O primeiro-ministro cabo-verdiano afirmou hoje que o país não se tem limitado a “gerir as emergências provocadas pelas crises” da seca, pandemia e inflacionista, mas está a investir na resiliência, desde logo com investimentos na agricultura.
“Não nos limitamos a gerir as emergências provocadas pelas crises, mas investimos no aumento da resiliência”, afirmou o chefe do Governo, ao intervir na abertura do anual debate sobre o estado da Nação, que decorre hoje na Assembleia Nacional, na Praia.
Recordou que segundo o Banco Mundial, Cabo Verde é “um dos 15 países do mundo mais afetados pela crise económica e social provocada pela pandemia”: “Fizemos uma boa gestão da pandemia. Protegemos pessoas, famílias, trabalhadores e empresas. Devemos ter orgulho pelo facto de Cabo Verde ser dos cinco países africanos com maior nível de vacinação, muito superior às médias mundiais e da África subsaariana”.
O primeiro-ministro acrescentou que as secas severas que acontecem há mais de quatro anos no arquipélago “provocaram quebra da produção agrícola e da contribuição da agricultura no Produto Interno Bruto”.
“As famílias rurais foram as mais afetadas, tiveram quebra na produção e no rendimento, com forte impacto na sua economia e na situação alimentar e nutricional. Programas de mitigação da seca e de maus anos agrícolas têm sido implementados desde 2017”, disse.
Segundo o chefe do Governo, estes programas são #em benefício dos agricultores, dos criadores de animais e das famílias das zonas rurais que investimos mais de 2,5 milhões de contos [2.500 milhões de escudos, 22,5 milhões de euros]” e o Governo continua “a investir para reduzir os impactos da seca no rendimento para famílias mais afetadas, assegurar a atividade pecuária e mobilizar água para a irrigação e para o consumo humano”.
No âmbito desses programas de mitigação da seca, Ulisses Correia e Silva garantiu ao parlamento que foi feito um investimento “em trabalhos públicos que empregaram cerca de 53 mil trabalhadores”, além da bonificação de ração de animais ruminantes, beneficiando mais de 32 mil criadores, créditos a taxa de juro zero, projetos de mobilização de água para agricultura e gado e apoio social a mais de 2.000 famílias afetadas, 62% das quais chefiadas por mulheres.
“Estas medidas e a tenacidade e resiliência dos agricultores, criadores e famílias permitiram resistir aos efeitos da seca e continuar a produzir mesmo em condições muito difíceis”, reconheceu Ulisses Correia e Silva.
Sublinhou que apesar deste quadro, foi ainda possível aumentar o consumo doméstico de água canalizada em Cabo Verde através da rede pública de 38 litros diários por pessoa em 2015 para os atuais 64 litros, aumentando igualmente a taxa de cobertura da rede de água domiciliária 66,4% em 2015 para 85,1% em 2020.
Os objetivos traçados pelo primeiro-ministro neste debate preveem “massificar redes de abastecimento de água para garantir a todas as famílias o acesso ao abastecimento de água por meio de rede pública e o consumo médio per capita para 90 litros por dia”, bem como “aumentar significativamente a produção e distribuição de água dessalinizada e água reutilizada para a agricultura”.
Os objetivos passam ainda “massificar o uso das energias renováveis na produção de água para a agricultura” e do uso de rega gota a gota, mas também “viabilizar e valorizar as barragens construídas lá onde é possível”, acrescentou.
“São investimentos que tocam a vida das pessoas, melhoram a sua qualidade de vida e melhoram a resiliência do setor agrário”, apontou Ulisses Correia e Silva.
A Assembleia Nacional de Cabo Verde discute hoje o estado da Nação, debate anual que encerra o ano parlamentar, quando o país vive uma “emergência social e económica”.
Depois de dois anos (2020 e 2021) marcados pelo impacto da crise económica provocada pela pandemia de covid-19 e ausência de turismo, setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) e do emprego, a escalada de preços no mercado internacional, provocada pela guerra na Ucrânia, volta a criar dificuldades à economia cabo-verdiana em 2022.
O debate sobre o estado da Nação encerra os três dias de sessão parlamentar, que se iniciou na quarta-feira, e marca o fim do ano parlamentar, com a interrupção dos trabalhos, habitualmente, até meados de setembro.