Preparar os castanheiros para a seca e para o calor é o objectivo dos investigadores da Faculdade de Ciências do Porto que lideram este consórcio, apoiado pela Fundação La Caixa com 250 mil euros.
Chegou há pouco uma caixa repleta de plantas ao laboratório da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). São castanheiros “bebés”, com folhas verdes e tenras, que vão começar a ser expostos a condições desagradáveis de humidade e temperatura. Parece cruel, mas este desconforto pode trazer vantagens. O objectivo é testar estratégias para tornar as futuras árvores mais tolerantes às alterações climáticas.
“O castanheiro vai ser exposto a um stress moderado, com o qual seja capaz de lidar, para que possa activar os seus mecanismos de defesa. No futuro, quando for exposto a uma situação mais agressiva, já vai estar preparado”, explica ao PÚBLICO Fernanda Fidalgo, professora da FCUP, cientista do Centro de Investigação em Produção Agro-alimentar Sustentável (GreenUPorto) e líder do consórcio que começou, esta semana, a trabalhar no novo projecto.
Esta investigação para dotar os castanheiros de resiliência climática foi distinguida, com uma bolsa de 250 mil euros, pelo programa Promove da Fundação La Caixa, em parceria com a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e o banco BPI. “Já tínhamos tentado dois outros [financiamentos], mas ficávamos sempre de fora por muito pouco”, conta Cristiano Soares, investigador da GreenUPorto. À terceira tentativa, foi mesmo de vez.
O que fazemos é dizer às plantas: olha, estão aqui condições para que consigas preparar-te para quando vier um stress a sério e, assim, saberem responder mais prontamente. Alertamos a planta para que ela se lembre como melhor responder num futuro mais difícil
Cristiano Soares
Criar uma memória vegetal
O projecto liderado pela FCUP tem duração de três anos. A primeira etapa consiste em compreender melhor, ao nível bioquímico, os efeitos da falta de água e do calor na resposta fisiológica dos castanheiros. Para isso, os cientistas vão estudar o comportamento das mudas de castanheiros em câmaras de crescimento. As condições desagradáveis a que vão ser expostas prometem “vacinar” as plantas para futuros eventos climáticos extremos.
“Não vamos introduzir nas plantas nenhum organismo, nenhum vírus adormecido – não é esse o objectivo. O que fazemos é dizer às plantas: olha, estão aqui condições para que consigas preparar-te para quando vier um stress a sério e, assim, saberem responder mais prontamente. Alertamos a planta para que ela se lembre como melhor responder num futuro mais difícil”, explica Cristiano Soares.
O investigador recorre à personificação das plantas para transmitir melhor a mensagem de como funciona a “vacina” anti-stress para as plantas. Quando somos vacinados, o corpo humano é exposto a fragmentos virais que desencadearão uma resposta imunológica. Mais tarde, se entramos em contacto com o vírus, o organismo já possui uma memória imunológica que o prepara para reagir. Do mesmo modo, aquilo que este projecto pretende é criar uma memória vegetal que ajude os castanheiros a singrar em tempos de crise climática. […]