A frase mais ouvida é “se fosse hoje ainda seria pior…”. Ninguém sabe: muito mudou, demasiado ficou na mesma, e a dor, essa então mal se mexeu. Para muitos, um luto destes nunca se alivia. Há, no entanto, santos, muitos de fora, que vão fazendo milagres.
Logo na A13 começa a sentir-se um aperto. A garganta lembra-se da secura amarga do fumo que se estendia por quilómetros naqueles dias de junho de 2017. Chegados ao IC8, ainda há restos de troncos esguios como fósforos ardidos gigantes, mas o verde gera um cerco de alívio e, surpresa… cheira profundamente a eucalipto.
As árvores estão demasiado próximas e, na barragem de Cabril, a água está demasiado baixa. “Os helicópteros de combate aos fogos ainda conseguem encher, agora os aviões que queiram reabastecer já tenho muitas dúvidas”, avalia Paulo, bombeiro em Pedrógão Grande, em 2017, e hoje sapador.
O SIRESP já funciona
Dentro do carro, uma voz debita letras e números em código pelo rádio – é o famoso SIRESP.
Paulo trocou o vermelho do carro dos bombeiros pelo amarelo resplandecente do veículo do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas. “Agora fazemos vigilância, alertamos quando há fumo, e se for no nosso concelho, fazemos o primeiro combate”, conta no cimo de uma serra, ao lado da nacional 236 que ninguém quer chamar, mas todos ainda lembram como “estrada da morte”.
Como todos os que ainda estão ou que já passaram pela corporação de bombeiros de Pedrógão Grande, é tempo de silêncio absoluto sobre o que aconteceu há cinco anos e que continuam em julgamento, mas não se proibiram as previsões “com esta seca, o mato que continua por limpar e este calor abafado, este ano ainda está pior”.
Para a saúde e para a doença, para a chuva e para os incêndios
“Cada vez que cortam um eucalipto, nascem logo ali mais cinco”, constata Abílio, um dos dois habitantes da Rua dos Mendes, em Ervideira. “Aqueles ali mais claros e mais pequenos são os novos, foram cortados os pais e já estão daquele tamanho.”
Quando casou com Virgínia nunca imaginou a quantidade de grandes incêndios a que haveriam de sobreviver juntos. Atropelam-se nas datas e nos detalhes, mas Virgínia, que é quem tem mais saúde para manobrar a máquina que limpa as bermas de estrada, remata sem espaço a mais discussões: “Este de há cinco anos foi o pior, aquilo não havia nada a fazer. Se os bombeiros tivessem cá vindo tinham cá ficado.”
Salvaram-se com muita sorte e alguma água do poço e do tanque, os mesmos que garantem uma boa redoma de […]