O nascimento da APROLEP, Associação dos Produtores de Leite de Portugal, suscitou reacções de apoio, que registo com satisfação, algumas interrogações, que devem ser esclarecidas, e também críticas, que respeito mas, precisamente por respeitar, não posso ignorar e às quais, enquanto Presidente da Direcção, tenho o dever de responder.
Porquê uma nova associação? Porque o sector está mal e é preciso fazer alguma coisa, de preferência diferente do que se fez, com mais força, portanto, de âmbito nacional.
Não queremos concorrer com o trabalho das outras associações se estiver a ser bem feito. Mas vamos ouvir os produtores e levantar a voz para os defender. Há muito espaço nos jornais, na TV, na internet. Porque se fala tão pouco de agricultura? Porque andam todos tão calados?
Temos propostas diferentes das outras organizações: Há quem defenda mais ou menos RPU, mais ou menos desligado; Nós propomos a regras de mercado para um preço justo que permita viver da produção e dispensar ajudas. É utopia? Talvez. Pensar que vamos ter subsídios toda a vida também…
Acusaram-nos de “dividir”, de ser mais uma entre centenas de organizações agrícolas que existem. Mas se existem centenas, os agricultores já estão divididos. Está em curso algum processo para unir as associações? Desconheço.
Há quem proponha que se deve unir todas as organizações. Óptimo. Então, porque não o fizeram até agora? O sector está em crise há dois anos. Salvo algumas manifestações esporádicas a nível regional, houve algum trabalho conjunto, a nível nacional, para pressionar a indústria, o governo e a distribuição face às dificuldades dos produtores de leite? Estamos disponíveis para participar nesse trabalho conjunto, se envolver todas as organizações.
Não somos divisão, somos união: Nos corpos sociais da APROLEP, temos uma união de produtores de todas a regiões do país, de norte a sul, de nacionalidade portuguesa e holandesa; temos produtores que fornecem empresas como Agros, Lacticoop, Paiva, Proleite, Puleva, Racoop , Renoldi, etc, portanto gente que fornece a cooperativas e a privados, a Portugueses e Espanhóis.
Os produtores podem duvidar de uma nova associação, mas certamente não aceitam que as organizações agrícolas, ou os seus dirigentes, gastem o seu tempo de antena em ataques mútuos. Por isso a nossa resposta será o trabalho. Como dizia alguém, “cada um deve pedalar a sua bicicleta”.
Para começar, vou fazer algo diferente: interpelar o Ministro da Agricultura. Está no poder quase há 6 meses. Toda a gente elogiou a sua presença no terreno e as suas palavras mas, de concreto, o que é que este ministro já fez pelos produtores de leite? Quantas vacarias visitou? O anterior ministro previa 3000 abandonos, quais são os seus números? Que propostas tem para nos tirar da crise? Já organizou alguma conferência com as organizações agrícolas, com universitários, com produtores, etc, para estudar soluções? Defende a continuação das quotas leiteiras ou outro sistema de regulação? Já sentou à mesa a industria e a distribuição para valorizar o leite português antes que acabem os produtores nacionais? Está à espera de quê, Sr. Ministro?
Perante o poder instalado, seja no estado ou nas organizações agrícolas, há três caminhos possíveis: apoiar a posição ou colocar-se na oposição são os mais fáceis. Ser independente é o mais difícil, mas é um direito que temos e o caminho que nos parece mais certo para fazer alguma coisa positiva pelos produtores de leite.
Carlos Neves
Presidente da APROLEP E AJADP
PS – Alguém mal informado disse publicamente que a AJADP acabou, com o nascimento da APROLEP. Antes que o boato se espalhe, permitam-me que cite Mark Twain perante rumores do seu próprio falecimento: “as notícias da minha morte são manifestamente exageradas”. É verdade que a AJADP apoiou esta nova associação e vai apoiar a sua expansão, mas é fácil perceber a diferença de objectivos entre uma associação regional de jovens agricultores e uma associação nacional de produtores de leite. Há muito trabalho a fazer, saberemos dividir tarefas sem estorvar.
Proposta para a reforma da PAC: Pagar o justo pelo trabalho dos agricultores – Carlos Neves