Dois focos dos mil pés foram detetados na ilha de Santiago, praga que levou ao embargo de produtos agrícolas de Santo Antão desde 1984, anunciou hoje o ministro da Agricultura e Ambiente cabo-verdiano.
“O Ministério da Agricultura e Ambiente acaba de confirmar a existência de dois focos dos mil pés na ilha de Santiago, numa casa no Tarrafal e noutra na Praia. Os dois focos estão interligados, já que as casas pertencem ao mesmo dono”, anunciou o ministro.
Em conferência de imprensa, na cidade da Praia, Gilberto Silva deu conta que os especialistas fitossanitários visitaram o local, recolheram as amostras e identificaram a praga em jardins das duas casas, e não em terrenos agrícolas.
“Trata-se de uma situação muito séria, anormal, muito preocupante, pelo que, à semelhança do que aconteceu em 2013, o ministério tudo fará para, de imediato, circunscrever aqueles focos, eliminar a praga e fazer de tudo para que a situação volte a normalidade”, perspetivou.
Por isso, avançou que já está em curso um plano operacional, que consiste na destruição das plantas nessas casas e o tratamento fitossanitário de todo o espaço envolvente, com produtos químicos e a quarentena de toda a zona onde a praga foi identificada.
“Esta é uma medida profilática, ou seja, a proibição também da movimentação da terra, da deslocação e circulação de plantas para outras localidades nos concelhos e fora dela”, prosseguiu o ministro, indicando que o ministério vai fazer uma prospeção “muito mais abrangente” em toda a ilha de Santiago, a maior de Cabo Verde.
Segundo o governante, o plano operacional consiste ainda no reforço do sistema de inspeção, sobretudo nos portos e aeroportos, e também a sensibilização e informação de todos os cidadãos e da sociedade no geral sobre os mil pés.
Gilberto Silva garantiu que o Governo e as outras autoridades cabo-verdianas tudo farão para que a praga não atinja outras localidades e terrenos agrícolas e apelou a toda a sociedade a colaborar no sentido de transmitir a informação correta e impedir que a praga se propague.
Questionado sobre a origem e sua quantidade desses dois focos, o ministro respondeu que ainda é cedo para dizer com segurança como e quando entrou na ilha de Santiago, sendo uma matéria que vai ser investigada.
“Os técnicos hão de trabalhar no sentido de ver o que é mais importante, mais premente agora, é a circunscrição dos focos e a eliminação não só da praga, mas das condições que favoreceriam a manutenção da praga nestes focos”, apontou.
Os mil pés, uma espécie de centopeia, mas com muitos mais pés, que comem plantas, tubérculos e raízes, são conhecidos na ilha de Santo Antão desde os anos 70, quando começaram a dar nas vistas no vale da Ribeira Grande, zona de agricultura de irrigação.
Mas há 37 anos tomaram a proporção de uma praga de tal ordem que as autoridades não tiveram outro remédio senão proibir a exportação de produtos agrícolas de Santo Antão, deixando apenas que chegassem à vizinha ilha de S. Vicente.
Em 2013, surgiu um foco em São Nicolau, mas que está completamente controlado.
O ministro disse que, para já esses dois focos não justifiquem outra medida que não seja o controlo e a vigilância epidemiológica, descartando por isso o embargo de produtos agrícolas da ilha de Santiago.
Quanto à ilha de Santo Antão, disse que não há razões para o levantamento do embargo, explicando que as condições que levaram ao impedimento da exportação ainda se mantém, embora os agricultores contestam a medida, pedindo o embargo por zonas mais afetadas.
“Agora, com o surgimento desses focos na ilha de Santiago, e poderia acontecer noutra ilha, leva-nos todos a refletir mais e dizer: é necessário reforçarmos as medidas de prevenção, para não estarmos a pôr em causa a agricultura nas outras ilhas onde não há a praga”, salientou.
Na ilha de Santo Antão, a mais a norte do arquipélago, Gilberto Silva disse que se deve continuar o trabalho de controlo da praga, já que estudos indicam que não vai ser possível a sua completa eliminação, mas também apostar numa agricultura adaptada e na transformação dos produtos.
“Esta é a estratégia que nós devemos adotar, em vez de nós continuarmos sempre a defender o levantamento do embargo. Seria bom que nós conseguíssemos levantar o embargo, mas melhor ainda se nós impedíssemos que a praga atingisse outras ilhas”, referiu.
O ministro relembrou ainda um protocolo assinado entre o Governo de Cabo Verde, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) e a China para um projeto de combate a praga dos mil pés, acreditando que vai dar uma “boa contribuição”, sobretudo na investigação, e com ações concretas para controlo desses bichos.