fitosintese

Conclusões do trabalho da Comissão de Dados e Estatística da ANIPLA sobre indicadores relativos à estratégia “Do Prado ao Prato”

Entre 2011 e 2019 as vendas de substâncias activas cairam 30% (-42% em fungicidas).

Tomando como referência as áreas cultivadas de milho, tomate, arroz, vinha, pomóideas e prunóideas regista-se um decréscimo de 31% de substância activa aplicada por hectare cultivado, entre os anos de 2011 e de 2019.

O indicador da FAO “pesticide use per area of cropland” apresenta, para Portugal, uma queda de 37% entre 2011 e 2018. Esta queda é consistente ao longo dos últimos 5 anos.

A dose média de s.a. por hectare tratado, na totalidade do mercado nacional de produtos fitofarmacêuticos, baixou de 2,4 kg/ha em 2011 para 1,4 kg/ha em 2019, ou seja, cerca de 44%.

Estes indicadores são reveladores da evolução que têm tido os produtos fitofarmacêuticos, resultante do investimento em investigação e desenvolvimento da indústria, permitindo a colocação no mercado de moléculas mais eficientes e com um melhor perfil de utilização. É também resultado do trabalho da indústria na busca de soluções alternativas e complementares em vários âmbitos, como biotecnologia, biopesticidas e métodos auxiliares de observação, manutenção e diagnóstico.

Por outro lado, são também reveladores da evolução da tecnologia na protecção das culturas e de uma implementação responsável dos conceitos de Protecção Integrada. Técnicas de aplicação mais precisas e cirúrgicas, bem como decisões de intervenção mais ponderadas recorrendo, inclusivamente, a outros métodos de protecção fitossanitária, sejam físicos, biológicos ou culturais são factores decisivos para a evolução positiva que se observa. A evolução da agricultura de precisão tem contribuído de forma significativa para estes factos.

Há ainda que referir a importante contribuição do factor humano para estes indicadores. Os agricultores são hoje mais formados e informados do que eram. A responsabilização e o profissionalismo estão em constante evolução crescente, contribuindo de forma decisiva para uma utilização mais racional e sustentável dos recursos naturais e dos factores de produção, entre estes os produtos fitofarmacêuticos.

Vale a pena dar conta de um detalhe o qual, no entanto, faz toda a diferença quando se analisam os valores absolutos de substâncias activas utilizadas quer por hectare cultivado quer por hectare efectivamente tratado. Sendo Portugal um país de vinha, a cultura mais importante para o mercado de fitofármacos, acaba por ser um “país de enxofre”. De facto, esta substância activa, fungicida inorgânico, é largamente ultilizada nesta cultura e aplica-se em doses bastante mais elevadas do que a média dos fungicidas (e outros produtos) orgânicos ou de síntese. Por estas razões o volume de enxofre é, no conjunto da totalidade das substâncias activas, bastante elevado, representando 50%-55% do total. Se adicionarmos o cobre, um outro fungicida inorgânico, desta vez muito utilizado no olival e em fruteiras, contamos com mais cerca de 10% do total. Isto é, entre enxofre e cobre, duas substâncias inorgânicas (e, por sinal, autorizadas em modo de produção biológico), contamos com cerca de 65% do volume de produtos fitofarmacêuticos utilizados em Portugal. Ou seja cerca de dois terços. Portanto, se retirarmos estes dois fungicidas, a dose média por hectare cultivado ou por hectare efectivamente tratado reduz-se a um terço.

Este facto é particularmente importante quando comparamos Portugal com outros países, em que a realidade é bem diferente. O enxofre e o cobre podem distorcer os dados de forma significativa, levando perigosamente a conclusões díspares da realidade. A particular situação de Portugal na utilização em grande volume de enxofre e cobre, aconselha a que não se contabilizem estas substâncias sempre que colocamos em comparação os nossos dados com os de outros países.

Artigo publicado originalmente em FitoSintese.


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