Breve reflexão sobre os Imigrantes em Portugal: Integração ou Ilusão? | Por Paulo Oliveira

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Nos últimos anos, Portugal tem-se tornado cada vez mais um destino para milhares de imigrantes em busca de melhores condições de vida. São pessoas que fogem da pobreza, da guerra ou simplesmente procuram oportunidades dignas — muitas vezes em setores onde os portugueses já não querem trabalhar. No entanto, apesar dos números em crescimento e dos discursos políticos que enaltecem a diversidade, a verdade é que estamos a falhar na parte mais importante: a integração.

A presença de imigrantes é inegavelmente essencial para a nossa economia. Sem eles, grande parte da agricultura, construção, restauração e serviços simplesmente pararia. Portugal, marcado pelo envelhecimento da população e pelo declínio da natalidade, recorre à imigração como um pilar para sustentar a economia e o Estado Social.

Em 2022, os imigrantes contribuíram com 1 861  milhões de euros para a Segurança Social, recebendo apenas 257  milhões de euros em prestações – um saldo líquido positivo de 1 604  milhões de euros.

Em 2023, esse saldo subiu para 2 194 milhões de euros, com 2 677  milhões de euros em contribuições e apenas 483  milhões de euros em benefícios. Já em 2024 (até agosto), registou-se um saldo de 1 818  milhões de euros, fruto de 2 198  milhões de euros depositados versus 380  milhões de euros recebidos .

Entre 2023 e 2024, essas contribuições atingiram 3,6 mil milhões de euros, representando 12–13% do total das receitas da Segurança Social, com os imigrantes a pagar cinco vezes mais do que a que recebem. Em 2024, só os trabalhadores brasileiros foram responsáveis por 1 372  milhões de euros, cerca de 37,6% da contribuição estrangeira.

Além do alívio financeiro no sistema público, os imigrantes preenchem setores essenciais: representam cerca de 30% da força de trabalho na agricultura e pescas, e 22% no turismo, alojamento e restauração — setores onde há escassez grave de mão-de-obra.

Mas o que fazemos, enquanto sociedade, para os acolher de forma digna? Muito pouco. E isso tem consequências.

Hoje, em bairros periféricos de cidades como Lisboa, Amadora ou Faro, há zonas onde os imigrantes vivem em condições precárias, amontoados em habitações indignas, sem acesso a transportes, saúde ou segurança. As escolas estão sobrecarregadas, com turmas onde uma parte significativa dos alunos não domina o português, sem os recursos adequados para os apoiar. Estamos a preparar estas crianças para um futuro de oportunidades ou de exclusão?

Pior ainda, muitos destes imigrantes vivem em situações de exploração laboral, aceitando salários miseráveis por medo de perderem o pouco que têm. Trabalham, mas continuam na ilegalidade, à espera durante meses — ou até anos — de uma autorização de residência, presos numa teia burocrática que nem o novo organismo AIMA conseguiu resolver até agora.

Entretanto, cresce entre nós o discurso do “nós contra eles”. A perceção de que os imigrantes “ocupam” os hospitais, “sobrecarregam” as escolas ou “roubam” empregos, é alimentada por ignorância e aproveitada por partidos populistas como o Chega. Esquecemo-nos, convenientemente, de que a maioria paga impostos, trabalha mais horas e com menos direitos do que muitos de nós aceitaríamos. Esquecemo-nos, também, de que os números não mentem: os concelhos com mais imigração não são os mais perigosos — muitas vezes, são os mais produtivos.

Mas não basta que os imigrantes trabalhem ou que paguem impostos. A integração só é verdadeira se houver respeito mútuo. E isso implica também que quem chega a Portugal compreenda, aceite e respeite a cultura, os usos e os costumes do país que os acolhe. A convivência harmoniosa exige esforço de ambos os lados. As tradições portuguesas, os valores democráticos, a língua e a forma de viver devem ser preservadas — não substituídas. Não se trata de rejeitar a diversidade, mas de não permitir que o multiculturalismo mal gerido leve à fragmentação identitária ou à descaracterização de zonas urbanas.

A paisagem urbana, sobretudo nos centros históricos, visivelmente no centro de Lisboa, nomeadamente na Rua do Bem Formoso, tem sofrido alterações visíveis com a proliferação aqui e além, de forma desordenada, de negócios informais, sinais em línguas estrangeiras e arquiteturas dissonantes. É essencial garantir que a presença de novas comunidades não contribua para descaracterizar o tecido urbano e o património cultural. A integração deve ser feita com equilíbrio — enriquecendo o país, sem apagar aquilo que o define.

Do ponto de vista sociológico, a integração de imigrantes na sociedade de acolhimento é um processo dinâmico, recíproco e multifacetado, em que os imigrantes se tornam parte funcional e reconhecida da sociedade para onde se mudaram — sem que isso implique perda da sua identidade cultural, nem anulação da cultura dominante. A este respeito o imigrante mantém elementos da sua cultura de origem, mas adota os valores fundamentais da sociedade de acolhimento. Este é o modelo mais equilibrado e socialmente desejável.

Ao não integrar, estamos a criar guetos, a desperdiçar vidas, talento e a alimentar um futuro de tensão e divisão. A exclusão dos imigrantes hoje é o terreno fértil para o conflito social amanhã. Não há integração sem políticas sérias: ensino da língua, reconhecimento de qualificações, combate ao trabalho precário, investimento nos bairros onde estas comunidades vivem e, acima de tudo, uma mudança cultural. Precisamos deixar de tratar os imigrantes como mão de obra descartável e passar a vê-los como parceiros, colegas, cidadãos. Mas também precisamos que eles aceitem as regras da casa.

Portugal tem uma história de emigração marcada por saudade, sacrifício e resiliência. Sabemos bem o que é estar do outro lado. A questão é: vamos continuar a repetir os erros de outros países ou vamos construir uma sociedade mais justa, coesa e verdadeiramente inclusiva, sem perder a nossa identidade?

A escolha é nossa. Mas o tempo está a esgotar-se.

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