CoLAB FeedInov arranca com 1,6 milhões para inovar na alimentação do sector pecurário

Em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, Ana Sofia Santos, diretora geral deste laboratório colaborativo do sector agroalimentar nacional, explica que um dos objetivos é fomentar a produção de rações animais a partir de fava, tremoço, insetos e microalgas, para substituir as importações de soja. O objetivo é reforçar a sustentabilidade, a neutralidade carbónica e a redução de importações para a alimentação animal do sector pecuário em Portugal.

O FeedInov é um dos cinco laboratórios colaborativos existentes em Portugal no setor agroalimentar. Um dos principais objetivos de atuação desta instituição para 2021 é o arranque da atividade do CoLAB FeedInov, para o qual a sua diretora geral, Ana Sofia Santos, já garantiu uma verba de 1,6 milhões de euros, esperando duplicar essa verba com outras fontes de financiamento durante os próximos cinco anos.

Como ponto de partida para os próximos cinco anos, o FeedInov terá 1,6 milhões de euros – entre capital publico e privado – mas estima conseguir a captação externa de valor igual ou superior, através de serviços empresariais prestados ao mercado, para reforçar a sustentabilidade, a neutralidade carbónica e a redução de importações para a alimentação animal do sector pecuário em Portugal.

No âmbito desta missão, está previsto que o CoLAB FeedInov crie 12 a 15 postos de trabalho altamente qualificados nas áreas da ciência animal, mas também das tecnologias inteligentes, visando o desenvolvimento da zootecnia 4.0, já em curso em Portugal.

Uma das causas que a Ana Sofia Santos defende é que se deve estudar a implementação de benefícios, não apenas fiscais, para os sistemas alimentares que contribuem para a neutralidade carbónica, ao invés de taxar os que agravam.

E um dos objetivos do CoLAB é reduzir a dependência externa portuguesa de cereais para rações. Atualmente, 80% das matérias-primas usadas para produzir são importadas. Recorde-se que as rações são o maior custo de produção da pecuária, entre 60 e 80%.

Estima-se que o reforço da colaboração institucional permitida pela existência do CoLAB FeedInov aumente a competitividade de Portugal face a outros Estados-Membros da União Europeia e na captação de financiamento competitivo a nível nacional e internacional para aplicar em investigação nestas áreas.

No primeiro ano de atividade do CoLAB FeedInov, ou seja, o presente ano de 2021, estás previsto que esta estrutura implementa diversas atividades-chave com um orçamento previsto de meio milhão de euros, desde estudos prospetivos do consumo de produtos de origem animal em 2030, 2040 e 2050 para orientar a ação da produção; e o estudo de substâncias naturais substitutas dos antibióticos, com vista à redução do uso destes na pecuária, contribuindo para a redução das resistências antimicrobianas nos humanos.

Está igualmente previsto o estudo de ingredientes alternativos aos usados atualmente na alimentação animal e que são maioritariamente importados, como é o caso da soja. Os ingredientes alternativos a estudar são, entre outros, insetos, microalgas e proteaginosas que são endémicas em Portugal, como a fava ou o tremoço, por exemplo, em variantes não adequadas ao consumo humano.

Ações de formação e ‘workshops’ regulares para disseminar o conhecimento entre os produtores, de acordo com as novas exigências das políticas europeias e das necessidades dos consumidores; o investimento no desenvolvimento de sistemas inteligentes para aumentar a eficiência da alimentação de precisão, o que reduz a utilização de recursos (água, por exemplo); e a aposta na comunicação e ‘marketing’ como uma atividade-chave do setor são outras missões do CoLAB FeedInov.

Esta última ação vai concretizar-se em duas vertentes: transmissão do conhecimento aos agricultores para apoio à tomada de decisão; e comunicação da ‘ciência agrícola’ à comunidade, desfazendo mitos e desinformação. Por exemplo, vários estudos já chegaram à conclusão que consumir uma quantidade reduzida de carne é mais benéfico para os solos do que eliminar completamente o seu consumo).

Entre as ações concretas de curto prazo, está programada a contratação de diversos recursos humanos, entre os quais cinco mestres em áreas de atuação do FeedInov – saúde e segurança alimentar, coprodutos e matérias primas alternativas, engenharia e tecnologia, competitividade e sustentabilidade, um diretor para a ciência e um técnico de comunicação, entre outros.

Ana Sofia Santos planeia ainda fazer ‘lobby’ para integrar consórcios internacionais com vista à candidatura a projetos europeus, nomeadamente no ‘H2020 GreenDeal’, a decorrer até janeiro de 2021, além do diagnóstico das necessidades de informação do setor com base em trabalho de campo nas fábricas.

O CoLAB FeedInov irá também elaborar três documentos técnicos – guias, códigos de boas práticas e manuais – para disseminar informação acerca da legislação em vigor e para alargar o âmbito de conhecimento dos agentes do setor, ao mesmo tempo que irá detalhar o portefólio de serviços a serem prestados ao mercado nas áreas de ensaios experimentais, análises laboratoriais e consultoria e formação, dentro e fora do consórcio.

Os resultados esperados destas ações do CoLAB FeedInov são a disponibilização de serviços técnicos de investigação e desenvolvimento em toda a cadeia de produção de alimentos para animais e na sua integração em sistemas de produção agrícola; o aumento da competitividade das empresas e uma maior notoriedade do setor e dos seus produtos com valorização e diferenciação do produto final no mercado nacional e internacional; e a criação de emprego qualificado e científico orientado para a inovação, nomeadamente através da formação avançada de recursos de I&D, MsD, PhD, e pós- Phd, com base em protocolos de cooperação, formação de técnicos, gestores e produtores, estágios técnico-profissionais, universitários e de investigação.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, Ana Sofia Santos explica e detalha as tarefas que o CoLAB FeedInov tem pela frente.

Qual o objetivo da criação do CoLAB FeedInov?
Um dos grandes objetivos é trabalhar para uma alimentação animal sustentável, promovendo assim a competitividade deste setor e, por conseguinte, a competitividade de toda a fileira da pecuária. Naturalmente, tal situação irá estimular a criação de emprego altamente qualificado e gera um aumento do retorno económico e social. Tendo este objetivo, o FeedInov teria de ser e é, efetivamente, uma infraestrutura de ‘interface’ entre a comunidade industrial e as entidades de investigação e desenvolvimento (I&D). Este CoLAB é constituído por 18 parceiros entre os quais se encontra uma associação empresarial, três universidades, dois laboratórios associados, um instituto de investigação e onze empresas, todos focados na promoção da inovação, na difusão de tecnologia e criação/crescimento de novos negócios associados aos sectores de indústria da alimentação animal e da pecuária.

A combinação única de conhecimento e experiência em sistemas de produção e em nutrição e alimentação animal com tecnologias emergentes é o eixo principal deste CoLAB. A relação de proximidade entre os nossos parceiros de I&D com a indústria é uma das nossas maiores mais-valias, uma vez que conseguimos, unindo sinergias, ter capacidade única de Investigação Desenvolvimento e Inovação (I&D&I) na área da produção animal e, assim, inovar e disseminar soluções multidisciplinares para enfrentar os desafios atuais e futuros do setor. Aliás, perceber quais as tendências que orientam o futuro deste sector é um dos nossos objetivos mais operacionais. Com a realização de estudos prospetivos que nos ajudarão a perceber como estará o consumo de alimentos de origem animal em 2030, 2040 e 2050, conseguiremos ter uma ideia do que o futuro nos reserva ao nível do consumidor.

De referir, ainda, um terceiro grande objetivo estratégico, o de aumentar sistematicamente a segurança ao longo da cadeia alimentar nos produtos de origem animal, aumentando, também, a confiança do consumidor na produção nacional e o papel da

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