Há uma tempestade mais do que perfeita a abater-se sobre a sociedade portuguesa e são vários os alertas deixados por responsáveis dos setores relacionados com o consumo dos portugueses
Entre os agricultores, os produtores de carne, leite, pão e ovos e os industriais do sector alimentar não há memória de uma situação tão grave como a que o país enfrenta atualmente. À seca e à escalada de preços na energia e nos combustíveis juntou-se a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, dois dos maiores fornecedores mundiais de cereais, que gerou uma subida descontrolada do custo de várias matérias-primas essenciais para a produção alimentar e que pode provocar uma escassez que obrigará à imposição de racionamentos em Portugal. A espiral de subida é tal que há fornecedores de farinhas a fixar o preço ao dia. No retalho, a venda de óleo de girassol — necessário para as conservas — já está a ser restringida. E os animais para consumo humano só têm ração até abril. Os preços de vários produtos básicos vão disparar 20% a 30% já nos próximos dias, tornando-se inacessíveis a milhares de famílias de baixos rendimentos. “As carências alimentares vão atingir um nível como há muitos anos não se via”, avisa Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar contra a Fome.
O alerta é partilhado pelo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa: “Estamos numa situação de emergência alimentar como não me lembro de se ter vivido.” Perante a subida dos custos da energia e do gasóleo, que se agravou com a guerra, há agricultores que vão desistir de produzir várias culturas sazonais, como milho, hortícolas e algumas frutas, para não terem prejuízo. “Assim, além de um aumento de preços, haverá carência de produtos, o que leva à especulação, que, por sua vez, leva a um novo aumento. É impossível saber até onde vai chegar a escalada”, conclui. Em alguns casos, a CAP admite mesmo que venha a ser decretado um racionamento. “O stock de alguns produtos, como a farinha para massas, é tão reduzido que daqui a um ou dois meses podemos ter de fazer racionamentos como aconteceu nos anos 70.” […]
Este é um artigo do semanário Expresso, esta sexta-feira nas bancas