“Neste Dia de Portugal, presto a minha homenagem a todos os nossos agricultores que, pelo seu esforço, pelo seu mérito, pelo seu espírito de iniciativa, souberam adaptar-se às exigências de um mercado altamente competitivo, concorrendo com países de grande dimensão, dotados de mais maquinaria e tecnologia, com solos mais férteis e com condições climatéricas mais favoráveis à exploração da terra. Os nossos agricultores bateram-se sem temor com os seus congéneres europeus, investiram na modernização das suas explorações e souberam fazer uma aposta certa em produtos de qualidade.” (Cavaco Silva, 10 de Junho de 2013)
O Presidente da República dedicou à agricultura 60% do seu discurso no passado 10 de Junho, o que parece ter incomodado muita gente apostada da narrativa do fim da agricultura portuguesa. Celebrando o Dia de Portugal em Elvas, no Alentejo, o Presidente, depois de valorizar também o património histórico, considerou oportuno “desfazer equívocos sobre a evolução recente da nossa agricultura e reconhecer a sua importância estratégica”.
O discurso foi aplaudido por uns e criticado por outros que consideraram o tema despropositado ou insistiram na tese da destruição de agricultura por Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro. Pois eu achei muito bem que o nosso sector tantas vezes menosprezado e esquecido tenha sido destacado. Para compensar…
É certo, como lembrou uma confederação em comunicado de “resposta”, que a agricultura portuguesa não vive num oásis, mas também não é a desgraça completa que outras opiniões simplistas apregoam. Há problemas e limitações, algumas referidas no discurso, outras esquecidas, como a (des) valorização dos produtos agrícolas pela distribuição alimentar. Há outras estatísticas, menos positivas, que os críticos descobriram e sublinharam, mas ninguém contestou os números apresentados.
É injusto dizer que o Presidente apenas quis justificar-se: Ele foi Primeiro-ministro 10 anos e apresentou números da evolução nos últimos trinta anos, com governos PSD, PS e CDS. Certamente cometeu erros e não deu nessa altura a atenção à agricultura que dá hoje (nem Guterres, Barroso, Santana, Sócrates, Passos Coelho…) mas não há memória de um presidente após o 25 de Abril que tenha destacado tanto e tantas vezes a agricultura, tendo o mérito de arrastar a atenção dos média e dos comentadores. Desculpem, mas continuo a irritar-me quando dizem que a agricultura acabou. Que nos ignorem vá lá, agora teimar que não existimos, desvalorizar completamente a existência e o trabalho de milhares de agricultores portugueses, só para atacar o Presidente, não admito. Neste ponto específico, aplaudo o Presidente que defende a agricultura e espero que outros deixem de discutir quem fez bem ou mal há 20 anos e passem a discutir o importante: como vencer as dificuldades da agricultura actual e como preparar uma agricultura melhor para sustentar bem o Portugal do futuro.
Carlos Neves