Ao contrário do que parece a quem vive nas vilas e cidades portuguesas, apenas 5% do nosso território está ocupado por construções – edifícios, estradas e outras infraestruturas. Os restantes 95% são florestas, campos agrícolas, matos e pastagens, lagoas e rios… Esta vastidão da paisagem é percetível, sobretudo, a partir de pontos elevados. Os baloiços panorâmicos e os miradouros suspensos por lá instalados são uma excelente forma de a descobrir.
Nos últimos anos estes equipamentos panorâmicos têm-se multiplicado, com dezenas de baloiços e miradouros inaugurados por todo o país. Alguns permitem-nos ficar a centenas de metros de altura, sobre serras e desfiladeiros, enquanto outros nos levam a recantos escondidos, entre bosques frondosos e águas correntes.
Uns e outros são um excelente pretexto para alargar horizontes e apreciar a grandiosidade e beleza destas paisagens que nos escapam no dia-a-dia. Eis algumas sugestões, em zonas mais montanhosas do Centro e Norte, entre caminhadas e mergulhos, em comunhão com a natureza.
Baloiço panorâmico de Trevim, no ponto mais alto da Serra da Lousã
O ponto mais alto da Serra da Lousã, a 1200 metros de altitude, é o Alto de Trevim e é ali, numa área de vegetação esparsa e terra batida, que fica o baloiço de Trevim. Quando a neblina permite, a vista alonga-se sobre cumes sucessivos, pontuados pelos verdes e castanhos que a Serra preserva por dezenas de quilómetros.
Para desfrutar da vista e da sensação de grandeza desta paisagem, pode seguir-se a Rota do Trevim – PR4 LSA, um percurso pedestre circular, considerado difícil, de 13,5 quilómetros, com partida e regresso à aldeia de xisto do Candal.
O caminho embrenha-se pela floresta, subindo depois para zonas que abrem horizontes e levam ao topo da Serra, hoje alterado pela presença de gigantes eólicas. Daí alcança-se o baloiço panorâmico de Trevim. O regresso faz-se por carreiros íngremes entre arvoredo e encostas xistosas, até que o murmúrio da ribeira anuncia de novo a proximidade da aldeia do Candal.
A instalação deste baloiço, tal como de outros pontos de interesse criados na Lousã, foi uma iniciativa de um grupo de jovens locais, que quis dar a conhecer os recantos destas terras e, nesse sentido, criou o projeto “Isto é Lousã”. Perto do castelo de Arouce, na praia fluvial da Nossa Senhora da Piedade instalaram um outro baloiço – Baloiço do Burgo – para balançar sobre as águas que descem da cascata, por entre a frescura do leito e a sombra do denso arvoredo. Balançar com os pés sobre as águas só costuma ser possível na época de verão, quando o caudal está mais baixo (confirme com a Câmara da Lousã se este baloiço está funcional).
No concelho de Coimbra, a que pertence a Serra da Lousã, há pelo menos uma dezena de baloiços panorâmicos. Baloiço da Carriça, na Serra do Açor, Baloiço da Boavista, no topo da Pampilhosa da Serra, e Baloiço de Góis são outros exemplos.
Uma homenagem ao lobo, no baloiço de Penalobo, perto do Sabugal
Uma cabeça de lobo, com um coração no centro e um baloiço no meio. É assim o baloiço panorâmico do Penalobo (Coordenadas GPS: 40.39592, -7.20285), uma iniciativa do Centro Recreativo e Cultural local, que quis homenagear o animal que deu nome a esta terra, localizada a cerca de 13 quilómetros do Sabugal.
No passado, o lobo-ibérico foi por aqui presença comum, mas tornou-se mais raro nesta região do Sabugal (e Malcata), que corresponde sensivelmente ao limite sudeste da sua área de distribuição. Considerado como uma espécie “Em Perigo” em Portugal, pensa-se que, das 50 a 60 alcateias existentes em Portugal, menos de 10 vivem abaixo do Douro.
A Rota Penha do Lobo – PR5 SBG é um ponto de partida para o baloiço de Penalobo. Trata-se de uma rota circular de quase 11 quilómetros, desde uma zona da aldeia, onde subsistem pequenos lameiros e várias represas em pedra, que seguem o curso de um ribeiro, até à cumeada, passando pelo que resta do povoado fortificado da Serra das Vinhas e pela Quinta da Retorta.
Pelo caminho, as vistas abrem-se ao horizonte e do cabeço pedregoso onde repousa este inédito baloiço o olhar percorre afloramentos graníticos, pequenas parcelas agrícolas e, mais longe, matos de giesta, carvalhais e pinhais. A grande distância, com o tempo limpo, pode até avistar-se a Serra da Estrela.
© Câmara Municipal do Sabugal
Escondido na serra, por detrás deste baloiço, encontra-se um espelho de água, alimentado por uma nascente serrana, que foi transformado em praia fluvial. Chamam-lhe zona de lazer do Mosqueiro e convida a uma refrescante pausa, antes de tomar o caminho de regresso.
No concelho do Sabugal, há pelo menos mais cinco baloiços panorâmicos. Entre eles, está, por exemplo, o Baloiço da Machoca, uma estrutura de madeira mais tradicional que permite balançar a dois (junto ao Posto de Vigia da Machoca) na Reserva Natural da Serra da Malcata; e o Baloiço da Eirinha, uma estrutura que lembra uma pauta musical, na aldeia da Bendada, com vistas para a Serra da Estrela e a Serra da Gardunha.
Miradouros suspensos sobre o Vale do Tua
Há mais de 25 miradouros no Vale do Tua. Alguns dos mais emblemáticos são os miradouros suspensos. Há mais, mas dois deles estão em Alijo e Carrazeda de Ansiães.
O Miradouro do Ujo é um. Fica entre as localidades de São Mamede de Ribatua e Safres, no concelho de Alijó (Estrada Municipal 596), e é um palco suspenso, com vista para um amplo troço do vale do Tua, com as águas a serpentear por entre encostas inclinadas e salpicadas pelos castanhos e verdes das terras, rochas e vegetação. O miradouro é uma espécie de varanda aberta para o vale, no topo de uma escadaria, uma obra assinada pelo arquiteto Henrique Pinto e pelo Engenheiro Filipe Calisto.
Não muito longe, fica o Miradouro Olhos do Tua, em Carrazeda de Ansiães. É outra moderna estrutura suspensa, que permite uma ampla panorâmica do rio. A forma deste miradouro, projetado pelo escultor Paulo Moura, representa a quilha de um barco, aludindo à navegabilidade do Tua.
Além dos acessos por estrada, é possível chegar a este Miradouro numa caminhada de perto de quatro horas pela pequena rota PR2 CRZ – Trilho do Senhor da Boa Morte. Este é um percurso circular considerado algo difícil, que tem início (e fim) perto da Junta de Freguesia de Castanheiro do Norte e Ribalonga. O caminho sobe em direção ao miradouro, descendo depois em direção ao rio. Nesta descida, entra-se na Microrreserva Castanheiro – Ribalonga e segue-se para a aldeia de Tralhariz, locais onde podem observar-se bosques de castanheiros e zonas de sobreiros, azinheiras e zimbros. O percurso leva ainda a outro miradouro – o Miradouro do Senhor da Boa Morte – e só depois se regressa ao ponto inicial.
Refira-se que esta região está integrada no Parque Natural Regional do Vale do Tua, que conta com sete microrreservas, consideradas como locais de grande biodiversidade. A Microrreserva Castanheiro – Ribalonga preserva uma notável área de flora, com bosques frescos e húmidos, abrigados entre as águas e as paredes rochosas quase verticais.
Também na região do Vale do Tua, no Monte da Senhora da Lapa, perto de Vila Flor, temos outro dos baloiços panorâmicos portugueses instalados em miradouros. Chamam-lhe Baloiço da Lapa e a estrutura hexagonal que o suporta está a 700 metros de altitude. Daqui não se vê o Tua, mas é possível obter amplas vistas sobre a vila e os concelhos em redor.
A mirar o Douro, do miradouro e do baloiço da Boneca
O Miradouro e o Baloiço da Boneca ficam próximos, ambos na encosta da Serra da Boneca, em Sebolido, Penafiel, e proporcionam amplas vistas sobre o Douro, muito perto do local onde as suas águas se misturam com as do ribeiro do Corgo.
Do Engenho do Azeite, em Sebolido, até ao miradouro (na foto) e, depois, até ao baloiço da Boneca, o caminho é relativamente curto e de dificuldade moderada.
Este é o início da Pequena Rota “A Boneca, o baloiço e o Douro” – PR5 PNF, um percurso de quase nove quilómetros (circular, em forma de oito), que se torna mais difícil e irregular à medida que a subida prossegue pela Cascalheira e até ao Planalto, perto do topo da Serra, de onde continuam a avistar-se as encostas do Douro, numa panorâmica que se estende até às portas do Porto.
No regresso, o caminho volta a atenuar-se e segue junto às margens do Douro. É aí que fica o Parque de Lazer do Sebolido, que constitui um convite para uma paragem refrescante, antes de seguir o caminho de regresso até ao ponto de partida.
Além da beleza da paisagem, vale a pena admirar a diversidade de vida que se encontra (e se esconde) desde as margens às encostas mais elevadas. Na flora, não faltam as giestas e urzes, os medronheiros e azevinhos e as grandes árvores, como os carvalhos, castanheiros, pinheiros-bravos e eucaliptos. Já na fauna, é possível avistar inúmeras aves, vários anfíbios e, com sorte, alguns mamíferos, como a toupeira e o ouriço.
Há dezenas de miradouros e baloiços panorâmicos ao longo do Douro, com vistas sobre o rio. Um deles fica em Penedo Durão (foto de topo), alguns quilómetros a sul da vila de Freixo de Espada à Cinta. Outro, o baloiço de São Gens, fica em Santa Maria de Sardoura, Castelo e Paiva, com vistas para a ribeira da Sardoura e a Serra da Boneca.
Miradouro da Fraga do Puio: a flutuar sobre o Douro internacional
Ainda no Douro, há um outro miradouro que vale a pena descobrir, tanto pela vista sobre a garganta fluvial do sector internacional deste rio, como pela arquitetura da sua plataforma, renovada em 2018 após um incêndio, e que termina agora num género de triangulo suspenso, com chão de vidro.
O Miradouro da Fraga do Puio fica no extremo sul da aldeia de Picote, concelho de Miranda do Douro, e a plataforma está suspensa a 610 metros de altitude, sob arribas quase verticais até às águas.
Ao caminhar sobre esta plataforma, os visitantes parecem pairar sobre este desfiladeiro escavado pelas águas, que se abre a dois troços profundos do Douro, numa curva acentuada.
A paisagem é admirável, mas agreste, e além das vistas desafogadas, oferece outro atrativo por perto: um painel natural de pequenas dimensões, onde se pode observar “O arqueiro da Fraga do Puio”, uma figura gravada na pedra há vários milénios (pensa-se que date de entre 5000 e 2000 a.C.).
O local integra-se na zona Norte do Parque Natural do Douro Internacional e é percorrido pela Grande Rota do Douro Internacional e Douro Vinhateiro – GR36, num total de 176 quilómetros.
No concelho de Miranda do Douro, o percurso desta Grande Rota é de 41,4 quilómetros e liga esta cidade a Sendim, passando antes pelo Picote, sempre em paisagens de grande contraste, entre o vale escarpado, o rio e o amplo planalto mirandês.
Há vários miradouros e plataformas de observação com chão transparente em Portugal, para que nada impeça a vista e a sensação de proximidade com a paisagem. É este o caso do Miradouro Suspenso no monte de Nossa Senhora da Conceição, na aldeia do Castelo, em Moimenta da Beira, a 770 metros de altura. Na ilha da Madeira, há várias plataformas transparentes, como esta na foto, que permite uma visão desimpedida sobre o Cabo Girão.
Baloiço de Sampaio, entre as águas e o arvoredo, perto em Cinfães
Em vez de estar num ponto elevado como a maioria dos baloiços panorâmicos, este encontra-se a poucos metros do chão – neste caso, do leito –, aninhado num recanto tranquilo de água e verde. Suspenso sobre as águas correntes, proporciona, uma incrível vista para a queda de água do ribeiro Sampaio.
O baloiço encontra-se nas proximidades de Mourilhe, uma pequena povoação nos arredores de Cinfães, onde uma curva das águas do Douro dá lugar a este ribeiro. O curso de água começa por formar uma pequena lagoa, mas esconde-se depois entre um frondoso arvoredo e precipita-se por declives rochosos acentuados, com fraturas que originam várias cascatas, entre as quais a queda de água do ribeiro Sampaio.
O curso de água está integrado no Parque de Lazer do Ribeiro Sampaio, um local pouco divulgado, mas de grande beleza natural, com frondosos bosques ribeirinhos onde se encontra uma grande diversidade de plantas e árvores, desde fetos a amieiros, freixos, lódãos-bastardos e loureiros.
A densa cobertura verde e as águas correntes contribuem para um ambiente fresco e húmido, que é convidativo também para várias espécies de fauna. Destacam-se anfíbios como o tritão-de-ventre-laranja e o lagarto-de-água, e até mamíferos como a lontra.
O acesso à queda de água onde se situa este baloiço faz-se através de um trilho estreito, que começa no parque de merendas de São Cristóvão, no Parque de Lazer do Ribeiro Sampaio.
O Parque de Lazer do Ribeiro Sampaio é o último ponto de paragem do roteiro do Douro – um dos nove que integram a Rota da Água e da Pedra que, por sua vez, faz parte da Grande Rota Pedestre das Montanhas Mágicas – GR60.
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