O QUE ESTÁ EM CAUSA?
Em publicação num grupo de debate no Facebook, centrado em temas relacionados com plantação e agricultura, denunciam-se supostos malefícios e desvantagens da utilização de sementes do tipo F1 ou híbridas. Alega-se que estas sementes são “fecundadas artificialmente em laboratório” e que os alimentos que produzem são “pobres em vitaminas e nutrientes”, gerando “malefícios para a saúde física” de quem os consome. Verdade ou falsidade?
“Vamos rapidamente descobrir como funciona o reino milionário da industria sementeira e quais são os benefícios e malefícios para sua saúde física e financeira. Nas embalagens dessas sementes (F1) que foram fecundadas artificialmente em laboratório, apresentam-se lindas imagens de incríveis frutos e legumes. Essas sementes são uma criação do homem desenvolvido em laboratório, para garantir uniformidade, produtividade e resistência a doenças”, salienta-se na publicação em causa.
“Essas sementes produzem frutas e legumes pobres e medíocre em vitaminas e nutrientes, porque elas não foram concebidas com esse objetivo, a sua saúde não é a prioridade dos industriais, o modelo de negócio é gerar lucro, obrigando-o a comprar sementes continuamente a cada colheita”, denuncia o autor do texto.
Estas alegações têm sustentação factual?
Questionado pelo Polígrafo, Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), explica que as sementes híbridas são obtidas através do “cruzamento de duas variedades de uma espécie“, dando como exemplo o milho.
“Uma variedade de milho que tenha como característica produzir uma maçaroca grande é cruzada com uma variedade de milho que é resistente à seca”, o que ocorre através de um processo que Luís Mira denomina como “polinização entre sementes” e que dará origem, na geração seguinte, a uma semente que contém o “vigor híbrido“.
Em relação à forma como são produzidas estas sementes, o secretário-geral da CAP assegura que “o processo não decorre em laboratório” e que “em nada está relacionado com manipulação genética“, ao contrário do que é afirmado na publicação.
“As sementes híbridas são obtidas através de um cruzamento entres sementes que existem na natureza, são agricultores e produtores que se dedicam a este tipo de produção com recurso à capacidade natural das plantas“, esclarece.
Por sua vez, Elsa Gonçalves, professora no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, explica que a produção de sementes F1 visa “responder aos objetivos formulados pelos produtores e consumidores”.
Ou seja, “apesar de ser verdade que o foco da produção pode ser colocado exclusivamente no aumento de determinada característica do alimento”, a verdade é que “o mais frequente será contemplarem-se vários objetivos, entre eles o de se garantir o valor nutricional e as vitaminas e minerais presentes nos alimentos”, garante a docente.
Em suma, as principais alegações do texto são falsas, não têm fundamento científico.
O artigo foi publicado originalmente em Polígrafo.