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Brasil: Polinização aumenta produção agrícola, mas depende de áreas de vegetação natural

No Brasil, estima-se que a polinização realizada por animais como abelhas, moscas e morcegos gere um valor econômico de 43 bilhões de reais por ano na agricultura. Em artigo publicado na revista Environmental Science & Technology, pesquisadores foram além e mapearam a importância dos polinizadores para a agricultura em cada um dos municípios brasileiros. O estudo considerou a área, a diversidade de culturas agrícolas e o quanto cada cultura depende de polinizadores. Além disso, identificaram a demanda de restauração de áreas naturais para garantir a presença de polinizadores nos cultivos agrícolas.

A presença de vegetação nativa próxima às áreas cultivadas maximiza a polinização e melhora a produtividade e a manutenção da cultura agrícola. “Dadas as projeções de aumento da demanda global por alimentos, há uma necessidade urgente de reverter a tendência atual de expansão agrícola, promovendo práticas agrícolas sustentáveis”, explicam os autores. Nesse contexto, é importante desenhar políticas ambientais que integrem a conservação da biodiversidade e a polinização das culturas considerando as especificidades de cada localidade, como por exemplo, na escala de municipalidades.

“Procuramos desenvolver alguns indicadores integrando polinização, usos da terra e o cumprimento da legislação ambiental e, neste contexto, os municípios são unidades administrativas importantes, e devem ser consideradas de acordo com suas especificidades”, destaca Pedro Bergamo, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e um dos autores do estudo que envolve vinte e um colaboradores do Programa SinBiose/CNPq (Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos). Pela Embrapa, a pesquisadora Márcia Maués também assina o artigo.

Primeiro os pesquisadores analisaram as principais culturas agrícolas brasileiras, identificando aquelas em que a polinização realizada por animais resulta em aumento da produção e retorno monetário. Esse conjunto envolve 90 cultivos diferentes que vão desde a abóbora e o cacau, cuja produção aumenta até 100% com a presença desses animais, até a uva (aumento de até 10%), passando pela soja, laranja e café, cuja produção pode aumentar entre 10 e 40%.

Usando dados de produção agrícola e área de cultivo, os pesquisadores estimaram esse aumento de produção e retorno monetário para cada município brasileiro, classificando-os em quatro faixas de demanda por polinização. Verificaram, também, a importância dos cultivos para cada município, incluindo a diversidade agrícola: dos locais caracterizados pela monocultura e grandes propriedades àqueles com maior diversidade de cultivos característicos de pequenas propriedades rurais.

Outra informação analisada diz respeito ao déficit de vegetação natural de cada município, isto é, a diferença entre a quantidade de vegetação natural existente e as áreas exigidas por lei. Os municípios foram classificados de acordo com esse déficit. De um lado, aqueles que têm poucas áreas de vegetação natural e precisam de maior esforço de restauração. Do outro, os que já contam com as áreas de vegetação natural e, portanto, precisam conservar tais áreas para garantir o excedente da produção agrícola resultante da presença de polinizadores

A partir da correlação entre essas métricas foi possível elaborar um ranking de prioridades para restauração e conservação da vegetação natural que tenham como foco a importância da polinização para cada localidade. Cidades como Anápolis (GO) e Alta Floresta (MT), que estão na zona de expansão da soja, Ilhéus (BA) na zona cacaueira ou Itapeva (MG) na zona produtora de café, são municípios com recomendação de alta prioridade para restauração de suas áreas de vegetação natural tendo como foco o aumento da polinização e, portanto, de suas produções agrícolas. Já Apuí (AM), Xique-xique (BA) e São Félix de Balsas (MA) são municípios cuja recomendação é a prioridade da conservação de suas áreas de vegetação para garantir, assim, a produção agrícola local.

“Esperamos que o estudo ajude a auxiliar no planejamento das iniciativas de restauração ecológica em sintonia com a agricultura e a polinização, reconciliando a conservação da biodiversidade e a produção agrícola”, finaliza Pedro Bergamo.

Açaí – Para a pesquisadora Márcia Maués, da Embrapa Amazônia Oriental, os dados apresentados no artigo vêm corroborar outros estudos que apontaram a importância da floresta nativa para a presença de polinizadores. Um deles indicou que o açaizeiro é potencialmente polinizado por mais de cem espécies de insetos. “Se não houver áreas de florestas, não haverá essa quantidade de espécies que são importantes para polinizar o açaizeiro”, conclui. De acordo com a pesquisadora, além da manutenção das áreas de vegetação nativa, uma medida importante seria que elas fossem conectadas, formando corredores ecológicos para melhor servir como repositório dos polinizadores.

O artigo foi publicado originalmente em Embrapa.


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