João Dinis

“Chuvadas dos milhões” para a Agricultura não atingem o terreno

Assim, não mitigam os maus efeitos das várias “Secas”...

A ilusão dos “milhões para os Agricultores” foi criada há muitos anos já. De facto, com demasiada frequência e ainda maior desfaçatez, sucessivos (des)governos e (des)governantes têm anunciado autênticas “chuvadas de milhões”, inicialmente em contos e, desde o início deste século, em centenas de milhões de euros.  E se assim acontecesse mesmo, cada Agricultor Português já teria recebido para cima de uma fortuna em ajudas públicas do Orçamento do Estado e do Orçamento da União Europeia o que infelizmente não aconteceu como é óbvio.

Ora, um dos maiores problemas dos nossos Agricultores e Agricultoras é que dessas propagandeadas “chuvadas de milhões” apenas chegam uns “pingos” ao terreno dos pequenos e médios Agricultores e nem sempre…  Vá lá, com algum significado mantém-se a ajuda anual da PAC ao “regime da pequena agricultura” mas, ao mesmo tempo, o Governo não inclui os respectivos beneficiários no acesso às ajudas “de crise” com a Seca e outros factores nocivos como são os custos especulativos de produção.  E o Governo também não faz arrancar com orçamento compatível, o “Estatuto da Agricultura Familiar”.  Ou seja, afinal onde pára – quanto sai de facto e quem o recebe ? – o dinheiro público em princípio  destinado à Agricultura Nacional ?  Pois do que se sabe e feitas as contas, 95% do total dessas verbas acaba no bolso de menos de 5% dos (grandes…) beneficiários:– os maiores entre os maiores proprietários, a grande agro-indústria e o grande agro-negócio !

Desta forma não é mitigada a “sede” da necessidade real produzida que pelas (más) políticas agrícolas e de mercados. Com a PAC, Política Agrícola Comum, à frente da horda de políticas concretas, invasoras do território e da produção nacionais e, em consequência, delapidadoras, até à ruína em larga escala, dos rendimentos da maioria das explorações agro-rurais.

É pois manipuladora a insistência governamental nos anúncios das “chuvadas dos milhões” onde repetem e repetem as “promessas milhionárias” como se de um disco riscado (um velho vinil) se tratasse…  Ora, isso também instila um outro efeito perverso na opinião pública que, devido à “intoxicação” de que é alvo, se convence que os Agricultores são uma cambada de “manholas” e oportunistas pois fartam-se de receber “subsídios” públicos por tudo e por nada e ainda se queixam e até protestam… Uns ingratos, portanto!

Aliás a “estória” volta a acontecer neste preciso momento prenhe de dificuldades reais e em que é necessário que o governo e a União Europeia passem das “promessas” aos actos e façam chegar ajudas de facto excepcionais a quem delas muito precisa para poder continuar a produzir !

No meio das dificuldades gerais, Apicultura é injusta e perigosamente discriminada! Governo e União Europeia não querem valorizar a importância vital das Abelhas…

Ao que julgo saber, no nosso País, há mais de 12 mil Apicultores (ou criadores de Abelhas) para cerca de 800 mil Colmeias e Cortiços com “Declaração” de actividade entregue na DGAV, Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária.  E haverá muitos mais ainda sem essa “Declaração” devidamente apresentada.  Portanto, há muita Gente envolvida e a trabalhar para manter o de longe maior efectivo pecuário a produzir! O das Abelhas para aí com uns 40 mil milhões de animaizinhos com asinhas bem organizados nos seus enxames !

Porém, e até custa a acreditar em tamanha insensibilidade e injustiça relativa praticadas pelo Governo e pela União Europeia, o facto é que a Apicultura fica de fora (por não estar incluída) do acesso a Ajudas “normais” da PAC para a Pecuária.  Enfim, à excepção de uma ajuda, embora por vezes desajustada, aos medicamentos contra doenças e parasitas das Abelhas no âmbito de um tal “PAN – Programa Apícola Nacional”.

Os Apicultores, tal como em geral aconteceu aos Agricultores e em especial aos Produtores Pecuários, tiveram que ultrapassar os Incêndios de 2017, e este ano há mais e graves, tiveram que aguentar com a Pandemia (mais de dois anos) e estão a passar pelos desastrosos efeitos da Seca Extrema e Severa a que se juntam os elevadíssimos custos de produção em que sobressai o custo da Alimentação comprada, no caso para dar às Abelhas (suplemento).  Ainda por cima, e quando a ”cresta” (retirada do Mel das Colmeias) se aproxima do fim, constata-se uma enorme redução dos níveis de Produção de Mel com a Vespa Velutina (Asiática) a continuar a dizimar as Abelhas !  Sim, para os Apicultores e para as Abelhas, a situação está ao nível do desastre bíblico das “dez pragas do Egipto” e (para já) sem haver quem os “salve” !…

De nossa parte e da CNA enquanto confederação de Agricultores, não se desiste de apresentar ao Ministério da Agricultura, ao Governo e demais Órgãos de Soberania as principais reclamações do Sector Agro-Rural, incluindo Ajudas excepcionais também para a Apicultura.  Lamentavelmente, o Governo e a União Europeia tardam em valorizar que, para além da produção de Mel, essa preciosidade alimentar, as Abelhas prestam um inestimável “serviço público” ao assegurarem a tarefa vitalmente indispensável da Polinização.  Também por isso, os seus “criadores” – os Apicultores –  merecem  uma ajuda excepcional e específica.  É pois necessário acudir aos Apicultores !   Salvemos as Abelhas !  Sim, à vida !

João Dinis

Cidadão rural e pequeno produtor florestal

O processo em curso da “caça” ao Lítio já segue com “caça” a fundos públicos… – João Dinis


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