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Conclusões do IX Congresso de Rega e Drenagem

O IX Congresso de Rega e Drenagem, realizado nos passados dias 18 a 20 de outubro, no Instituto Politécnico de Beja, teve como tema A sustentabilidade do regadio: desafios e oportunidades, com quatro sessões assentes nos 4E: Eficiência, Energia, Economia e Ecologia. A tecnologia é essencial para sobrevivência das organizações e das empresas. A digitalização (dos sensores, IoT e rede 5G, até processamento de imagens e análise de dados), são exemplos de ferramentas essências para o aumento da produtividade e da eficiência (e da compatibilização e incremento de sinergias entre a agricultura e o ambiente). Apresentado um exemplo da duplicação da produção, nos últimos 20 anos, com a mesma dotação de água rega. Os efeitos das alterações climáticas vão causar o aumento de 16% a 27% das necessidades de rega das culturas nos aproveitamentos hidroagrícolas (AH), nas próximas décadas. A produção no regadio coletivo é estimada em 1 242 M€, equivalente a cerca de um quarto do valor da produção vegetal. Salientada a importância do investimento na capacidade de armazenamento das disponibilidades hídricas, para enfrentar os efeitos das alterações climáticas e foi referido como uma questão central para a competitividade da agricultura nacional.

Os agricultores e os AH têm de caminhar para uma maior independência energética, como forma de reduzir os custos e a pegada ecológica. As comunidades de energia são um caminho a seguir, assim como a produção de energia a partir da biomassa proveniente de subprodutos agrícolas. A EDIA já produz 16% da energia elétrica que consume, através de mini-hídricas e de outras fontes de energia renováveis, e pretende ser 100% autónoma no consumo de energia.

Abordado o caso dos migrantes em Odemira. É uma questão mais ampla do que o local e que deve, inclusive, ser abordada a nível da União Europeia. Apresentado o mapeamento da cadeia de valor do trabalhador migrante, que é altamente rentável, nalguns pontos sujeita à sua captura por redes ilegais. Portugal deve promover a integração cultural, nos dois sentidos e as empresas devem pensar a longo prazo e promoverem a autorregulação.

O regadio é crucial para a viabilidade económica de várias culturas, tem também um impacte indireto noutras atividades económicas e sociais, e um grande impacto nas exportações (e.g. em 8 000 ha de regadio no AH do Mira são produzidas 15% das exportações nacionais de frutas e legumes). Apesar da superfície irrigável representar cerca de 16% da superfície agrícola utilizável, o regadio está presente em 46% das explorações agrícolas, o que ilustra a sua importância para a viabilidade de alguns sistemas predominantemente de sequeiro. O regadio tem tido um efeito positivo em Odemira também a nível social: crescimento demográfico e rejuvenescimento no concelho; cerca de 50% dos formandos da Escola Profissional ficam no concelho; e cerca de 15% dos trabalhadores instalados no concelho, são pessoas altamente qualificadas provenientes de outros locais do País.

A variabilidade interanula das disponibilidades hídricas, tem desafios acrescidos em anos de maior escassez de água. As culturas anuais funcionam como amortecedores em anos de maior escassez. O escalonamento tarifário da água pode incentivar o uso mais eficiente da água, mas é preciso ter em atenção as dotações de referência para cada tipo de cultura.

É necessário investir nas águas de origem artificial: águas para reutilização (ApR) e na dessalinização da água do mar. Portugal tem um baixo nível de tratamento de água residuais (apenas 1,1% contra 10% em Espanha), devendo também legislar-se para se criar um modelo económico para as ApR. Poderá ser estimulada a utilização de uma determinada percentagem de água dessalinizada na água de rega, mesmo com custos mais elevados, que poderão representar 1% a 2% do volume de vendas, mas ter um retorno positivo.

Reforçada a necessidade de medição dos usos e consumo de água, assim como rastreamento do uso da água. Mas, é preciso ter me atenção que para determinados tipos de regadio e de contextos tem de se encontrar diferentes metodologias de medição. Cerca de metade dos investimentos apresentados no Estudo «Regadio 20|30», são para a reabilitação de perímetros de rega antigos, nomeadamente ao nível da redução dos custos energéticos e das perdas de água. Os açudes têm benefícios para a rega e para alguma fauna, e perturbam muito pouco a vida aquática (e.g. são infraestruturas que permitem o fluxo de peixes).

Apresentados os benefícios, para o ambiente e para a agricultura, das infraestruturas ecológicas (IE) verdes-azuis. É preciso identificar que serviços regulatórios é que prestam e a qual é o nível mínimo que deve ser assegurado para não perderem a sua função. A IE devem ser complexas e com água; deveríamos ter 15% a 20% da área com IE; e a gestão da vegetação é importante. Um exemplo do seu valor: os serviços de predação (de pragas), pode aumentar cerca de 55% na proximidade de IE arbóreas.

A concluir, a homenagem sentida ao Eng.º João Campelo. Testemunhadas as suas competências técnicas e o seu carácter humano e capacidade de agregar vontades e encontrar soluções.

Fonte: APRH


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