O ano de 2020 é já considerado como um ano de míldio. Neste ano, a doença foi bastante difícil de controlar e qualquer descuido ou aligeiramento das medidas de prevenção e combate, deu origem a ataques graves e em alguns casos, a perdas significativas.
O que determina a ocorrência de um ano de míldio são, sobretudo, as condições de conservação das formas de resistência do fungo – os oósporos – durante o Inverno, bem como as condições meteorológicas na Primavera seguinte. De facto, no outono-inverno de 2019-2020 ocorreram na Região períodos chuvosos prolongados, permitindo a manutenção quase constante da humidade do solo, indispensável à sobrevivência dos oósporos, que se conservam nas folhas mortas caídas e semienterradas (Figura 1).
As condições do outono-inverno, permitiram não só a formação dos oósporos, como a conservação da sua vitalidade e a sua maturação e germinação, no final do inverno e início de primavera (Figura 2). Ao inverno chuvoso, seguiu-se uma primavera e início de verão com chuvas frequentes, elevado teor de humidade no solo e na atmosfera envolvente das vinhas, aliadas a temperaturas bastante favoráveis ao desenvolvimento da doença.
O inóculo de míldio bem conservado e as condições meteorológicas favoráveis, estiveram na origem de infeções primárias bastante extensas e virulentas, por vezes com ataques diretamente aos cachos (inflorescências), causando a sua destruição muito precoce. Registou-se também a infeção de inúmeros pâmpanos, com a sua perda e a dos cachos neles nascidos. O ataque às folhas foi também mais ou menos extenso, com perda de superfície foliar, reduzindo a sua capacidade de alimentar os cachos em formação e desenvolvimento.
A persistência de períodos de chuva e de humidade até ao final da Primavera e início do Verão, possibilitou sucessivas infeções secundárias, que continuaram a atingir os pâmpanos mais jovens, as folhas e sobretudo os cachos em todas as fases do seu desenvolvimento, até bastante tarde (rot brun).
Os viticultores dispõem de um leque de fungicidas anti-míldio que poderemos classificar em 3 categorias principais: com ação de contacto, penetrantes e sistémicos. Todos eles têm eficácia, mas apenas se forem utilizados nas condições corretas – aplicação no momento certo, escolha do fungicida mais adequado para cada período, alternância de famílias químicas dos produtos, respeito pelas doses, aparelhos bem regulados, velocidade da máquina adaptada às caraterísticas da vinha, respeito pelos intervalos de segurança, etc…
É também conhecida a importância das medidas culturais preventivas – corte regular dos revestimentos vegetais do solo das vinhas, desladroamento, despampa, desponta e desfolha, a fazer sempre de forma moderada e adequada a cada fase de desenvolvimento da Vinha.
No período imediatamente antes da Vindima, fizemos observações quantificadas, concluindo que as vinhas bem conduzidas e tratadas, apresentavam globalmente percentagens de perda da produção suportáveis (em média de 2,5%), apesar da forte pressão da doença e das dificuldades no seu controlo.
Por outro lado, vinhas em que possa ter havido alguma “distração” na condução da luta anti-míldio, podem apresentar perdas mais significativas, que quantificamos, em alguns locais, na ordem dos 14 a 18%. Constatamos frequentemente que muitos insucessos têm origem num insuficiente conhecimento da biologia do míldio e dos diversos meios de o prevenir e combater.
Casos extremos, de parcelas de vinha não tratadas, servindo de testemunhas “ad hoc”, apresentavam taxas de destruição total dos cachos (100%), ocorrida cedo, na floração-alimpa, bem como a perda quase total das folhas no início do verão.
Por fim, vinhas regularmente tratadas, mas situadas em locais desfavoráveis em termos de míldio, como vales de rios e terras mais fundas e com deficiente circulação do ar e acumulação de humidade por períodos prolongados do dia, também podem apresentar taxas de destruição da produção um pouco mais significativas, mas ainda assim toleráveis.
Apesar destas dificuldades, a maioria dos viticultores “seguraram” o míldio e obtiveram boas produções, em quantidade e qualidade.
Poderemos concluir que, com o conhecimento e os meios atualmente disponíveis (entre os quais se contam os Avisos Agrícolas), desde que sejam cumpridas as regras atrás referidas, é possível controlar o míldio e outras doenças e obter boas produções, mesmo em anos tão adversos como o que se aproxima agora do fim.
O artigo foi publicado originalmente na Circular n.º 20 da Estação de Avisos de Entre Douro e Minho.