A pandemia obrigou-nos a reajustar os nossos hábitos, as nossas prioridades e os nossos momentos de lazer. A expressão “não tenho tempo” não fez parte do nosso léxico desde que a pandemia nos assombrou. A obrigatoriedade de estarmos confinados e de reduzir as interações sociais obrigou-nos a repensar os nossos momentos de lazer.
Atualmente as famílias procuram passar os seus tempos livres (os passeios higiénicos) longe dos grandes aglomerados populacionais, privilegiando os espaços rurais – O CAMPO GANHA OUTRA IMPORTÂNCIA AOS OLHOS DA POPULAÇÃO, principalmente daqueles que vivem nos centros urbanos.
Nestes tempos de pandemia é comum, principalmente agora que o bom tempo nos visita, ver mais famílias a andar de bicicleta, correr ou caminhar nas ruas de acesso aos campos, nas ciclovias e nas aldeias.
Todos sabemos a importâncias que as atividades ao ar livre e o contato com a natureza têm benefícios para saúde e bem-estar. Os estudos comprovam que estar em contato com áreas naturais reduz a probabilidade de desenvolver ansiedade, depressão e stresse, além de prevenir doenças cardíacas.
Quando visitamos o campo, ninguém fica indiferente às searas verdes, ao chilrear dos pássaros, ao ar puro, à mistura de cores do Outono ou ao despontar das plantas na primavera.
Mas será que os passeios e caminhadas nos meios rurais evidenciou os serviços ecossistémicos prestados pelos agricultores?
Será que aqueles que atacam a agricultura e os agricultores perceberam agora que a terra é a mãe das nossas vidas e que somos os mais interessados em preservar os seus recursos?
Será que esta pandemia nos fez questionar do que seriam as cidades e as empresas urbanas sem o mundo rural e o setor primário?
O contributo do agricultor é imensurável: produz alimento, preserva a natureza, capta CO2, mantém as paisagens verdes, evita a propagação de incêndios…
Este ano em que decorrerão as eleições autárquicas, a agricultura terá espaço nos manifestos eleitorais dos nossos políticos? Será a agricultura uma prioridade nas agendas dos candidatos portugueses?
Os municípios valorizam a agricultura de forma contínua ou nestes tempos que antecedem as eleições lembram-se de visitar os agricultores para mera propaganda e campanha eleitoral?
Legalizar um negócio agrícola é fácil ou requer inúmeras burocracias e exigências?
É fundamental que a agricultura gere retorno económico, mas que reconheça também o seu papel social, ambiental e paisagístico. O nosso país tem feito um trabalho extraordinário em gerar valor e as marcas portuguesas têm ganho reforço e notoriedade internacional. Devemos ter orgulho do caminho percorrido.
Urge reafirmar o meio rural. As políticas agrícolas e o mundo rural não podem ser vistas como uma atividade própria, com uma economia própria, tem que ser analisada, repensada e perspetivada como uma extensão das zonas urbanas e das políticas ambientais, sociais e económicas nacionais. O setor primário é a base do setor secundário e terciário.
É crucial que as confederações, organizações, associações, indústrias e a própria distribuição estejam verdadeiramente comprometida com a produção.
É fundamental que a população e o poder político reconheçam e valorizem o trabalho daqueles que 365 dias por ano dão o melhor de si para que não faltem na mesa dos portugueses produtos frescos, ricos e nutritivos.
Vice–Presidente da APROLEP