A China publicou hoje um plano para desenvolver a produção interna de carne de porco, um item cada vez mais importante nas exportações portuguesas para o país asiático, visando atingir a autossuficiência nos próximos dez anos
O documento oficial estabelece como meta para a produção nacional garantir 95% do consumo interno de carne de porco — a principal fonte de proteína animal na cozinha chinesa, com mais de 22 quilos consumidos por pessoa por ano.
A diretriz enfatiza o objetivo de “controlar variações anormais de produção e venda”, após severas interrupções provocadas desde 2019 por surtos de peste suína africana.
Esta doença, cuja mortalidade pode chegar a 100% entre suínos e javalis, reduziu em 60% o número de porcos na China e fez disparar o preço da carne de porco no país e a nível global.
As compras ao exterior duplicaram em 2020 para atender à procura, beneficiando também os produtos portugueses.
De acordo com dados do IFAP — Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas de Portugal, o país asiático foi o segundo melhor cliente da carne de porco portuguesa, adquirindo um total de 56 milhões de euros, valor superado apenas por Espanha.
O documento apresentado em conjunto pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma — o principal órgão de planeamento económico do país — e quatro ministérios (Agricultura, Finanças, Meio Ambiente e Comércio) pediu o reforço da “prevenção de surtos de peste suína africana” e “da regulação das reservas governamentais de carne suína” para “garantir o abastecimento e estabilizar os preços”.
O novo “padrão de desenvolvimento” do setor vai ter como objetivos a “alta performance, o respeito ao meio ambiente, a segurança alimentar e a conservação de recursos”.
As instituições que produziram o documento ficarão responsáveis por “orientar o ritmo das importações de carne suína com base na ciência”, levando em consideração a “procura do mercado e a capacidade de produção nacional”.
Segundo o especialista chinês Lin Guofa, citado pelo portal de notícias económicas Yicai, as importações chinesas de carne suína representam entre 2% e 2,5% da oferta total e entre 4% e 5% quando o suíno nacional sobe de preço e a sua oferta é reduzida.
A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma anunciou em julho a sua intenção de “organizar a produção de maneira racional” para “evitar flutuações drásticas nos preços”.
A carne de porco é parte essencial da cozinha chinesa, compondo 60% do total do consumo de proteína animal no país.
Segundo dados oficiais, os consumidores chineses comem 55 milhões de toneladas de carne de porco por ano. Escassez e interrupções nas cadeias de fornecimento na China devido aos surtos de peste suína causaram um aumento da inflação nos bens alimentares.