Com 61% dos estados contíguos dos Estados Unidos da América em seca, não seria agradável se pudéssemos “fazer chover” ou simplesmente “fazer mais neve”?
Bem, algumas zonas do país estão a fazer exatamente isso, em certa parte. Chama-se inseminação de nuvens, e não é nada de novo. Existe desde os anos 40 e vários países têm-no feito por diversas razões (sobretudo a China), mas é uma prática crescente nos EUA, especialmente no Ocidente ameaçado pela seca.
E é um tópico rodeado de controvérsia.
Conversámos com Julie Gondzar, a gestora do Programa de Modificação Climática do Wyoming, que admite receber muitas chamadas em relação ao que estão a fazer.
Gondzar conta que algumas pessoas alegam que “estão a tentar fazer o papel de Deus”, outros que dizem “estão a roubar a humidade da tempestade”, fazendo com que outras áreas fiquem mais secas do que normalmente estariam, como se estivessem a tirar de um lado para pôr no outro.
Há também fatores ambientais a considerar, bem como a relação custo-eficácia, visto que no Ocidente, hoje em dia, a água é ouro líquido.
“Em poucas palavras: pensem nisto como se fosse um armazenamento de água, mas durante o inverno, no topo das montanhas”, foi como Gondzar descreveu o que a inseminação de nuvens está a tentar realizar no seu estado.
Wyoming iniciou este processo em 2003 como parte de um estudo. Deste modo, há dois anos, começaram a fazê-lo oficialmente depois do seu estudo de dez anos ter comprovado a sua eficácia.
Consequentemente, durante esta época, o Programa de Modificação Climática do Wyoming já fez 28 missões de voo para efetuar a inseminação de nuvens no estado norte americano.
O avião bimotor King Air que é utilizado para a inseminação de nuvens.
Quando se compara Wyoming a outros estados como Utah e Dakota do Norte, que têm vindo a inseminar nuvens desde os anos 70 e 80, o estado é relativamente novo nesta prática.
A inseminação de nuvens utiliza uma nuvem já existente e injeta-a com iodeto de prata, o que adiciona pequenas partículas chamadas núcleos de gelo (que a água precisa para congelar). Em termos básicos, as nuvens são uma aglomeração de gotículas de água e/ou gelo cristalino que flutuam no céu.
Os núcleos ajudam a nuvem a produzir precipitação, e, por sua vez, os núcleos de gelo artificiais ajudam a criar mais precipitação do que a nuvem produziria caso contrário.
Pode ser feito de duas maneiras: uma a partir do céu, com iodeto de prata, e a outra do chão.
“Os geradores terrestres assemelham-se a pequenas estações meteorológicas, têm cerca de seis mil metros, e emitem aerossóis para a atmosfera”, explicou Gondzar. “Mas é necessário esperar pelas condições atmosféricas adequadas para que a penachoeira atravesse a cordilheira”. Isto torna a inseminação um pouco mais complicada, pois se o vento estiver a soprar na direção errada, falhará completamente o seu alvo.
No entanto, a forma mais popular é por avião, utilizando foguetes. “São colocados foguetes na asa e na barriga dos aviões com iodeto de prata no interior de caixas de cartão”, apontou Gondzar.Esta fotografia mostra os foguetes colocados na asa do avião que alberga o iodeto de prata utilizado para a inseminação de nuvens.
Depois de o piloto voar em direção da tempestade, incendeiam-se as caixas de cartão cheias de iodeto de prata e “inseminam” as nuvens. O que resulta em mais humidade na nuvem, e, por conseguinte, mais precipitação.
O iodeto de prata é “é um componente salino natural”, salienta Gondzar. “A razão pela qual é utilizado é porque a forma geométrica reduzida a um nível molecular é muito semelhante à de um cristal de gelo. Sem esse fator fundamental, não é possível criar cristais de gelo adicionais, que se acumularão então em flocos de neve”.
Mas, se acham que podemos pôr um fim à seca através do uso de aviões para modificar questões climáticas, estão muito enganados, diz Gondzar.
Está a funcionar?
“A inseminação de nuvens não vai resolver a seca”, comentou Gondzar. “Não podemos acabar com a seca através da inseminação. É uma ferramenta dentro de uma caixa cheia de outras ferramentas.”
Gondzar admitiu que, embora eles saibam que o método faz mais neve do que de outra forma obteriam, é difícil saber com precisão quanto mais é que estão a conseguir.
“Há evidências disso no radar e em todo o tipo de artigos escritos”, observou Gondzar. “A questão que eles estão a tentar responder agora é: até que ponto funciona bem? E essa é uma pergunta complicada de se responder. Porque há uma parte abstrata nisto. Não há realmente maneira de saber quanta neve um determinado sistema […]