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Comunidade neerlandesa apreensiva com o futuro da produção de leite em Portugal

Após a adesão de Portugal à União Europeia, uma importante comunidade dos Países Baixos veio para Portugal produzir leite, instalando-se essencialmente na região do Alentejo, onde havia área disponível. Nos últimos anos, alguns já deixaram o nosso país, mas existem ainda mais de 30 vacarias na mão de famílias com ascendência holandesa e que representam uma percentagem significativa no leite produzido em Portugal continental. São na sua maioria empresas agrícolas familiares de média e grande dimensão, com muitos postos de trabalho e que adquirem muitos serviços locais nas zonas onde se encontram.

Em Portugal continua-se a praticar um dos preços do leite mais baixos a nível europeu e os ajustes de preço são mais pequenos e vêm muito mais tarde do que nos Países Baixos, país de origem destas famílias e referência no que respeita à produção de leite na Europa.  Com o conhecimento de que o preço do leite tem sido ajustado à produção todos os meses nos Países Baixos, sendo o preço de referência para maio de 52,5 cêntimos/kg leite na Friesland Campina, o que representa uma diferença superior a 10 cêntimos para o valor médio pago em Portugal continental aos produtores. Isto aumenta o sentimento de revolta entre os produtores, pois os custos de rações, gasóleo, eletricidade e adubos são quase os mesmos em Portugal e nos Países Baixos.

No sentido de sensibilizar e informar sobre as enormes dificuldades que o sector atravessa em Portugal, a maioria destes produtores de leite decidiu enviar uma carta à Embaixada do Países Baixos em Portugal. Nessa carta foram explicados os enormes aumentos de custos a que todos os produtores têm estado sujeitos já desde o ano passado, agora com a agravante da guerra e a falta de valor que o produto tem na chegada ao consumidor, existindo uma dificuldade negocial enorme entre Produção, Indústria e Distribuição, e não existindo um pagamento justo para o leite ao produtor.

Em resposta a este apelo dos produtores holandeses, as responsáveis pelo sector agrícola das embaixadas da Holanda na Península Ibérica, Paula Geadas (Portugal) e Nina Berendsen (Espanha) visitaram a vacaria da família Pronk & Derks, no concelho de Odemira, no dia 3 de maio, estando também presente Maaike Smits, representado a APROLEP. O objetivo foi mostrar “in situ” a Produção Nacional, expor de uma forma pessoal as preocupações do sector e pedir a intervenção e sensibilização do Ministério da Agricultura português por parte da Embaixada. Foi também feita referência à dificuldade de produção de forragens para os animais na zona de Odemira devido à seca e da enorme quantidade de exigências de rastreabilidade e investimento em bem-estar animal que as vacarias satisfazem com distinção hoje em dia, mas sem a correspondente valorização no pagamento do leite produzido.

Também ainda inserido na agenda de visitas, no dia 4 de maio, as representantes visitaram a vacaria de Sjaak Brouwer e Mirjam Buil, em Elvas, onde são produzidos os iogurtes artesanais “DaVaca”. Mais uma vez aqui também foram expostas as dificuldades que todo o sector atravessa e também apontada a necessidade de um bom marketing e constante inovação na transformação de produtos para apelar aos consumidores. Também aqui a discussão incidiu sobre os baixos preços nos hipermercados, pois existe uma constante utilização do leite como produto de baixo preço, usado como “chamariz” por todas as cadeias de supermercados, sendo este mais um fator que contribui para a impossibilidade de os produtores receberem um preço justo. Infelizmente o mercado não funciona de modo favorável para os produtores em Portugal, porque globalmente o produto tem sido constantemente mais valorizado e por cá continua-se na cauda da Europa. É impreterível que se instale um mecanismo que assegure que o preço do leite pago ao produtor reflita as flutuações dos custos de produção.

Se esta situação de preço baixo do leite ao produtor se mantiver em Portugal durante mais alguns meses há risco de fecharem mais vacarias e as novas gerações que pretendem continuar a produzir alimento por terras lusas não têm qualquer perspetiva de futuro.


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