Cebal integra maior unidade de investigação agrícola e ambiental

O Cebal, instalado em Beja, é um dos quatro centros de investigação que integram o recém-criado MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento. Segundo a diretora executiva do Cebal, a constituição da nova unidade de investigação representa “novas oportunidades para o território, a criação de mais valor por via do conhecimento e um importante fator de atratividade e fixação para novos recursos humanos altamente qualificados”.


Texto: Nélia Pedrosa
Fotografia: José Ferrolho


O Cebal – Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo, instalado em Beja, é um dos quatro centros de investigação que integram o recém-criado MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento. Os outros são o Icaam – Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas e o Cibio-Évora, ambos da Universidade de Évora, e o MeditBio, da Universidade do Algarve. Esta nova unidade, “com classificação de excelente”, conta com cerca de 320 investigadores no total, onde se incluem 175 investigadores doutorados e 64 alunos de doutoramento, sendo os restantes colaboradores e técnicos. Segundo diz a diretora executiva do Cebal ao “Diário do Alentejo”, esta “será a maior unidade de investigação nacional em temas que integram a agricultura e floresta, a alimentação, o ambiente e o desenvolvimento rural”. A nova unidade de investigação conta “com investigadores experientes, especialistas em sistemas produtivos e ecossistemas do Mediterrâneo, com equipas multidisciplinares que atuam nas áreas da conservação dos recursos, das alterações climáticas, na agricultura e no território, na biotecnologia, entre outras”, realça Fátima Duarte. Na perspetiva do Cebal, a constituição do MED “reforça estrategicamente” o trabalho desenvolvido por cada uma das instituições integrantes, “mantendo a sua estrutura de base, mas permitindo, de uma forma mais colaborativa e integrada, o desenvolvimento de áreas técnico-científicas de grande impacto nacional e internacional”. E representa “novas oportunidades para o território, a criação de mais valor por via do conhecimento e um importante fator de atratividade e fixação para novos recursos humanos altamente qualificados”.

Fátima Duarte salienta que os investigadores “têm um novo e unificador desafio, que permitirá criar mais escala, completar sinergias, participar em mais redes de colaboração nacionais e internacionais, potenciar recursos numa nova dinâmica para o desenvolvimento técnico-científico do Alentejo, com grande visibilidade nacional e internacional”, sendo esta a linha prioritária do Cebal. “As linhas prioritárias do Cebal não se alteram com a integração dos seus investigadores doutorados no MED. São, sim, reforçadas pelo trabalho em rede, pelas novas parcerias, pelo acesso partilhado a novos equipamentos, e pelo reforço financeiro que a avaliação de Excelente acarreta”, reforça a responsável, salientando que desde 2015 investigadores doutorados do Cebal vinham trabalhando com o Icaam – Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas, “cujas linhas de trabalho eram, em vários pontos, complementares ao trabalho desenvolvido” pelo centro de investigação de Beja. Num futuro próximo, avança a diretora executiva, esta integração no MED irá significar um aumento do número de investigadores, “quer por via do financiamento concedido, quer pela atratividade da unidade de investigação”, e, consequentemente, “das instituições que lhe estão associadas”. Fátima Duarte reforça ainda que esta integração “criará mais condições para consolidar a equipa atual, trazendo mais estabilidade às equipas, e consequentemente um, ainda, melhor desempenho institucional”.

NOVAS INSTALAÇÕES NO PRAZO MÁXIMO DE DOIS ANOS

Dividindo-se em três laboratórios, em instalações cedidas pelo Instituto Politécnico de Beja – na Escola Superior Agrária e em antigos “barracões” de madeira instalados no campus –, uma situação que não é considerada a ideal, o Cebal poderá vir a ter nova sede num prazo máximo de dois anos, adianta ao “Diário do Alentejo” o presidente da direção do centro de investigação, Rui Marreiros. “Depois de diversas tentativas foi possível encontrar uma solução que se está a desenhar dia-a-dia, mas que nos permite acreditar que teremos novas instalações num prazo razoável que se estima que se possa estender no máximo até dois anos. Esta mudança, absolutamente essencial para os destinos do Cebal e da investigação na região, só está a ser possível em face da aposta clara da Câmara de Beja que, para além de ceder o terreno, preparou uma candidatura a fundos comunitários e atribui um subsídio de 150 000 euros para fazer face à componente nacional necessária ao investimento, assumindo claramente um objetivo de reforço na transferência do conhecimento, do desenvolvimento tecnológico e da inovação para o concelho de Beja”. Rui Marreiros reforça ainda que a estratégia para o Cebal “passa seguramente também por uma aproximação à valorização de recursos fundamentais para a região, com um destaque importante para o recurso água”. “Atravessamos um período em que o fenómeno das alterações climáticas, com tudo o que lhe está associado, surge como um dos maiores desafios que seguramente enfrentaremos no futuro. Será absolutamente fundamental a partilha de informação e o aproveitamento de todas as capacidades instaladas nestes centros de conhecimento, assente numa forte articulação entre si e com a comunidade”, diz.

CINCO MILHÕES DE EUROS DE INVESTIMENTO APROVADO

Tendo iniciado a sua atividade científica em janeiro de 2008, o Cebal, que conta atualmente com uma equipa de cerca de 40 investigadores, tem vindo a desenvolver “múltiplos projetos” relacionados com o sobreiro, pinheiro manso, porco alentejano, esteva, cardo, azeite, romã, resíduos agroalimentares e agroflorestais, entre outros, e que, no seu conjunto, “ajudam a responder a questões cada vez mais práticas, com uma crescente aptidão de transferência de conhecimento e de tecnologia”. Sem querer destacar um projeto de investigação em particular, a diretora executiva do Cebal salienta, sim, a estratégia que desde 2015 têm vindo a seguir “na construção de um pilar absolutamente fundamental para o Cebal, mas, principalmente, para a competitividade do território”, a já mencionada transferência de conhecimento e tecnologia, envolvendo empresas, entidades públicas e privadas, assim como investigadores, professores e estudantes.

Segundo a responsável, atualmente o centro aguarda a análise de cinco candidaturas submetidas na área da transferência de tecnologia, no valor de 674 262,28 euros. O Cebal conta ainda com um valor global de quase cinco milhões de euros de investimento aprovado em diferentes programas de financiamento (Compete 2020, Alentejo 2020, PDR 20202, Coopera 20202 e FTC), o que, no seu entender, “demonstra bem a dinâmica desta equipa jovem, muitíssima motivada”. Os vários projetos de investigação desenvolvidos pelo Cebal ao longo destes 12 anos de atividade têm permitido “integrar muitos jovens investigadores que decidem fazer o seu percurso profissional com o Cebal”, para além da produção de vários artigos técnico- científicos e livros, registo de patentes, participações em congressos nacionais e internacionais, orientação de alunos de mestrado e doutoramento, interações com as empresas, organização de eventos de divulgação do conhecimento, transferência de tecnologia, entre outros. Indicadores que mostram também “a perceção que os nossos pares científicos têm do Cebal, o que potencia a atratividade da nossa instituição, não só para novas parcerias, mas também para a atração de recursos humanos altamente qualificados”, diz Fátima Duarte.

Sendo uma entidade privada, sem fins lucrativos, o Cebal “gere no seu dia a dia enormes desafios do ponto de vista financeiro”, salienta a investigadora. A quase totalidade dos projetos financiados no Cebal “exige uma contrapartida nacional”, o que tem vindo a obrigar o centro “a aumentar as suas receitas próprias”. Segundo a diretora executiva, as quotas de todos os sócios, os subsídios das câmaras, nomeadamente, Beja e Ferreira do Alentejo, e as atuais prestações de serviços têm permitindo fazer fase às necessidades. “Mas a sustentabilidade financeira continua a ser um desafio no presente”, pelo que aumentar as receitas próprias, “por via da potenciação de prestação de serviços diferenciadores”, é a estratégia que tem vindo a ser implementada, “e que terá de ser reforçada no futuro”.

Fátima Duarte destaca ainda como “absolutamente crucial” a ligação do Cebal ao tecido empresarial e lembra que o centro conta “já com um histórico importante de experiências em projetos, parcerias, prestações de serviços, desenvolvimento de soluções ‘à medida’, que permitem uma boa rede de contactos e de conhecimento crescente na iniciativa privada que permitirão potenciar no futuro esta aproximação dos dois mundos identificada desde há muito como uma das chaves para o desenvolvimento da região”. E dá como exemplo “desta dinâmica” entre parceiros o Centro de Transferência e Tecnologia (CTT), uma unidade que nasceu a partir da “casa mãe” Cebal e que resulta de um protocolo estabelecido entre a Câmara de Ferreira do Alentejo “com a missão específica de reforçar a transferência de tecnologia e do conhecimento científico para o meio empresarial”. A atuação do CTT “assenta em quatro pilares fundamentais que passam pela transferência de tecnologia e/ou consultoria tecnológica, mas também com objetivos centrados na dinamização de atividades de investigação que possam evoluir para iniciativas de incubação tecnológica ou empresarial”, conclui.

O artigo foi publicado originalmente em Diário do Alentejo.


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