O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ironizou na quinta-feira com a intenção do seu homólogo francês, Emmanuel Macron, produzir soja na Europa para não depender do país sul-americano e pressionar o Brasil a preservar a Amazónia.
“Pelo amor de Deus, senhor Macron, não compre soja do Brasil, porque assim você não desfloresta a Amazónia. Compre soja da França. A França produz 20% da soja que a cidade de Sorriso produz aqui, no estado de Mato Grosso”, disse Bolsonaro, em tom irónico, na sua transmissão semanal em vídeo na rede social Facebook.
“Não fale besteira [asneiras], senhor Macron, você não conhece nem o seu país e fica dando pitaco [palpites] aqui do Brasil”, acrescentou o chefe de Estado brasileiro
Bolsonaro referia-se às declarações feitas esta semana por Macron, um forte crítico das políticas ambientais do atual Governo brasileiro, e que sujeitou o acordo comercial entre o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia ao compromisso do Brasil em preservar a Amazónia.
Num vídeo gravado ao lado de produtores rurais do seu país, Macron propôs a criação de uma “soja europeia” para pressionar o Brasil a honrar os seus compromissos ambientais e reduzir a desflorestação e as queimadas na Amazónia e no Pantanal.
“Quando importamos a soja produzida a partir da floresta destruída no Brasil, nós não estamos a ser coerentes. […] Precisamos da soja brasileira para viver? Vamos começar a produzir soja europeia ou equivalente”, disse Macron, na terça-feira, num vídeo partilhado na rede social Twitter.
“Continuar a depender da soja brasileira seria apoiar a desflorestação da Amazónia. Somos consistentes com as nossas ambições ecológicas, estamos a lutar para produzir soja na Europa”, escreveu ainda Macron na mesma rede social.
Para Bolsonaro, o Governo francês “não tem que falar em reflorestação ou em dar dinheiro”. “Quanta floresta a França tem?”, questionou o Presidente do Brasil.
“Não precisa de nos dar dinheiro, não. Nós vamos dar mudas de árvore para você replantar aí, reflorestar aí. Quer reflorestar o seu país? Nós estamos à disposição para colaborar nesse sentido”, acrescentou Bolsonaro, que acusou Macron de mentir e pregar contra o Brasil.
Na sua transmissão em direto no Facebook, Bolsonaro voltou a referir-se à decisão anunciada pela multinacional automóvel norte-americana Ford de encerrar as suas três fábricas no país sul-americano, como parte da reestruturação das suas operações na América Latina, após quase um século de atividade.
“A Ford, respeitosamente, mesmo com subsídios, foi incapaz e deixou-se levar pela concorrência. Então, os asiáticos, carros chineses, coreanos, vieram ao Brasil e sufocaram a Ford”, avaliou Bolsonaro.
“Lamentamos profundamente o que aconteceu, mas, num país democrático, onde a liberdade de mercado é respeitada, quem dá lucro permanece, quem não dá lucro fecha”, concluiu.
Na terça-feira, Bolsonaro lamentou a perda de 5.000 empregos no país após o anúncio da Ford de suspender a fabricação de automóveis e disse que a empresa norte-americana escondeu parte da verdade, porque o que a companhia queria era “mais subsídios”.
Macron diz que depender da soja do Brasil é apoiar desflorestação da Amazónia