As chuvas que desde setembro se registam em várias ilhas de Cabo Verde estão a animar os agricultores, e o Ministério da Agricultura já admite um bom ano agrícola, após praticamente quatro anos de seca.
“Estamos perante um ano agrícola bom a razoável. Temos boas perspetivas em relação à produção de pasto, grãos, gestão sanitária de culturas e pecuária”, afirmou o ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, ao fazer o balanço da evolução da campanha agrícola, no interior de Santiago, ilha em que a chuva tem caído com regularidade nas últimas semanas, à semelhança da generalidade do arquipélago.
De acordo com o governante, após ouvir os técnicos daquele ministério na terça-feira, de forma geral, em matéria de produção de grãos, como milho e feijão, a situação já está garantida em zonas de altitude, mas ainda é preciso mais chuva nas zonas mais baixas, para permitir que a produção termine o seu ciclo.
Relativamente à produção de pasto, apontou, verifica-se uma produção normal a excedentária e, sobre a ocorrência de pragas, a situação é mais favorável face a anos anteriores, devido a medida de controlo adotadas nos últimos anos.
“Durante todos esses anos tivemos a capacidade de produzir e libertar inimigos naturais da lagarta do cartucho do milho, entretanto precisamos aprimorar e reforçar no sentido de produzir ainda mais”, reconheceu Gilberto Silva.
As autoridades cabo-verdianas já tinham avançado em julho passado que esperavam que a campanha agrícola 2022/2023 fosse a mais chuvosa dos últimos cinco anos, com as previsões meteorológicas a não descartarem a ocorrência de eventos extremos
“Todas as previsões e mesmo o que se vê (…), e o clima também, [estão] a mostrar que este ano poderá ser um ano melhor, pelo menos dos cinco últimos anos”, afirmou em 11 de julho a diretora-geral da Agricultura, Silvicultura e Pecuária de Cabo Verde, Eneida Rodrigues, durante a apresentação das medidas de preparação desta campanha agrícola.
Há praticamente quatro anos que Cabo Verde vive uma forte seca, o que tem vindo a condicionar a atividade agrícola em quase todo o arquipélago, cenário que o regresso da chuva pode ajudar a reverter nos próximos meses.
“Esperamos que sim. Tudo aponta para um ano, em termos pluviométricos, melhor que o ano passado”, reforçou a responsável, baseando-se nas mais recentes previsões meteorológicas das autoridades nacionais e internacionais.
Acrescentou que “em geral, para todo o arquipélago, a previsão nacional e a do consenso apontam para probabilidades de chuvas normais com tendência a excedentárias” até agosto, “e chuvas normais ou em torno da normal climatológica” para o trimestre seguinte.
“É importante realçar que esta previsão não descarta a probabilidade de ocorrência de eventos extremos, como chuvas intensas, depressões tropicais, ventos fortes e agitação marítima, que podem atingir todo ou parte arquipélago, com intensidades variadas”, disse ainda a diretora-geral da Agricultura, Silvicultura e Pecuária.
Desde 2017 que o país tem enfrentado sucessivos anos de seca, com consequente redução da produção agropecuária e do rendimento das famílias, especialmente no meio rural, contribuindo também para a deterioração da segurança alimentar e nutricional das famílias e para a redução da disponibilidade da água para o abastecimento público e para a agricultura irrigada.
Anteriormente, durante uma reunião restrita do dispositivo regional de prevenção e gestão das crises alimentares no Sahel e na África Ocidental, o ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, avançou que dados recentes estimaram que cerca de 107 mil pessoas se encontravam sob pressão em termos alimentares e cerca de 30 mil em situação de insegurança alimentar em Cabo Verde.
Em fevereiro último, o Governo declarou situação de calamidade no país até 31 de outubro, devido aos maus resultados do ano agrícola, e anunciou medidas preventivas e especiais.
Para a campanha agrícola 2022/2023, nomeadamente no apoio aos produtores na aquisição de sementes ou com medidas já em curso de combate e controlo de pragas, entre outras, o orçamento do Ministério da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde ronda os 64,9 milhões de escudos (600 mil euros).