lhe compete na fileira nacional. Relativamente à GROQUIFAR, congratulamo-nos por, ao longo dos últimos 30 anos, termos conseguido dar uma determinante revitalização da divisão agroquímica que se viria a refletir numa clara aproximação à ANIPLA e através do diálogo alcançado, um caminho conjunto tem sido pelas duas associações. O que, no início, era uma relação mais institucional, evoluiu para o que setor conhece na atualidade: uma relação estreita e partilhada, traduzida numa colaboração integrada junto da Tutela face à regulamentação vigente e aos trabalhos do PEPAC e do Farm to Fork atualmente em cima da mesa.

Como avalia o impacto da tecnologia e novas técnicas de produção no setor agrícola e, concretamente, na forma como hoje nos alimentamos? Que mitos são necessários desfazer?

Temos a noção de que as novas tecnologias vão desempenhar um papel de destaque na realidade agricola e não podemos virar costas aos desenvolvimentos tecnológicos aplicados às culturas atuais. Um aspeto a ter também em conta é a sua utilização como ferramentas para minimizarem a falta de mão de obra com que a atividade já se depara neste momento.

As novas tecnologias poderão igualmente consolidar o contributo dado por via da otimização das necessidades de melhor gestão dos recursos imposta, também, face às exigências climáticas atuais. Ainda assim, se olharmos para o exemplo português, estamos cientes do diferencial da realidade nacional comparativamente ao cenário agricola europeu e de terceiros mercados, pelo que, consideramos que o principal foco da agricultura portuguesa deverá centrar-se na valorização da produção. E neste processo, a comunicação ao consumidor sobre as características e condições de produção de determinados produtos agrícolas e géneros alimentícios é determinante.

Para si, qual o maior desafio que o setor agrícola enfrenta atualmente? E em que medida a ANIPLA poderá reforçar o seu contributo para os próximos 30 anos?

O maior desafio europeu e mundial é o crescimento demográfico. A Europa vai ter de lidar com o crescimento demográfico e algum excesso de regulamentação face a outros mercados. Ou seja, o agricultor europeu irá ter no futuro menos ferramentas ao seu dispor em relação ao agricultor de mercados de países terceiros para alimentar uma população cada vez mais crescente gerando-se assim uma diferenciação negativa face aos mercados emergentes.

Espera-se que a ANIPLA, numa missão inerente à indústria, reforce o fornecimento de soluções sustentáveis e eficazes que permitam ao agricultor continuar a disponibilizar ao consumidor (e aos mercados) alimentos seguros, de qualidade e a valores acessíveis.

O papel da ANIPLA é também chegar ao consumidor, com uma comunicação clara e simples, que sensibilize, transmita tranquilidade e coloque em evidência a forma como se produz e a qualidade da produção agrícola nacional. Numa estratégia agregadora da melhoria da imagem do setor e, simultaneamente, de garantia de segurança alimentar para o consumidor. É crucial informar sobre o impacto da retirada de produtos fitofarmacêuticos e a sua tradução em produção agricola perdida e impacto no valor do cabaz de compras.

No âmbito da campanha contra a comercialização e uso de produtos fitofarmacêuticos ilegais, realizada em 2011 em colaboração com a Anipla, sente que a mesma teve um efeito direto e importante junto do setor agrícola? Que caminho há ainda a fazer?

Esta campanha surgiu com uma necessidade comum, face à entrada em vigor de legislação e a consequente necessidade de sensibilização dos players para o uso de produtos que cumprissem essa legislação nacional, condição imprescindível para puderem ser aplicados. Achamos que a campanha teve um forte impacto positivo e, fruto disso, nota-se que, ao longo dos anos, o mercado dos produtos ilegais tem reduzido, para o que contribuiu também a harmonização europeia dos preços dos produtos fitofarmacêuticos. Ainda assim, sentimos que muito há a fazer e o facto de continuarmos a ser confrontados com a procura de produtos não homologados, indicia que fará sentido o relançamento de uma nova campanha de sensibilização.

A GROQUIFAR renova as felicitações à ANIPLA pelo sucesso destes 30 anos e afirma o seu total apoio e disponibilidade para colaborar em ações de comunicação conjuntas da fileira e do consumidor. Concluo, afirmando que uma estratégia de comunicação simultânea e articulada (à fileira e ao consumidor) favoreceria o desmontar de mitos e a construção da justa imagem do nosso setor, alicerce do fornecimento de alimentos.

Miguel Reis Presidente Direção Groquifar

O artigo foi publicado originalmente em Fitosíntese.


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