Foram os oásis a vencer os prémios máximos do Porto/Post/Doc — oásis criativos, oásis naturais, oásis de memória. Numa edição que se pautou pelo questionamento do mundo moderno, os júris das competições principais optaram por dar os principais prémios a obras que apostam numa desaceleração propositada do olhar e do estar: Bogancloch, visita ao “esconderijo” discreto de um eremita escocês dirigida por Ben Rivers, e Espiral em Ressonância, o relato da criação da Mediateca Onshore na Guiné-Bissau por Filipa César e Marinho de Pina. Os prémios foram entregues no Batalha Centro de Cinema ao fim da tarde deste sábado, antes do encerramento oficial da 11.ª edição do festival.
O Grande Prémio Vicente Pinto Abreu para melhor filme da Competição Internacional coube a Bogancloch, estreado na última edição do Festival de Locarno. O filme do veterano artista multimédia britânico Ben Rivers acompanha, quase sem diálogos, o quotidiano em comunhão com a natureza do eremita Jake Williams, no Aberdeenshire. O júri composto pelos curadores Isabel Carlos e Niklas K. Engstrøm e pelo investigador e cineasta Philip Widmann descreve-o como “um filme que não é sobre, mas com”, envolvendo o espectador numa “textura material de coexistência”.
Na competição Cinema Falado, dedicada a filmes de temática ligada à diáspora portuguesa, as críticas e programadoras Ana Cristina Pereira, Catherine Bizern e Juliette Canon escolheram, pela passagem que cria “entre um período de fervor militante e o presente”, “promovendo a partilha e a transmissão de conhecimento”, a obra Espiral em Ressonância, que teve estreia mundial no Festival de Berlim e foi igualmente exibida no Doclisboa. A longa-metragem de Filipa César e Marinho de Pina regista a criação e instalação, na aldeia guineense de Malafo, da Mediateca Onshore, um centro cultural comunitário onde está também sediada a memória das lutas pela independência do país.
O júri da secção Transmission (Isilda Sanches, Colm Forde e João Vieira), dedicada a documentários sobre música, escolheu Teaches of Peaches, dos alemães Philipp Fussenegger e Judy Landkammer, que acompanhou a digressão do 20.º aniversário do álbum seminal da artista canadiana Peaches. Na competição Cinema Novo (curtas-metragens em contexto escolar), Carole Desbarats, Daniel Pereira e Mickaël Gaspar premiaram Uma Crosta de Ferro, de Vasco Barbedo.
Finalmente, a bolsa criativa de residência artística a um projecto cinematográfico ao redor da história sociogeográfica da cidade do Porto, intitulada Working Class Heroes, coube este ano a A Cidade e os Seus Mapas, projecto de Alexandra Guimarães e Gonçalo Almeida. O Porto/Post/Doc 2024 estreou na quinta-feira o filme vencedor da bolsa 2022, Variações sobre como Cultivar uma Cidade, de Mónica Martins Nunes.