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Aumento do pastoreio contribui para degradação de zonas áridas, alerta estudo

O aumento do pastoreio está a contribuir para a degradação de zonas áridas, como alguns locais do sul de Portugal, indica um estudo publicado na revista científica “Science” e feito em 25 países.

De acordo com os resultados do estudo, feito por uma equipa de mais de 100 investigadores, incluindo portugueses, o aumento da pressão do pastoreio reduziu a maioria dos serviços analisados em áreas mais quentes e pobres em espécies, disse Alice Nunes, investigadora portuguesa.

As alterações climáticas, levando a um aumento da aridez dos solos, não são compatíveis com o sobrepastoreio, conclui o estudo, no qual se defende a “importância de conservar e restaurar as comunidades vegetais para prevenir a degradação do solo, assegurar a prestação de serviços de ecossistema essenciais para os seres humanos e mitigar as alterações climáticas nas zonas áridas”, diz Melanie Köbel, que com Alice Nunes participou no estudo.

Alice Nunes explicou à Lusa que o estudo não coloca em causa o pastoreio, mas sim a sua intensidade, porque “uma intensidade de pastoreio muito alta tem um efeito negativo”.

O estudo teve em conta áreas de montado do Ribatejo e Alentejo, onde em várias zonas houve um aumento do pastoreio, e alerta que a presença de “mais animais tem consequências na degradação dos solos”.

“Queremos alertar para isso. Não defendemos o fim do pastoreio, mas alertamos que quando ele aumenta tem consequências na erosão dos solos, na diminuição da qualidade desses solos”, na regulação do ciclo hidrológico e na capacidade de esses solos reterem carbono, alertou Alice Nunes, do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (cE3c).

Em termos gerais, mas também aplicado no caso português, é preciso adaptar o pastoreio à realidade climática.

Alice Nunes notou que, devido a subsídios, a tendência é “aplicar a mesma receita em todo o lado”, sendo que a investigação mostrou que tal não faz sentido.

Em áreas mais frias e ricas em espécies, o estudo encontrou ainda efeitos positivos do pastoreio.

“Sujeito ao aumento da temperatura e às várias ameaças que impactam as espécies que abriga, a gestão do montado [e o país] beneficia do conhecimento produzido para ser capaz de enfrentar as crises ecológicas que o planeta atravessa”, diz-se num comunicado do cE3c.

Os investigadores notam no documento que o pastoreio representa uma fonte de subsistência para milhares de milhões de pessoas em todo o mundo, assumindo-se como um setor fundamental para a construção de um futuro mais sustentável.

O pastoreio, acrescentam, é uma das atividades que mais área conquistou em todo o mundo, incluindo as mais áridas que, muito embora ocupem mais de 40% do planeta, albergam mais de metade de todo o gado existente nas suas pastagens.


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