“Carne Para Audiências”: Recusa da APIC em participar em programas sem ética – Graça Mariano

Na edição da semana passada, tive necessidade de explicar a razão pela qual a APIC se recusou a aparecer no programa Linha da Frente da RTP, da responsabilidade da jornalista Mafalda Gameiro. Programa emitido no canal português de serviço público. Esta semana volto ao assunto, porque foi emitida a segunda parte do tal programa, na passada segunda-feira, dia 16 de maio de 2022.

Eu não vi. Recusei-me a fazer parte das audiências de um programa sem rigor técnico, de um programa que apenas pretendeu ser sensacionalista e criar polémica, para as audiências. A questão é essa, vale tudo para as audiências! Mas estamos a falar de um canal publico, um canal apoiado pela Estado, o mesmo que nos cobra impostos e depois os distribui, entre outros, pela RTP, a qual nos entra pelas nossas casas, em horário nobre, com despautérios inconcebíveis.

Os leitores deste boletim informativo, percebem do que falo, do que deixo aqui relatado. Com certeza também comungam desta opinião, de que não podemos fazer parte de programas que lançam a suspeita de que os nossos operadores económicos são apenas “um grupo de malfeitores que tudo fazem por dinheiro!” “Que não querem saber da segurança dos alimentos que produzem!”.

Isso não é verdade!

Por esta razão, não podemos estar presentes em programas que têm como objetivo-“Denegrir a imagem de quem produz carne e outros alimentos”.

Naturalmente, que compete aos jornalistas identificar os temas a abordar jornalisticamente, fazer os contactos que entenderem e produzirem o trabalho final sem condicionamentos ou interferência de terceiros. Contudo, produzir trabalho jornalístico, nomeadamente reportagem ou notícia, não é produzir opinião. É obrigatório respeitar a pluralidade de fontes, o contraditório, o rigor e a veracidade da informação e dos factos, estas premissas têm que ser ponto de honra.

O trabalho jornalístico está obrigado a respeitar o código deontológico dos jornalistas. Caso tal não suceda, deveria haver mecanismos adequados de denúncia, e subsequentes medidas sancionatórias, mas estamos em Portugal, o que torna muito difícil concluir este tipo de processos.

Afinal os jornalistas não têm que ser leais e profissionais e garantirem o rigor científico?

Podem induzir em erro? Podem ocultar para obter o que pretendem? Não!

Não outra vez! Por isso, mesmo tendo feito a entrevista, a APIC recusou-se a fazer parte desta fantochada. Não vale tudo!

Sobre o tal programa Linha da Frente, do dia 16 de maio de 2022, onde não quisemos aparecer, tanto quanto me informaram, (eu não vi, soube por terceiros), terá aparecido um agricultor de cara tapada a dizer que injeta hormonas nos vitelos, após o desmame? Mas quem é esta gente, quem instrumentaliza este suposto agricultor? A troco de quê? Alguma vez um agricultor iria injetar o que quer que fosse, após o desmame? Que loucura é esta? Não deveria haver um profissional, um técnico a desmontar este teatro? A informar que não seria sequer economicamente viável? Que tanto tempo não seria uma mais-valia em termos de desenvolvimento muscular? Ouvimos este absurdo e consentimos?

Também me relataram que foram colhidas amostras para serem analisadas noutro país. Contudo, o resultado obtido foi abaixo do limite máximo de resíduos (LMR) legislado, e a jornalista terá apresentado a conclusão que: ”…….o resultado estava abaixo do LMR, mas a substância proibida estava no alimento!!!….” Ora, lamentavelmente, e mais uma vez, se falou do que não se sabe, sem rigor, pois as substâncias proibidas não têm LMR, se são proibidas, não poderiam aparecer, não podem ser detetadas. Pois, se fossem detetadas, não interessaria sequer o valor, já estariam em inconformidade.

É claro que este programa pretende diabolizar os alimentos de origem animal, é claro que se trata de jornalistas que têm um objetivo, acabar com o setor da carne, do peixe, do leite, dos ovos, de todos os setores relacionados com produtos de origem animal. Por isso nos recusámos a aparecer. Não queremos estar relacionados com tanta falta de ética!

Por isso é tão importante termos um movimento que comunique de forma proativa. Por isso, o movimento para comunicar a uma só voz, faz tanto sentido!


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