As organizações que representam o comércio e indústria alimentar alertaram hoje que a greve na Silopor “volta a ameaçar” o abastecimento alimentar, culpando um despacho de Alexandra Reis pela paralisação, segundo um comunicado.
Na mesma nota, as entidades recordaram que “os trabalhadores da Silopor – Empresa de Silos Portuários, S.A. estão em greve à prestação de trabalho em horas extraordinárias até final de fevereiro”, acrescentando que “a situação afeta os setores da produção de pão, alimentos compostos para animais, suinicultura e avicultura”.
“O facto de acontecer na sequência da greve dos trabalhadores das administrações portuárias agrava o acesso da fileira agroalimentar a matérias-primas essenciais para a produção de leite, pão, carne e ovos”, avisaram, destacando que “as instituições representativas destes setores preconizam um novo aumento de preços e a rutura pontual do abastecimento destes produtos em alguns locais de venda”.
As associações ACICO (Associação Nacional de Armazenistas, Comerciantes e Importadores de Cereais e Oleaginosas), APIM (Associação Portuguesa da Indústria de Moagem), IACA (Associação Portuguesa dos Industriais dos Alimentos Compostos para Animais), FEPASA (Federação Portuguesa das Associações Avícolas) e FPAS (Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores) disseram, ainda, que “esta greve tem origem numa decisão da ex-secretária de Estado [do Tesouro], Alexandra Reis, que colocou em vigor um despacho que impede o aumento dos trabalhadores das empresas de capitais públicos em liquidação, situação em que se encontra a Silopor há mais de vinte anos”.
Segundo estas entidades, “a revogação da medida em causa representa”, um impacto “de, sensivelmente, 7.000 euros por mês”.
“A greve em curso desde o início do mês já está a provocar atrasos na descarga de grandes navios de cereais importados, dos quais Portugal depende em mais de 80% para o abastecimento da sua indústria para a alimentação humana e animal. O impacto para os importadores é de cerca de 50.000 euros por cada dia de atraso” alertaram.
De acordo com as associações, no porto da Trafaria, “o único terminal do país preparado para a descarga e armazenagem das matérias-primas transportadas por grandes navios cerealíferos” os ritmos de descarga diários “passaram de 11.000 toneladas por dia para 5.000 toneladas”.
“Esta situação tem o potencial de afetar a entrega de produtos básicos à população dado que, em condições regulares, a zona abastecida por este terminal compreende indústrias de alimentos compostos e pecuária que representam um consumo de, sensivelmente, 9.000 toneladas por dia em cereais forrageiros”, avisaram as organizações.
Esta greve ameaça, realçaram não só uma “potencial rutura no abastecimento e do previsível encarecimento dos produtos”, mas também “provocar prejuízos na ordem dos três milhões de euros aos operadores económicos devido aos atrasos na descarga”.
“Estes custos inflacionados refletir-se-ão, necessariamente, ao longo da fileira, até ao consumidor final”, afirmou Jaime Piçarra, secretário-geral da IACA, citado na mesma nota.