Permite diversificar as pastagens, melhorar a fertilidade do solo e a dieta animal na pecuária, além de manter o pasto produtivo por mais tempo. Está lançada a primeira variedade de amendoim forrageiro no Brasil, pelas mãos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Trata-se de uma espécie propagada por sementes, para ser consorciada com gramíneas forrageiras, e já foi apresentada em plantações demonstrativas a agricultores do município de Rio Branco, do estado do Acre, no extremo norte do país.
Segundo Bruno Pena, chefe adjunto de transferência de tecnologias da Embrapa Acre, a nova cultivar de amendoim forrageiro é uma alternativa para a intensificação da atividade pecuária, com baixo impacto ambiental. “Além de reduzir custos na implantação de pastagens consorciadas, já que as cultivares propagadas por mudas necessitam de muita mão de obra, visa melhorar o acesso a sementes de qualidade. Por ser importado de outros países, o quilo do produto chega a custar 200 Reais (32€) no mercado brasileiro. Com a BRS Mandobi (nome com o qual foi batizada) os preços serão mais compatíveis com a realidade dos produtores rurais”, afirma.
Os investigadores demoraram cerca de 20 anos para conseguir desenvolver esta variedade, que foi trabalhada no âmbito do projeto “Desenvolvimento de cultivares de amendoim forrageiro para uso em sistemas sustentáveis de produção pecuária”, executado pela Embrapa Acre, em parceria com unidades de outros estados brasileiros e especializadas em gado de corte e de leite e a Associação para Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), entidade que reúne mais de 30 empresas do setor de produção de sementes.
A variedade já está registrada no “Sistema Nacional de Proteção de Cultivares” do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) brasileiro, para proteger a propriedade intelectual dos desenvolvedores. O amendoim foi produzido em campos experimentais e o objetivo agora é acelerar a comercialização, sendo que ao produtor.
Captura de nitrogénio é um dos destaques
Como principal característica da planta, a nova variedade destaca-se por possuir a capacidade de capturar nitrogénio do ar e fixá-lo no solo, em função da associação da planta com bactérias que vivem na terra. De acordo com o investigador da Embrapa Acre, Judson Valentim, em consórcios com 30% de amendoim forrageiro na sua composição, é possível incorporar até 150 quilos de nitrogénio na pastagem, o equivalente a 330 quilos de ureia, obtidos de forma natural.
“Este resultado proporciona uma economia anual de cerca de 600 reais por hectare (cerca de 93€), para o produtor rural, que deixa de gastar em adubos nitrogenados. Além de suprir a necessidade de nitrogénio nas pastagens, a baixo custo, o amendoim forrageiro possui um elevado teor de proteína bruta, entre 18 e 25%, nutriente que melhora a qualidade da forragem e o desempenho produtivo do rebanho. Bem consumida pelo gado, a planta proporciona aporte proteico à dieta animal, fator que reduz a emissão de carbono no ar, contribuindo para mitigar os impactos ambientais da produção de carne e leite a pasto”, explica.
Para Marcos Roveri, gerente da Unipasto, os consórcios de gramíneas e leguminosas tem um alto valor agregado, pois são uma estratégia eficiente para promover de forma contínua a sustentabilidade pecuária na Amazónia e outras regiões do País. “Apostamos nesses sistemas por acreditar na viabilidade e competitividade e nos ganhos reais para a produção de carne e leite e para o meio ambiente”, afirma.
Além da diminuição da pegada ambiental, a produtividade também pode ser comprovada nos resultados dos ensaios em campos experimentais. Segundo o pesquisador Maykel Sales, em pastos formados exclusivamente com gramíneas, a produtividade potencial foi de 24 arrobas de peso vivo/hectare/ano, apenas com suplementação mineral. Já em pastagens consorciadas, a produtividade saltou para 35 arrobas de peso vivo/hectare/ano.
“Embora alcançado por parâmetros rigorosos de pesquisa, esse resultado é fantástico se comparado com a produtividade média da pecuária nacional, em sistemas completos de cria, recria e engorda, de seis arrobas de peso vivo por hectare/ano em pastos puros. Em consórcios conduzidos de forma convencional, em propriedades rurais familiares do Acre, a produtividade mínima é 12 arrobas de peso vivo/hectare/ano, o dobro da média nacional”, enfatiza o investigador.
Produção e manejo
Em relação à produção, as pesquisas com a BRS Mandobi mostraram que a cultivar é produtiva, chegando a render cerca de três mil quilos de sementes/hectare, além de ser resistente a doenças, tolerar bem o alagamento do solo e a seca. Outra característica bastante importante é de ser altamente persistente no pasto e apresentar elevada compatibilidade no consórcio com gramíneas e eficiência no processo de sementeira.
Segundo os pesquisadores, esta nova variedade também se caracteriza por ser altamente adaptável e versátil, sendo compatível com diferentes tipos de forrageiras em distintos biomas brasileiros. “Adaptada para os biomas Amazônia e Mata Atlântica, a cultivar pode ser utilizada em consórcio com diferentes gramíneas forrageiras, incluindo os capins Marandu, Xaraés, Piatã, Humidícola, Tangola, Decumbens, Mombaça, Massai e a Grama-estrela”, explica a Embrapa.
De acordo com a pesquisadora Giselle de Assis, coordenadora da Rede Nacional de Melhoramento de Amendoim Forrageiro, “quando bem manejadas, as pastagens consorciadas com amendoim forrageiro apresentam maior longevidade e garantem a manutenção da produtividade da forragem por meio da fixação biológica de nitrogénio no sistema, processo que reduz custos com adubação nitrogenada e aumenta a produtividade animal. Nesse cenário, a BRS Mandobi pode ampliar o uso dessa leguminosa na intensificação da produção pecuária a pasto”, explica.
Em relação aos métodos de implantação de consórcios e os cuidados com o manejo de pastagens com a nova cultivar de amendoim forrageiro, a Embrapa recomenda o uso de 10 a 15 quilos de sementes da BRS Mandobi para formação de um hectare de pastagem consorciada, alternativas de plantio para formação de novas pastagens consorciadas e em pastos já estabelecidos, a redução em 30% da taxa de semeadura da gramínea e a realização do primeiro pastejo, quando a forrageira cobrir totalmente o solo.
“Além disso, a preparação da área com grade ou enxada-rotativa, para o plantio em faixas, e cuidados no manejo da pastagem como a aplicação de herbicida glifosato, na dosagem recomendada, diminuem a competição da gramínea com a leguminosa e ajudam a assegurar o pleno estabelecimento do amendoim forrageiro na pastagem”, explica o técnico Carlos Maurício de Andrade.