A Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores, em conjunto com a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, a Sociedade Científica de Suinicultura e a Faculdade de Medicina Veterinária implementou um estudo para avaliar o nível de biossegurança em explorações de suínos em Portugal.
Na atual crise sanitária da Peste Suína Africana na Europa, doença para a qual não existe tratamento ou vacina, a vigilância e a prática de biossegurança nas explorações de suínos são fundamentais para a prevenção do seu alastramento a novas áreas e Estados Membros. Também a erradicação da Doença de Aujeszky e a manutenção dos estatutos indemnes das explorações exigem, cada vez mais, níveis elevados de biossegurança.
A biossegurança é um dos pilares da sanidade animal, permitindo prevenir a introdução e a propagação de doenças animais transmissíveis e consequentemente os seus impactos negativos na produção pecuária. A biossegurança diz respeito a um conjunto de medidas físicas e de gestão que devem ser aplicadas diariamente pelos produtores, sob a orientação do médico veterinário responsável sanitário.
Acresce que na Lei da Saúde Animal (Regulamento (UE) n.º 2016/429) que entrou em aplicação em abril de 2021, encontra-se referido que os produtores e quem lida com os animais, são responsáveis por implementar determinadas medidas de biossegurança, pelo que a Comissão irá estabelecer requisitos mínimos necessários para uma aplicação uniforme das mesmas em todos Estados Membros, através de uma decisão de execução.
A sustentabilidade da internacionalização da fileira, onde a certificação sanitária é basilar, requer dos produtores que a prática de biossegurança e sua avaliação seja evidenciada e garantida pela Autoridade Sanitária Veterinária Nacional, sempre em colaboração com a fileira.
O questionário aplicado aos agentes económicos do setor da suinicultura serviu de base a um estudo coordenado pela Faculdade de Medicina Veterinária que permitiu identificar uma realidade em relação à biossegurança que pode ser melhorada, tendo em conta os impactos económicos ao nível das explorações, mas que aponta para um nível de biossegurança atual das explorações portuguesas bastante positivo de 72,4 pontos numa escala até 100 pontos.
Para avaliar a biossegurança de uma exploração devem-se atender às barreiras exteriores das explorações (biossegurança externa) e às barreiras interiores das explorações (biossegurança interna).
Os critérios avaliados para aferir sobre o nível de biossegurança externa foram aspetos relacionados com a localização da exploração, como vedação do perímetro externo, acessos fechados, existência e funcionalidade de rodilúvio, entre outros, aspetos relacionados com a entrada de animais e material genético, com o transporte de animais, com o fornecimento de água e alimentos, com a remoção de efluentes e cadáveres, com a entrada de funcionários e visitas, com o fornecimento de materiais diversos e com o controlo de roedores e aves.
No que diz respeita à biossegurança interna foram avaliados os procedimentos tidos para o controlo de doenças, o maneio no parto, desmame, recria e engorda, as medidas adotadas entre setores e linhas de trabalho, os protocolos de utilização de equipamentos e os procedimentos de limpeza e desinfeção da exploração.
Com a aplicação do questionário às explorações portuguesas foi possível aos empresários e responsáveis sanitários fazer uma autoavaliação e revisão dos procedimentos em matéria de biossegurança, identificando claramente os aspetos que importa reforçar com vista a blindar a sua produção à entrada de agentes patogénicos indesejados.
David Neves, Presidente da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores enaltece o estudo conduzido pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa referindo que “a biossegurança é a nossa única arma para impedir a entrada da Peste Suína Africana nas nossas explorações. A doença está erradicada no nosso país, mas teve impactos significativos na produção portuguesa nos anos 80. Desde então, Portugal e Espanha levaram a cabo um plano de erradicação da PSA assente no reforço dos princípios da biossegurança, sendo ainda hoje exemplo para todo o mundo as medidas aplicadas na Península Ibérica no que concerne à biossegurança das explorações”.
Sobre os resultados alcançados no inquérito de resposta voluntária, o responsável federativo refere que “o relatório demonstra capacidade de resiliência das explorações portuguesas aos vetores de propagação de doenças, mas importa incentivar os produtores a investirem cada vez mais em medidas de biossegurança que, não sendo investimentos produtivos, são investimentos preventivos e que vêm também garantir aos consumidores e aos agentes da fileira a confiança que nesta atividade se produz com elevados padrões sanitários”
A peste suína africana (PSA) é uma doença viral que afeta os suínos domésticos e javalis de qualquer idade. Tem um elevado impacto social, económico e ambiental, devido à elevada mortalidade dos suídeos e aos bloqueios no comércio. O vírus da PSA não representa qualquer perigo para a saúde humana. Também não existe vacina nem tratamento para esta doença, pelo que os procedimentos de biossegurança são a única defesa sanitária disponível para o bloqueio da transmissão deste vírus.
O último foco de Peste Suína Africana em Portugal foi a 15 de novembro de 1999.
Fonte: Let’s talk about pork